Startup lança camisa social feita de tecido reciclado e botão de café
Executiva há 18 anos e usuária assídua de camisas sociais, Talita Lombardi sempre imaginou que pudesse existir um tipo de roupa versátil. "Brincava que deveria ser uma roupa inspirada no origami: se você mexer numa parte, a roupa se transforma em outra peça", afirmou ela, especialista em vendas, inovação e marketing digital.
Há cinco anos, durante um workshop que ministrava no Rio de Janeiro, ela conheceu a designer de moda Larissa Perlin e expôs sua ideia. O negócio não vingou na época, mas as duas se tornaram amigas e passaram a conversar sobre como criar uma "moda com propósito", unindo a experiência de cada uma.
"Ser sustentável é um modo de vida. Sustentabilidade está em você ter responsabilidade em tudo que faz, em tudo que consome. Nossa ideia é contribuir com a economia compartilhada, numa visão de negócio para ajudar as pessoas e o meio ambiente", afirma Talita.
Ela é fundadora do canal Menina Executiva no YouTube e no Instagram, sobre empreendedorismo, vendas e marketing digital, e da Startups Stars, um portal sobre inovação e negócios. Já Larissa é empreendedora da Modellagio, startup de software de modelagem on-line, e defensora da luta contra o trabalho escravo e o desperdício na indústria da moda.
No início deste ano, elas criaram a Ymagy, marca de camisa social sustentável feita com tecido reciclado, botões ecológicos produzidos a partir do café, papel ou madeira, e tags com sementes que podem ser plantadas. A marca foi lançada no fim de setembro.
"Queríamos criar uma marca sustentável, começando do zero e respeitando o meio ambiente, sem repetir erros de outras empresas. O mercado busca hoje produtos amigos do meio ambiente. Somos uma marca sustentável, mas queremos ganhar dinheiro e reinvestir em novas tecnologias. Se eu já uso uma camisa social, por que não usar uma bonita e sustentável?", afirmou Talita, que investiu R$ 50 mil na nova empresa.
Cada metro de tecido tem 9 garrafas PET na composição
Tecido, botões e tags são comprados de fornecedores que foram escolhidos, segundo Talita, justamente por utilizar matéria-prima que não prejudica o meio ambiente na fabricação de seus produtos.
O tecido das camisas é da Ecosimple, empresa que fabrica tecidos sustentáveis, produzidos a partir de fios e matérias-primas recicladas, como garrafas PET.
"Apesar de isso parecer novidade, os tecidos produzidos a partir das embalagens PET são os mesmos das roupas comuns de poliéster. A grande diferença é que, em vez de utilizar o PET virgem, a indústria recicla o plástico das garrafas e o transforma em fibras de poliéster", disse Larissa, designer da Ymagy.
Posteriormente, essa fibra é confeccionada junto com algodão e vira matéria-prima para as camisas da Ymagy. Cada metro de tecido tem nove garrafas PET em sua composição, segundo ela.
A sustentabilidade das peças também está nos botões e nas tags. Os botões são da Ecobotões, empresa representante no Brasil da fábrica portuguesa Louropel, que produz botões ecológicos biodegradáveis utilizando papel reciclado, farinha de sêmola, serradura de madeira, algodão, cortiça e até borra de café, com adição de resina reciclada de poliéster polimerizado.
Como possui sementes em sua composição, as tags podem ser picadas e plantadas num vasinho para germinar flores, hortaliças e até tomatinho-cereja. "Nossas tags são feitas pela empresa Papel Semente a partir de restos de aparas de gráficas coletados por uma cooperativa de catadores no Rio de Janeiro, a Reecoperar", afirmou Larissa.
Depois de coletados, estes restos de aparas são transformados em papéis reciclados e, durante o processo de fabricação, sementes são inseridas em sua composição.
"Temos muitos desafios ainda. Estamos sempre buscando inovações para aplicar na nossa marca. Hoje apenas as etiquetas que vêm pregadas nas camisas não são feitas de material reutilizado, mas vamos chegar lá", diz Talita.
Mão de obra vem de ateliês em SP e em SC
A empresa não tem confecção própria. As camisas são feitas em pequenos ateliês de costuras em São Paulo e em uma empresa em Brusque (SC), que ainda está na fase de testes. No total, a marca confecciona 50 camisas sociais por mês. Os valores pagos aos ateliês não são revelados pela empresa.
"Nosso compromisso como marca está em saber quem são os envolvidos nas diversas etapas. Um dos princípios de negócio sustentável é o respeito pelas pessoas que produzem. Não permitimos que haja exploração. Nós conhecemos pessoalmente os nossos fornecedores e os ateliês de costura para acompanharmos de perto todo o trabalho das costureiras", afirmou Larissa.
Em São Paulo, as camisas da Ymagy são feitas no ateliê Doria Grasso, na Vila Leopoldina, por quatro costureiras. "É uma costura bem manual, feita uma a uma, pois as camisas da Ymagy são diferentes", afirmou Simone Lopes, 48, dona do ateliê.
Marca tem seis modelos; cada um custa R$ 299
A empresa lançou a marca em setembro deste ano. São seis modelos: três femininos (Nara, Helo e Carmy) e três masculinos (Veloso, Villarino e Orfeu). Os tamanhos são o padrão P, M e G; apenas um modelo (Nara e Veloso) tem numeração do PP ao GG. As camisas têm forro duplo na região das axilas para conter o suor. Cada peça custa R$ 299.
As peças são vendidas no site da marca (ymagy.com) e por meio da Ecobrindes, representante comercial da empresa.
A partir de 2020, a marca pretende lançar um modelo a cada três meses. "Queremos fazer as camisas de acordo com o biotipo da pessoa", afirmou Talita.
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