Nem tudo sai perfeito na primeira vez, ensina juíza que criou ação social
No trabalho, a juíza paulistana Elizabeth Ashikawa, 48, está acostumada a ter sempre a decisão final. Em 2018, entretanto, ela se despiu da autoridade que a profissão impõe para, carriola de cimento em mãos, ajudar a reconstruir casas de famílias que vivem em situação de vulnerabilidade social.
A ação foi a primeira do projeto Re.juntar, criado pela juíza para atender famílias que precisam de um lar em boas condições para receber de volta a guarda de menores. Nesse processo, porém, ela enfrentou uma série de dificuldades, até encontrar um modelo melhor de atuação.
Como tudo começou
A iniciativa do Re.juntar surgiu depois de Elizabeth se emocionar com um vídeo da ONG Reparação, de Bragança Paulista (SP), que viralizou na internet. Nele, advogados, engenheiros, ferramenteiros e estudantes, entre outros profissionais, se reúnem para reformar o lar de uma família. Beth (como todos a conhecem) decidiu que também iria participar daquele mutirão de solidariedade.
O desejo, porém, deu espaço a uma frustração: "Havia tanta gente querendo colaborar, que eu teria que entrar numa fila de espera imensa. Fiquei intrigada, pois sabia que não faltavam pessoas necessitadas".
Ela então chamou dois amigos para replicar a fórmula de sucesso da organização. Beth teve a sorte de contar com o empenho de ambos, mas percebeu que engajar pela amizade pode ser um risco, pois o ideal é que o elo de ligação seja a causa.
"Com mentoria de membros da Reparação, criamos o Re.Juntar. Em seguida, fomos atrás de uma ONG que nos ajudasse a encontrar voluntários", conta. O apoio chegou em julho do ano passado, com a Base Colaborativa.
Com mais sete pessoas, Beth compôs o grupo de coordenadores da obra. Além do auxílio à família, era preciso fazer a análise técnica do local, as compras, criar uma base de apoio para os voluntários, providenciar a alimentação da equipe, fazer o projeto da reforma, entre outras atividades.
O passo seguinte foi a escolha da primeira família beneficiada. "Há uma gama de crianças e adolescentes que vivem em abrigos e não voltam para casa por falta de infraestrutura doméstica. Junto ao juizado, buscamos esses casos, avaliamos o vínculo afetivo, a documentação do local e fizemos nossa escolha", conta ela, que foi juíza da Vara da Infância e da Juventude no interior de São Paulo e hoje está à frente da Vara da Família do Ipiranga, na capital.
A reforma foi marcada para dali a dois meses.
Corrida contra o tempo
Apesar da mentoria e da vontade imensa, os erros se somaram.
"Dois meses foram muito pouco. E essa foi só a primeira das muitas falhas que se seguiram: eu acabei ficando responsável pelas compras, setor que não dominava; tivemos dificuldades para gerenciar a obra e organizar os voluntários; erramos o cálculo dos materiais", enumera.
Momento da entrega
Todo o estresse da estreia, porém, foi recompensado pela emoção da entrega. "Apresentar a casa pronta para a família foi emocionante", conta Beth.
Gisele Cassia da Silva é ex-usuária de drogas e havia perdido a guarda das três filhas. Kauana, 14, Laisla, 11, e Maísa, 7, voltaram para casa no dia da entrega da reforma, aumentando ainda mais a comoção.
Segunda chance
Ao fazer o balanço da primeira experiência, Beth pensou em desistir. Mas o grupo a convenceu de que os erros poderiam ser corrigidos e que valia a pena continuar.
Com uma nova família em vista, os processos foram atualizados: "Dessa vez, tivemos seis meses entre a escolha dos beneficiados e a obra. Eu passei a cuidar das questões mais burocráticas, incluindo a conversa com o abrigo das crianças, e as parcerias com as empresas que nos apoiam".
O segundo mutirão aconteceu em agosto passado, na casa da pequena Kimberly, de dois anos. A avó da menina, Marleide de Oliveira Souza, 59, esperou pelo apoio do Re.Juntar para ter a menina de volta em casa.
"Nunca passou pela minha cabeça que, em um ano, nossa equipe fixa fosse crescer de oito para 35 pessoas - mais os voluntários que participam da obra. Claro que não é fácil. É muita gente para coordenar, mas temos encontrado o nosso jeito de ajudar essas famílias. E, no final, quem mais ganha com tudo isso somos nós", comemora Beth.
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