Foto:Ed Keffel/Acervo Instituto Câmara Cascudo

FIZERAM HISTÓRIA 

Câmara Cascudo pensou alimentação no Brasil a partir da matriz indígena, africana e portuguesa

Autor de “A História da Alimentação no Brasil”, publicado em 1967, o historiador potiguar Luís da Câmara Cascudo foi um precursor do estudo do tema por essas bandas. Sobre alimentação, também escreveu “A cozinha africana no Brasil”, de 1964, e “Antologia da Alimentação no Brasil”, de 1977, entre outras obras que se tornaram referência para pesquisadores da alimentação e da cozinha brasileiras.

São leituras obrigatórias para quem quer saber mais sobre a formação do nosso paladar, modo de comer e de itens fundamentais para a mesa. “[Cascudo] coloca a alimentação e a cozinha no centro, temática que até o momento vinha sendo tratada de maneira secundária ou desprestigiada”, disse o antropólogo e professor da UFBA Vilson Caetano a Ecoa.

Foto: Arquivo pessoal

Nascido em 1898 em Natal (RN) — onde morreu em 1986 —, Cascudo foi folclorista e professor da Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Sua pesquisa foi influenciada por autores como Mário de Andrade (1893-1945), Gilberto Freyre (1900-1987) e Sílvio Romero (1851-1914). 

Foto: Instituto Câmara Cascudo

Em suas pesquisas etnográficas, viajou pelo sertão do Rio Grande do Norte em 1929 (na foto, à direita de Mário de Andrade), foi a Portugal em 1947 e visitou Angola, Guiné, Congo, São Tomé, Cabo Verde e Guiné-Bissau em 1963. Colheu nesses lugares informações que deram suporte a seus escritos sobre alimentação.

Foto: IEB-USP

Para Cascudo, assim como para outros intelectuais brasileiros do período que vai do final do século 19 à década de 1940, uma de suas preocupações principais era a questão da identidade nacional. Em “A História da Alimentação no Brasil”, o historiador mapeia as contribuições culinárias de três matrizes étnicas formadoras da sociedade brasileira: indígena, africana e portuguesa. 

Foto: Instituto Câmara Cascudo

Entre os elementos básicos da alimentação brasileira definidos por Cascudo, o principal talvez seja a mandioca, chamada por ele de “rainha do Brasil”. Matéria-prima para as farinhas e beijus dos indígenas, ela também passou a alimentar europeus e africanos recém-chegados, segundo cronistas dos primórdios da colonização. 

Foto:  Daniel Dan/Pexels

Herdamos do indígena as bases da nutrição popular, os complexos alimentares da mandioca, do milho, da batata e do feijão, decisivos na predileção cotidiana brasileira. ‘Acompanhantes’ indispensáveis. Ou constituindo, sozinhos, a refeição humilde.

Câmara Cascudo
Em “História da Alimentação no Brasil”

O feijão, outro alimento destacado pelo autor, compõe uma combinação que permanece com os brasileiros até hoje. Cascudo fala que o binômio feijão e farinha “governou o cardápio brasileiro desde a primeira metade do século 17". Embora o arroz com feijão prevaleça principalmente fora do Nordeste, o par ainda é uma variação desse binômio. 

Foto: Flavio Coelho/Getty Images

Cascudo comparou os padrões alimentares a acidentes geográficos — não se modificam de um dia para o outro e são fruto de uma formação longa e complexa. Preocupado com o aspecto popular e cultural da alimentação, escreveu que esperava “mostrar a antiguidade de certas predileções alimentares que os séculos fizeram hábitos, explicáveis como uma norma de uso e um respeito de herança dos mantimentos de tradição'”. 

Foto: TinaFields/Getty Images/iStockphoto

Ele também observou o papel do alimento em estabelecer ou reforçar os laços numa comunidade: “Comer certos pratos é ligar-se ao local ou a quem o preparou”, escreveu.

Foto: Lalo de Almeida/Folhapress

Edição: Fernanda Schimidt

Reportagem: Juliana Domingos de Lima

Publicado em 15 de maio de 2021