Você sabe o que é uma Empresa B? É difícil se tornar uma
Ser social e ecologicamente responsável é uma promessa que boa parte das empresas de hoje faz ao mercado. As campanhas de marketing estão cheias de números e histórias belas. Mas, se é impossível mergulhar na fábrica ou no dia a dia da organização, como saber se tais práticas são efetivas?
Um dos caminhos é investigar se determinada empresa tem algum selo ou certificação. Nesse sentido, uma das chancelas mais respeitadas é a concedida pelo chamado Sistema B (o "B" faz referência a "benefícios"). A maior parte das empresas que realmente adotam práticas sustentáveis vislumbra ser uma Empresa B, como são chamadas aquelas que conquistam o selo.
Trata-se de um movimento global que consegue medir ações de impacto socioambiental de uma empresa, idealizado pela organização norte americana sem fins lucrativos B Lab.
Como se tornar uma empresa B?
Para conseguir a certificação, as empresas interessadas precisam passar por um processo que costuma durar no mínimo seis e no máximo 24 meses. Quanto maior e mais complexa a companhia, mais tempo leva.
Tudo começa com o preenchimento de um detalhado questionário disponibilizado no site da organização com 200 perguntas que valem um ponto cada. Os temas são abrangentes. Vão desde o número de mulheres em cargos gerenciais até detalhes sobre possíveis impactos negativos. Entre eles, reclamações ou denúncias contra a empresa, além de multas e sanções que a instituição ou alguma filial tenha recebido.
Todas as respostas, tanto as positivas quanto as negativas, são confidenciais. Ao final, uma pontuação é gerada. Para prosseguir no processo, a empresa precisa atingir, no mínimo, 80 pontos. Caso não consiga, melhorias são sugeridas para que o negócio possa se adaptar aos critérios do Sistema B. E é permitido tentar outras vezes.
Feito isso, é preciso comprovar a veracidade das respostas apresentando dados e documentos oficiais. Para conquistar o selo, a Natura, considerada a maior companhia de capital aberto já certificada pelo sistema no mundo, teve de comprovar, por exemplo, de que maneira a empresa integra o desempenho socioambiental nas tomadas de decisões.
Um membro da equipe do B Lab ficará responsável por conferir os papéis e revisar as avaliações levando em conta o desempenho social e ambiental da empresa em relação ao serviço que ela oferta.
Há ainda uma outra etapa: conversas entre a equipe do Sistema B e executivos das organizações que pleiteiam a certificação, para conferência de informações e, sobretudo, instruções sobre boas práticas.
Assim, se tudo estiver certo, a empresa obtém o certificado e entra para o Sistema B. A partir de então, é preciso pagar uma taxa anual que varia de acordo com o faturamento da empresa. O valor mínimo da quantia é de US$ 500,00 para faturamentos de até US$ 149.999,99.
"Atualmente, nós temos 5 mil companhias em processo de certificação no Brasil. Isso faz do nosso o país que tem o maior número de empresas interessadas em entrar para o Sistema B do mundo", afirma Marcel Fukayama, 34, responsável por trazer o sistema para o Brasil, em 2013.
Depois de certificadas, as organizações compartilham publicamente um relatório de Impacto B no site do sistema. Qualquer pessoa pode entrar e conferir o desempenho socioambiental de cada companhia.
O certificado tem prazo de validade?
A ideia é que as empresas do Sistema B tenham melhorias contínuas. Pensando nisso, a cada três anos, as companhias passam por um processo de recertificação, em que realizam novamente a primeira etapa, a Avaliação de Impacto B.
Além disso, algumas são escolhidas aleatoriamente para passar pela análise de novo, em sorteios anuais. Trata-se de uma garantia de que vão manter o compromisso de realizar melhorias relacionadas a questões socioambientais enquanto crescem.
"Somos estimulados a fazer atualizações constantes em nossa estratégia, pois as exigências do Sistema B aumentam. Dessa forma, seguimos comprometidos com o monitoramento de nossas atividades, incluindo as diferentes etapas do ciclo de vida de nossos produtos e os impactos que geramos", conta Luciana Villa Nova, gerente de sustentabilidade da Natura.
Qualquer empresa pode conseguir a certificação?
Quase todas. Negócios que originalmente não estão alinhados aos preceitos básicos de responsabilidade socioambiental estão de fora. É o caso de indústrias como a do tabaco e a bélica. "Esses dois exemplos são chamados de sensíveis ou controversos, por causa do impacto negativo que naturalmente causam", diz Fukayama.
Outra exigência é a de que a empresa tenha, pelo menos, um ano de funcionamento. Isso porque, durante o processo de certificação, as ações dos anos anteriores precisam ser avaliadas.
Mesmo assim, elas ainda podem adquirir o selo de "Sistema B Pendente". Ele mostra que, apesar de a empresa ser recente, ela tem interesse nas boas práticas e está caminhando para, um dia, conseguir a certificação efetiva.
Como surgiu
A iniciativa surgiu em 2006, quando o norte-americano Jay Coen Gilbert vendeu a loja de materiais esportivos e vestuários de basquete, a AND 1, que fundara em 1993. Com a venda, todas as boas práticas que Coen anteriormente priorizava no dia a dia do negócio foram engolidas pela vontade dos novos donos de gerar mais lucro, o que desestabilizou o empresário emocionalmente.
O descontentamento com a vida ganhou força quando Coen perdeu duas pessoas muito queridas: seu pai, por câncer, e um colega de trabalho, morto em um acidente de carro.
Ele decidiu, então, que criaria algo para que o ambiente de trabalho gerasse impacto positivo na sociedade. Foi assim que idealizou uma fórmula para modelos de negócio que garantam a promoção do bem-estar social.
Anos depois, aqui no Brasil, o empreendedor social Marcel Fukayama recebeu um relatório de métricas relacionado a uma empresa que ele havia criado. Ao final do documento, constava uma pergunta que dizia: "Você é uma empresa B certificada?". Minutos e algumas pesquisas em sites de buscas depois, Fukayama tomava conhecimento do que era o Sistema B.
"Até 2011, grande parte das empresas B estava concentrada na América do Norte. Então decidi ir até lá [Estados Unidos] para tentar trazer o movimento para o Brasil. Em outubro de 2013 lançamos aqui no país", conta. Desde então, 162 empresas brasileiras foram certificadas.
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