Editora que criou "Netflix dos Médicos" tem 25% de profissionais LGBTQ+
Humilhação e pressão psicológica eram situações recorrentes no dia a dia do desenvolvedor de produtos digitais Tairo Rodrigues, 24 anos, no trabalho. Ele sofreu assédio moral por parte de um antigo chefe justamente num momento delicado, quando, na condição de homem transexual, fazia a transição para o corpo masculino. "A experiência foi muito desagradável, me sentia muito mal e, quando pedi para sair, ele ainda disse que eu deveria agradecer por eles terem me aceitado", conta o jovem.
Atualmente, Tairo vive a harmonia de ser bem acolhido em um espaço de trabalho no qual a diversidade de gênero e orientação sexual são tratadas com naturalidade. "Como deveria ser em toda a sociedade. Você sendo quem você realmente é, sem ser questionado ou excluído por isso", defende.
Tairo trabalha na editora Sanar, em Salvador (BA), desenvolvendo aplicativos e plataformas digitais para educação. A empresa, uma startup criada em 2014 para oferecer conteúdo acessível a profissionais da área da saúde, tem políticas internas de valorização da diversidade e de inclusão de profissionais lésbicas, gays e transexuais em todas as atividades. Atualmente, mais de 25% do total de 162 funcionários é formado por profissionais LGBTQ+ (sigla que engloba a diversidade de orientação sexual e identidade de gênero).
"Para desenvolver bem seu trabalho, você precisa estar com a mente tranquila, tendo a liberdade de ser quem você é. Em cinco meses na empresa, eu já tenho bons amigos aqui dentro, com os quais tenho ótimas trocas profissionais, de muito aprendizado", elogia Tairo.
Comitê da Diversidade
Um dos veteranos que celebraram a chegada de Tairo e de outra colega trans à empresa foi o designer Yuri Alves, 22 anos, responsável pela edição de vídeos. Na Sanar há quatro anos, Yuri também considera o ambiente de liberdade um estímulo para os funcionários. "Aqui se produz com um gás maior. Por ter liberdade de expressão, você se sente mais engajado ao trabalho".
O designer começou na empresa como estagiário e foi efetivado ao concluir a graduação. Yuri explica que a liberdade existe desde a forma de ser vestir até a expressão da sexualidade e afirmação racial e de gênero.
Todas essas questões são discutidas de forma cotidiana e em reuniões semanais promovidas pelo Comitê da Diversidade, que aborda pautas como saúde mental, inclusão social, preconceito, masculinidade tóxica entre outros assuntos. "Aqui na Sanar ninguém foge da pauta e a discussão é em pé de igualdade", completa Tairo Rodrigues.
"É importante que a pauta da diversidade não esteja apenas no discurso das empresas, e sim nas práticas cotidianas, inclusive na relação com o público, que já reconhece e valoriza essa postura da Sanar", explica Yuri Alves.
O reconhecimento veio também de forma oficial, com o selo do Sistema B, movimento global que certifica a sustentabilidade social e ambiental de empresas após um criterioso processo de avaliação. A diversidade é um dos pontos que compõem as ações de impacto da editora, que também promove paridade salarial entre homens e mulheres, coleta seletiva de lixo, controle ativo do consumo de energia e, principalmente, tenta sanar uma lacuna na formação de profissionais de saúde, oferecendo conteúdos consistentes, de fácil acesso e com baixo custo.
"Netflix dos Médicos"
Com um público formado por estudantes e profissionais de saúde, como médicos, enfermeiros, nutricionistas, fisioterapeutas, farmacêuticos, dentistas e psicólogos, a Sanar ofereceu, em cinco anos de atuação, mais de 200 cursos, livros e aplicativos voltados para a prática médica e para concursos da área.
Um time composto por mais de 100 professores das principais universidades do país assinam a autoria das obras e dos materiais didáticos customizados, que foram reunidos em uma plataforma única, chamada Sanarflix, uma espécie de "Netflix dos Médicos".
Com pacotes de assinatura que variam de R$ 19,90 a R$ 24,90, estudantes e profissionais da saúde têm acesso ilimitado a mais de 1.500 aulas on-line, resumos de obras, mapas mentais e fluxogramas. Tudo disponível para acesso no computador, celular ou outros dispositivos móveis.
"A formação em saúde exige muitos recursos, a área é prejudicada por assimetria de informação, e contribuir na formação, diminuir essa assimetria, entregar conteúdo acessível e efetivo é muito importante para formar bons profissionais", afirma Lucas Dantas, diretor de branding e comunidade da Sanar.
Custo menor
A estudante de medicina Jeaninne Azevedo, 29 anos, da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), complementa seus estudos com os materiais oferecidos pela Sanar. "São conteúdos que melhoraram meu aprendizado e me ajudaram a utilizar melhor meu tempo para os estudos", confirma.
Ela conta que, muitas vezes, a carga de leituras é grande demais para o curto tempo entre uma aula e outra. "Me ajuda muito poder assistir a uma aula on-line de um tema sobre o qual eu teria que ler mais de 120 páginas em poucas horas", conta, além de elogiar os preços acessíveis dos livros. "Com o valor que eu gastaria para um único material nas livrarias eu comprei uma caixa com dois livros e mais um brinde."
O diretor de branding da Sanar explica que o custo é uma das questões essenciais do negócio. Ele diz que um curso preparatório para a seleção da residência médica, por exemplo, pode custar em média R$ 24 mil, um alto investimento para um profissional ainda em formação.
"Na Sanar, oferecemos cursos on-line até dez vezes mais baratos. E ainda tem a vantagem de serem em uma proposta modernizada, fora do antigo modelo de sala de aula, com horário determinado", detalha. O aplicativo Sanar Residência oferece 13 mil questões de provas para reforçar os estudos preparatórios.
A empresa não divulga o faturamento, mas diz que o crescimento tem dobrado a cada ano e que o interesse por trabalhar na startup triplicou. Há 40 vagas abertas no momento e, no último mês, quase mil concorrentes se inscreveram no processo seletivo para preenchê-las.
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