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ONG internacional promove concurso de funcionário público honesto

O britânico Blair Glencorse lidera ONG sobre prestação de contas e combate à corrupção - Divulgação
O britânico Blair Glencorse lidera ONG sobre prestação de contas e combate à corrupção Imagem: Divulgação

Carolina Vila-Nova

de Ecoa

10/12/2019 15h28Atualizada em 12/12/2019 16h37

Em vez de envergonhar os corruptos, destacar os íntegros. Essa é a proposta de uma ONG internacional ao promover o concurso Integrity Icon (Ícone da Integridade, em tradução livre) para premiar funcionários públicos que tenham impacto positivo em seus países e assim ajudar a mudar a narrativa sobre o combate à corrupção.

A campanha é empreendida pelo Accountability Lab (Laboratório de Prestação de Contas), uma ONG com sede nos EUA que busca formar líderes para impulsionar noções de integridade, responsabilidade e prestação de contas. O concurso começou no Nepal em 2014, chegou à Libéria em 2015 e acabou se tornando um evento global.

"O Ícone da Integridade tem a ver com reconstruir a confiança. Em tempos em que a corrupção é tão difundida, precisamos encontrar modelos dentro do serviço público de pessoas que estejam fazendo a coisa certa para os cidadãos", afirma o britânico Glencorse. "Isso pode transformar nossa compreensão sobre os governos e fornecer uma plataforma, que pode crescer com o tempo, para um novo pacto social."

Em 2018, o sucesso da campanha rendeu à ONG e a seu fundador e CEO, Blair Glencorse, o Prêmio Internacional de Excelência Anticorrupção, concedido pelo Centro de Estado de Direito e Anticorrupção com apoio do Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime (Unodc), na categoria engajamento e criatividade juvenil.

Na América Latina

Neste ano, o concurso acontece também na América Latina, com o México (é realizado ainda na Nigéria, no Mali, na Libéria e no Paquistão). Em 2018, o país latino-americano ficou em 138º lugar dentre 180 no ranking mundial da Transparência Internacional sobre percepção da corrupção, com uma queda de sete posições desde 2013. O Brasil está na 105ª posição nesse ranking.

Qualquer cidadão mexicano teve a possibilidade de indicar à organização funcionários públicos que considerasse exemplares em sua atuação profissional. A entidade fez uma peneira com base nos 30 perfis recebidos e levou um grupo de 12 a um painel de cinco especialistas em temas de transparência, responsabilidade pública e corrupção.

Na noite da última terça-feira (11), foi definido o vencedor dentre os cinco finalistas, escolhido por votação on-line e por SMS, o "People's Choice". A mexicana Jabnely Maldonado Meza venceu o concurso. Ela ajuda vítimas do terremoto de 2017 na Cidade do México a retomar a vida. O anúncio foi feito no âmbito da Cúpula da Integridade, promovida pela ONG na Cidade do México.

ONG Accountability Lab - Jeffrey Morris/Divulgação - Jeffrey Morris/Divulgação
A proposta do concurso "Ícone da Integridade" é dar destaque e amplificar as boas condutas de servidores públicos
Imagem: Jeffrey Morris/Divulgação
"O Ícone da Integridade é uma campanha que busca nomear e celebrar os bons no lugar de nomear e envergonhar os ruins. É momento de mudar a narrativa no combate à corrupção. Para nós, é muito mais eficaz incidir na esfera pública encontrando os servidores que estão fazendo melhor seu trabalho e nos apoiar neles como embaixadores da mudança", explicou Eva Sander, diretora do Accountability Lab no México.

Para ela, a abordagem tradicional anticorrupção "não cria esperança e sim aborrecimento na população".

"O mundo já é duro o suficiente para que continuemos amplificando as conversas negativas. Cremos que, ao mudar a perspectiva e o filtro com que escolhemos ver as coisas, podemos ter uma influência mais eficaz", acrescentou.

Objetivo é replicar o exemplo

Para Eva Sander, o verdadeiro trabalho começa depois da premiação. "Porque nos colocamos a trabalhar com os ícones para propagar suas práticas não unicamente entre seus colegas, mas também em outras dependências do governo, com estudantes e com as comunidades, para gerar todo um movimento centrado na integridade pública."

Criado em 2012, o laboratório age como incubadora local de cidadãos e líderes para que que atuem em um movimento de base em prol da prestação de contas e da responsabilização do setor público.

"Fundei o Accountability Lab depois de trabalhar no Banco Mundial e perguntar a jovens ao redor do mundo que problemas elas enfrentavam. De modo quase unânime, elas não diziam falta de educação, de saúde básica ou de água potável — das quais elas também precisavam", afirma Glencorse.

"Elas diziam: 'Queremos prestação de contas das pessoas no poder e maneiras mais eficazes de combater a corrupção'. Porque elas sabiam que esses eram na verdade as causas centrais daqueles outros problemas. Então o laboratório começou a trabalhar para preencher essa lacuna."

OS FINALISTAS DO MÉXICO

Embora todos sejam funcionários públicos, os candidatos mexicanos representaram áreas bastante diversas da administração.

Jabnely Maldonado Meza - Divulgação - Divulgação
Jabnely Maldonado Meza
Imagem: Divulgação
Jabnely Maldonado Meza, 39 anos (vencedora)

A tarefa de Jabnely é ajudar vítimas do terremoto de 2017 na Cidade do México a reconstruir suas casas com recursos governamentais, recuperar documentos perdidos e cuidar de outras burocracias que lhes permita retomar a vida.

"Para mim, o serviço público é uma oportunidade de fazer as coisas certas", afirma.

Aura Eréndira Martínez Oriol - Divulgação - Divulgação
Aura Eréndira Martínez Oriol
Imagem: Divulgação
Aura Eréndira Martínez Oriol, 31

Criou projetos de transparência e responsabilização do poder público como diretora na Agência de Inovação Digital Pública da Cidade do México.

"Já se avançou muito em termos da quantidade de informação disponível para o público, mas quero ver as pessoas as usando mais, colocando em xeque o governo com todas as provas e dizendo 'não é assim que quero que gaste o meu dinheiro'."

Héctor Agustín Gálvez López - Divulgação - Divulgação
Héctor Agustín Gálvez López
Imagem: Divulgação
Héctor Agustín Gálvez López, 48 anos

Deu início a um programa de terapia em grupo para dependentes químicos da penitenciária masculina de Varonil Sur, levando a um maior índice de recuperação dos detentos.

"Não há espaço para erros no meu trabalho, pois minhas decisões afetam a sociedade como um todo. Você é um servidor público, não um funcionário que responde ao patrão", afirma no vídeo em que apresenta seu perfil.

Janet de Luna Jiménez - Divulgação - Divulgação
Janet de Luna Jiménez
Imagem: Divulgação
Janet de Luna Jiménez, 35

Na prefeitura de Azcapotzalco, Janet promove políticas de desenvolvimento sustentável e coordenou o projeto Vallejo-i, que busca criar um centro de inovação industrial na região.

"Creio que, no serviço público, integridade também tem a ver com entregar resultados. Você faz uma espécie de pacto quando entra no serviço público que é ir além das boas intenções", disse.

Pedro Correa Espinosa - Divulgação - Divulgação
Pedro Correa Espinosa
Imagem: Divulgação
Pedro Correa Espinosa, 41 anos

Atua na promoção da participação popular na região de Santa Úrsula Xitla em ações que vão desde o asfaltamento de vias e a troca de postes de iluminação até festividades como o Dia dos Mortos. Os relatórios das atividades são apresentados à prefeitura e à população, sem restrições ou condições.

"Me parece interessante entender a palavra 'servidor público': servir à sua comunidade, servir ao povo."