ONG internacional promove concurso de funcionário público honesto
Em vez de envergonhar os corruptos, destacar os íntegros. Essa é a proposta de uma ONG internacional ao promover o concurso Integrity Icon (Ícone da Integridade, em tradução livre) para premiar funcionários públicos que tenham impacto positivo em seus países e assim ajudar a mudar a narrativa sobre o combate à corrupção.
A campanha é empreendida pelo Accountability Lab (Laboratório de Prestação de Contas), uma ONG com sede nos EUA que busca formar líderes para impulsionar noções de integridade, responsabilidade e prestação de contas. O concurso começou no Nepal em 2014, chegou à Libéria em 2015 e acabou se tornando um evento global.
"O Ícone da Integridade tem a ver com reconstruir a confiança. Em tempos em que a corrupção é tão difundida, precisamos encontrar modelos dentro do serviço público de pessoas que estejam fazendo a coisa certa para os cidadãos", afirma o britânico Glencorse. "Isso pode transformar nossa compreensão sobre os governos e fornecer uma plataforma, que pode crescer com o tempo, para um novo pacto social."
Em 2018, o sucesso da campanha rendeu à ONG e a seu fundador e CEO, Blair Glencorse, o Prêmio Internacional de Excelência Anticorrupção, concedido pelo Centro de Estado de Direito e Anticorrupção com apoio do Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime (Unodc), na categoria engajamento e criatividade juvenil.
Na América Latina
Neste ano, o concurso acontece também na América Latina, com o México (é realizado ainda na Nigéria, no Mali, na Libéria e no Paquistão). Em 2018, o país latino-americano ficou em 138º lugar dentre 180 no ranking mundial da Transparência Internacional sobre percepção da corrupção, com uma queda de sete posições desde 2013. O Brasil está na 105ª posição nesse ranking.
Qualquer cidadão mexicano teve a possibilidade de indicar à organização funcionários públicos que considerasse exemplares em sua atuação profissional. A entidade fez uma peneira com base nos 30 perfis recebidos e levou um grupo de 12 a um painel de cinco especialistas em temas de transparência, responsabilidade pública e corrupção.
Na noite da última terça-feira (11), foi definido o vencedor dentre os cinco finalistas, escolhido por votação on-line e por SMS, o "People's Choice". A mexicana Jabnely Maldonado Meza venceu o concurso. Ela ajuda vítimas do terremoto de 2017 na Cidade do México a retomar a vida. O anúncio foi feito no âmbito da Cúpula da Integridade, promovida pela ONG na Cidade do México.
"O Ícone da Integridade é uma campanha que busca nomear e celebrar os bons no lugar de nomear e envergonhar os ruins. É momento de mudar a narrativa no combate à corrupção. Para nós, é muito mais eficaz incidir na esfera pública encontrando os servidores que estão fazendo melhor seu trabalho e nos apoiar neles como embaixadores da mudança", explicou Eva Sander, diretora do Accountability Lab no México.
Para ela, a abordagem tradicional anticorrupção "não cria esperança e sim aborrecimento na população".
"O mundo já é duro o suficiente para que continuemos amplificando as conversas negativas. Cremos que, ao mudar a perspectiva e o filtro com que escolhemos ver as coisas, podemos ter uma influência mais eficaz", acrescentou.
Objetivo é replicar o exemplo
Para Eva Sander, o verdadeiro trabalho começa depois da premiação. "Porque nos colocamos a trabalhar com os ícones para propagar suas práticas não unicamente entre seus colegas, mas também em outras dependências do governo, com estudantes e com as comunidades, para gerar todo um movimento centrado na integridade pública."
Criado em 2012, o laboratório age como incubadora local de cidadãos e líderes para que que atuem em um movimento de base em prol da prestação de contas e da responsabilização do setor público.
"Fundei o Accountability Lab depois de trabalhar no Banco Mundial e perguntar a jovens ao redor do mundo que problemas elas enfrentavam. De modo quase unânime, elas não diziam falta de educação, de saúde básica ou de água potável — das quais elas também precisavam", afirma Glencorse.
"Elas diziam: 'Queremos prestação de contas das pessoas no poder e maneiras mais eficazes de combater a corrupção'. Porque elas sabiam que esses eram na verdade as causas centrais daqueles outros problemas. Então o laboratório começou a trabalhar para preencher essa lacuna."
OS FINALISTAS DO MÉXICO
Embora todos sejam funcionários públicos, os candidatos mexicanos representaram áreas bastante diversas da administração.
Jabnely Maldonado Meza, 39 anos (vencedora)
A tarefa de Jabnely é ajudar vítimas do terremoto de 2017 na Cidade do México a reconstruir suas casas com recursos governamentais, recuperar documentos perdidos e cuidar de outras burocracias que lhes permita retomar a vida.
"Para mim, o serviço público é uma oportunidade de fazer as coisas certas", afirma.
Aura Eréndira Martínez Oriol, 31
Criou projetos de transparência e responsabilização do poder público como diretora na Agência de Inovação Digital Pública da Cidade do México.
"Já se avançou muito em termos da quantidade de informação disponível para o público, mas quero ver as pessoas as usando mais, colocando em xeque o governo com todas as provas e dizendo 'não é assim que quero que gaste o meu dinheiro'."
Héctor Agustín Gálvez López, 48 anos
Deu início a um programa de terapia em grupo para dependentes químicos da penitenciária masculina de Varonil Sur, levando a um maior índice de recuperação dos detentos.
"Não há espaço para erros no meu trabalho, pois minhas decisões afetam a sociedade como um todo. Você é um servidor público, não um funcionário que responde ao patrão", afirma no vídeo em que apresenta seu perfil.
Janet de Luna Jiménez, 35
Na prefeitura de Azcapotzalco, Janet promove políticas de desenvolvimento sustentável e coordenou o projeto Vallejo-i, que busca criar um centro de inovação industrial na região.
"Creio que, no serviço público, integridade também tem a ver com entregar resultados. Você faz uma espécie de pacto quando entra no serviço público que é ir além das boas intenções", disse.
Pedro Correa Espinosa, 41 anos
Atua na promoção da participação popular na região de Santa Úrsula Xitla em ações que vão desde o asfaltamento de vias e a troca de postes de iluminação até festividades como o Dia dos Mortos. Os relatórios das atividades são apresentados à prefeitura e à população, sem restrições ou condições.
"Me parece interessante entender a palavra 'servidor público': servir à sua comunidade, servir ao povo."
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