Ele reforma lares na periferia do Rio a preços populares
Reforma costuma gerar dor de cabeça. Imagine, então, quando ela é feita sem planejamento ou de forma irregular. Quando ainda era adolescente, o engenheiro Fábio Moraes, hoje com 27 anos, viu de perto esse tipo de situação: "Lembro da minha mãe passando por muitos problemas depois que trocou o telhado de casa. O projeto não foi bem feito e só causou transtorno para nós, principalmente quando chovia".
Fábio morava no município de Mesquita, na Baixada Fluminense, e via na vizinhança situações parecidas, de reformas com problemas ou casas sem acabamento, paisagem comum em comunidades periféricas.
O jovem decidiu estudar engenharia civil e hoje, já formado e morando na capital, oferece reformas e assistência técnica a preços populares para quem vive em comunidades do Rio com a Favelar, empresa que já atendeu mais de 160 pessoas em locais como Cidade de Deus, Morro Dona Marta e comunidade da Chatuba.
Como tudo começou
Idealizado em 2012, durante a graduação de Fábio em engenharia civil na Universidade Veiga de Almeida, o empreendimento tem o objetivo de democratizar o acesso a planejamentos arquitetônicos de qualidade.
A primeira roupagem do Favelar foi apenas no ambiente digital. Com a também engenheira e arquiteta Milena Miranda, que hoje não faz mais parte do empreendimento, Fábio deu os primeiros passos. "Tínhamos que criar um aplicativo que resolvesse um problema da sociedade, e eu sabia o que poderia colocar em prática. Foi então que estruturei a empresa."
Em 2015, ainda no meio do curso (que foi concluído em 2018), ele percebeu que poderia ser assertivo e migrar a oferta de serviço para encontros presenciais, pois o acesso à internet banda larga nas periferias ainda era limitado - e isso afastava seu público-alvo.
A análise de mercado fez com que o novo modelo de negócio fosse com encontros entre ele e os clientes, além de visitas técnicas ao local da obra.
Atualmente, ele comanda a startup com a sócia e engenheira Mabi Elu. Ao todo, cinco profissionais parceiros trabalham no empreendimento.
Se não funcionou o plano B, tenha plano C, D...
O primeiro projeto da equipe, apenas com quatro pessoas, foi a reforma de um quarto em uma casa na comunidade do Vidigal, na zona sul do Rio. "Contratamos um profissional da região para auxiliar na obra, mas, no dia de iniciar, a pessoa não apareceu", conta o empreendedor.
O plano B foi contratar outro trabalhador, que, por questões pessoais, também teve que abandonar o empreendimento dias depois. O planejamento, que já tinha atrasado uma semana, atrasou mais ainda. Diante da situação e recorrendo a indicações, Fábio conseguiu contornar a situação contratando um terceiro pedreiro.
Adaptação
O impacto ambiental que a construção civil causa foi uma das preocupações que Fábio teve conforme o projeto foi evoluindo. Segundo o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA), 40% do consumo global de energia é provenientes de edificações, por exemplo. "Quando pensei o modelo da Favelar, quis inserir medidas para reduzir esses problemas, mas não sabia como", afirma.
Fábio percebeu ainda que alguns processos construtivos seriam prejudiciais. Por isso, para adaptar à realidade da comunidade sem encarecer o serviço, ele usa tinta à base de água e madeira de reflorestamento - tudo isso é encontrado com parceiros locais.
No planejamento, ele organizou técnicas que geram menos impacto, como evitar a demolição. "Um dos nossos pontos de atenção é a gestão de resíduo. A maioria das comunidades tem problemas com os descartes irregulares de resto de materiais. Então, a proposta foi diminuir de alguma forma esse impacto negativo e evitar gerar mais entulho para a região", ressalta.
Segundo Fábio, a Favelar não tem parcerias com empresas do setor da construção civil, pois ele percebeu que ainda há preconceito e desconfiança com relação ao empreendimento social voltado à população de baixa renda. No entanto, Fábio é otimista e mantém tentativas de diálogo com as companhias. "Todo dia é um novo começo. Quem vive na favela não quer sair, só quer mais dignidade para viver bem onde mora", completa.
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