FIZERAM HISTÓRIA

Oliveira Silveira: ativista e poeta da consciência negra

Por Juliana Domingos de Lima

Crédito: Wikimedia Commonds

Na noite de 20 de novembro de 1971, há 50 anos, um grupo se reuniu  no Clube Social Negro Marcílio Dias, em Porto Alegre. Eles realizaram um ato evocativo à resistência negra, escolhendo a data do assassinato de Zumbi dos Palmares como símbolo.

Crédito: Acervo Oliveira Silveira/Reprodução

Foi o embrião do Dia da Consciência Negra, que hoje integra o calendário nacional e foi defendido pelo movimento negro como contraponto à celebração do 13 de maio — data da abolição — e à exaltação da Princesa Isabel.

Crédito: Eduardo AnizelFolhapress

Um dos responsáveis pelo ato daquela noite de 1971 foi Oliveira Silveira. Ativista, poeta, professor de português e literatura, ele foi um dos fundadores e líder do Grupo Palmares, organização política e cultural do movimento negro gaúcho. Silveira teria sugerido evocar o 20 de novembro na ocasião.

Crédito: Tânia Meinerz/Divulgação

O legado do Grupo Palmares e de Oliveira Silveira é imensurável para a cultura negra, o povo negro e a sociedade brasileira. Trazer o 20 de novembro para lembrar Zumbi e reverenciar o Quilombo dos Palmares mudou a história, e só muda a história quem é grande. Oliveira Silveira estará no panteão dos grandes na história do Brasil

Sandra Maciel 
Presidente da Comissão do Cinquentenário do 20 novembro

Oliveira Silveira nasceu em 1941 na área rural de Rosário do Sul (RS). Se formou em letras e publicou seu primeiro livro de poemas, “Primeiros Traços”, no fim dos anos 1950. 

Crédito: Tânia Meinerz/Divulgação

 Quando ainda estava na universidade, aliou a militância contra a ditadura militar à consciência racial. Na época, a juventude negra entrava em contato com referências artísticas como o movimento Negritude e com os debates e as lutas de independência no continente africano. 

Crédito: Arquivo pessoal

O professor Oliveira Silveira reunia jovens negros e negras pra dar aula de reforço escolar, literatura e história com ênfase nas lutas negras. Ele nos trazia assuntos e fatos que não faziam parte dos ensinamentos que recebíamos na escola. Exercia o papel de alongar fronteiras ao nos colocar diante das inúmeras conquistas negras Brasil adentro e mundo afora

Vera Lopes
Atriz, conheceu Silveira na revista "Tição"

 Ao formarem o Grupo Palmares, na virada dos anos 1960 para 1970, jovens professores e universitários negros estavam em busca de material para produzir reflexões sobre as histórias e culturas negras, que consideravam sonegadas pela educação racista.

Crédito: Arquivo pessoal

encontrei minhas origens
na cor de minha pele
nos lanhos de minha alma
em mim
em minha gente escura
em meus heróis altivos
encontrei
encontrei-as enfim
me encontrei”

Oliveira Silveira
Trecho do poema ‘Encontrei minhas origens’

Silveira seguiu escrevendo e militando nas décadas seguintes. Foi um dos fundadores da revista Tição e integrou o Grupo Semba Arte Negra em Porto Alegre. Publicou uma série de livros e teve seus poemas incluídos em antologias. Faleceu em 2009.

Volto constantemente aos ensinamentos e à obra de Oliveira e continuo aprendendo. Ele nos deixou um legado fantástico. a sua escrita, tanto poética quanto prosa, nos coloca diante de um mundo negro com todas as suas variantes. Assim como denuncia o racismo, anuncia possibilidades de se viver com dignidade. Oliveira Silveira é extremamente atual

Vera Lopes
Atriz

Edição: Fernanda Schimidt

Reportagem: Juliana Domingos de Lima

Publicado em 27 de novembro de 2021