Eles criaram revista vendida em farmácia e já doaram R$ 31 milhões
Um administrador e uma jornalista com o sonho de reinventar o modo como pessoas recebem informação de qualidade e conteúdo inspirador. Tudo isso em papel, a baixo custo e doando parte dos lucros para organizações sociais. No mundo cada vez mais conectado, esse sonho se transformou em realidade com a criação da Editora MOL, um negócio social que, de 2007 até hoje, já vendeu mais de 17 milhões de publicações com seus projetos socioeditoriais.
Além dos livros, revistas, calendários e muitas outras publicações que chegam a leitores não por livrarias ou sites mas por lojas de varejo, os idealizadores Rodrigo Pipponzi, 39, e Roberta Faria, 38, ostentam um outro número impressionante: mais de R$ 31 milhões doados para ONGs (organizações não governamentais) que apoiam causas sociais.
Esse número, por si só, é um dos principais méritos da diferente e ousada jornada que reúne erros e aprendizados. Além de criar do zero uma empresa, sempre fez parte dos planos doar parte dos rendimentos. Ao todo, 67 ONGs foram beneficiadas e mais de um milhão de pessoas são atendidas por ano com a ajuda das doações.
A principal publicação da Editora MOL é a Revista Sorria, vendida no caixa de farmácias pelo país. Com a estratégia de oferecer ao cliente, na hora de pagar a conta, um produto de conteúdo positivo, com preço acessível e com a renda revertida para o Graacc (hospital que atende crianças com câncer), a revista se tornou um sucesso de vendas e possibilitou a criação de outras publicações com proposta semelhante.
O valor recebido com os produtos cobre os custos de produção e distribuição e uma margem de lucro para a manutenção e o crescimento da própria empresa, que tem 25 funcionários. O restante é doado para instituições. Entre 2008 e 2018, para cada R$ 1 de lucro operacional que ficou com a empresa, o valor médio de doação foi de R$ 5. Ou seja, como o negócio é rentável, mesmo quando a empresa retém R$ 1 do lucro, ainda sobram R$ 5 para serem doados.
Uma ideia e convicção
A primeira tentativa de entrar no mercado editorial tradicional foi um balde de água fria para a dupla, que logo percebeu que ter uma proposta social recorrendo aos modelos já estabelecidos não funcionaria.
Rodrigo e Roberta, então, tiveram a ideia de usar um método inovador de distribuição. Pelo menos nesse ramo. "A gente hackeou um método tradicional de distribuir e de vender. Em vez de vender nos espaços tradicionais, que têm um desperdício e custo muito alto, a gente foi para o varejo, que não tinha competição com outros títulos", conta Roberta.
O novo modelo de negócios conseguiu unir o desejo de inspirar ações de mudanças do mundo e garantir a realização profissional e de vida dos dois. Rodrigo, que vem de uma família de empresários, escolheu não assumir o negócio familiar e empreender sozinho. Na experiência com o Estúdio MOL, uma empresa de design que ele criou com amigos para prestar serviços para editoras, conheceu Roberta, que trabalhava no ramo de publicações. A sintonia, segundo ele, fez com que a convidasse para construírem juntos uma editora diferente de tudo feito até então. Roberta topou e, ainda hoje, Rodrigo comenta o quanto a amiga foi corajosa.
Na época, Roberta vivia em Florianópolis e já tinha uma filha. Ela se mudou para São Paulo e atualmente concilia a editora com os cuidados com os quatro filhos. "A gente queria fazer publicações que contassem mais histórias que não entravam na grande mídia, histórias reais, inspiradoras e que dessem mais serviço para cidadania", conta, animada, mesmo dividindo a entrevista com a atenção aos gêmeos recém-nascidos.
No começo da empreitada, Roberta, que é jornalista e se concentrava nos produtos editoriais, não sabia nada de como gerir um negócio. Com o tempo, ela correu atrás e hoje divide a direção executiva com o sócio.
Aposta na intuição
No começo, para garantir a sobrevivência do negócio, a editora fez também projetos institucionais, que rendiam dinheiro para investir nos projetos de impacto social. "A gente ganhou mal por muito tempo. A gente abria mão do que dava, mas teve paciência", lembra Rodrigo. Depois de quatro anos de empresa, os dois decidiram que iriam realizar apenas os projetos socioeditoriais. "Foi decisão superintuitiva. Colocamos tudo que a gente acreditava no projeto. Financeiramente não fazia sentido, mas era nosso sonho, nosso desejo", conta o administrador.
Eles apostaram na convicção de que tinham algo especial e deu certo. Isso não poupou as desconfianças. Rodrigo conta com bom humor sobre o dia em que ouviu que estava "falando bobagens" ao apresentar a ideia para o próprio Graacc, instituição que seria beneficiada. Ele tinha 26 anos e ficou em choque, mas o episódio não foi o suficiente para desanimá-lo. "Acreditamos que dava para fazer algo diferente, sem necessariamente dar ouvidos a tudo que falavam para a gente que ia dar errado", afirma.
Todos os 120 mil exemplares do primeiro produto da editora, a Revista Sorria, foram vendidos em três semanas. Por causa disso, conseguiram fazer a primeira doação no valor de R$ 267 mil para o Graacc. "Foi quando percebemos que tínhamos um supermodelo de negócios na mão", diz, sem esconder o orgulho.
Mesmo assim, demorou para que a atuação da empresa fosse conhecida. "Por muito tempo a gente não falava sobre a gente, só se concentrava no trabalho. Não contávamos a nossa história. Fomos ter um site quando tínhamos 10 anos de editora", relata Roberta.
Em 2018, Roberta e Rodrigo foram os vencedores do Prêmio Empreendedor Social, premiação da Folha de S.Paulo em parceria com a Fundação Schwab que reconhece líderes com impacto socioambiental no país.
Crescimento com paciência
Mesmo com 17 milhões de publicações e R$ 31 milhões doados, Rodrigo garante que eles mantêm os pés no chão. Além de seguir a intuição, conduzem todas as outras áreas do negócio com cautela e profissionalismo. "Estamos há 12 anos aprendendo. É fundamental se cercar de bons fornecedores. A gente tem uma ótima contabilidade, um ótimo setor jurídico. São pessoas que vão iluminando nosso caminho para soluções de coisas que a gente não tem", completa Roberta.
Para ela, há um legado e inspiração sendo construídos. "Costumo dizer que nossa história é nosso poder, temos que contar para poder ser ouvido e gerar novas conexões."
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