fizeram história

João W. Nery abriu espaço para reconhecimento da identidade de homens trans no Brasil

Crédito: Fernando Frazão/Agência Brasil

Psicólogo, escritor e ativista da causa LGBTQIA+, João W. Nery se tornou um símbolo da luta pelos direitos das pessoas trans no Brasil. Sua militância e sua presença na vida pública inspiraram pessoas trans e fizeram avançar as discussões sobre gênero no país. Contamos a história de João W. Nery hoje (29) em celebração ao Dia da Visibilidade Trans.

Crédito: Tatá Barreto/Divulgação

João nasceu em 1950 no Rio de Janeiro, terceiro dos quatro filhos de um aviador e uma professora. Na adolescência, quando ainda não se falava em transexualidade, já se identificava com o gênero masculino e sofria pressões na escola e na família para ser ‘feminino’. 

Crédito: Arquivo pessoal

Crédito: Arquivo Nacional/Domínio Público

Cursou psicologia durante a ditadura e chegou a ser enquadrado no Decreto no 477, lei de 1969 que punia os que “atentavam contra a segurança nacional” na universidade, mas conseguiu ser absolvido. 

Crédito: Reprodução

Saiu de casa aos 22 anos para viver com sua primeira companheira. Nessa época, assumiu a identidade social masculina e começou a trabalhar como taxista para pagar as contas. 

Buscando adequar seu corpo à sua expressão de gênero, João se aproximou de uma equipe pioneira de médicos que estudava a transexualidade. Em 1977, realizou uma cirurgia de reafirmação de gênero – clandestina, já que o procedimento ainda era ilegal no Brasil – e em seguida iniciou a terapia hormonal. 

Crédito : Unsplash

Publicou seu primeiro livro, “Erro de pessoa”, em 1984. Mas foi o livro seguinte, o também autobiográfico “Viagem solitária”, lançado em 2011, que o transformou em referência nacional na causa. Publicou ainda “Vidas trans”, assinado com outros autores, e “Velhice transviada”. 

Crédito: Fernando Frazão/Agência Brasil

João tinha um grande talento para abrir horizontes e, sobretudo, enternecer, mas sempre com uma postura confiante. Ele foi uma pessoa que espalhou amor e potência de vida, abraçando o mundo com muita coragem

Sheila Salewski 
Companheira de Nery por 22 anos, em apresentação à reedição de 'Viagem solitária'

A vida do psicólogo foi uma das inspirações de Glória Perez para compor o personagem Ivan, interpertrado por Carol Duarte na novela “A Força do Querer”, exibida pela Globo em 2017. A trama retrata a transição de gênero de Ivan, que enfrenta o preconceito e a oposição da família.

Crédito: Reprodução/Globo

João W. Nery foi a primeira referência que busquei quando me entendi como homem trans. A luta dele por visibilizar as nossas especificidades, quando pouco se falava sobre homens dentro da transgeneridade, foi o que possibilitou as nossas existências e o nosso acesso a direitos. Ele me inspirou a ser um homem trans que luta constantemente por visibilidade e pela nossa inclusão na sociedade

Noah Scheffel
Colunista de Ecoa, homem trans e fundador do EducaTRANSforma

Em 2013, ele participou ativamente da elaboração do projeto da Lei de Identidade de Gênero junto aos deputados federais Jean Wyllys e Erika Kokay. O projeto está arquivado, mas contribuiu para dar impulso na discussão sobre uma legislação de proteção para a população trans. 

Crédito: Reprodução/Twitter-@jeanwyllys_real

Nery morreu em 2018 de um câncer. No mesmo ano, uma decisão do STF reconheceu o direito, previsto no PL, de alterar o nome e o gênero no registro civil mesmo sem a realização da cirurgia de reafirmação de gênero. Recebeu postumamente o prêmio Direitos Humanos, concedido pelo Ministério dos Direitos Humanos, e o título Honoris Causa pela UFMT. 

Crédito: Circuito Fora do Eixo/Creative Commons

Edição: Fernanda Schimidt

Reportagem: Juliana Domingos de Lima

Publicado em 29 de janeiro de 2022
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