Como borra de café vira colares, pulseiras e relógios que custam até R$ 180
Aquele pó de café que sobra no coador e é descartado depois de passar pela água fervente é a principal matéria-prima da Recoffee Design. Criada em agosto de 2018, a empresa produz 70 itens com borra de café, passando por colares, pulseiras e brincos, até bandejas, relógios, revestimentos de parede e botões de roupas.
A ideia do negócio foi da designer Ana Paula Naccarato, de Ribeirão Preto, no interior de São Paulo, que tinha o desejo de criar um material sustentável a partir de um resíduo orgânico muito presente no dia a dia. Ela desenvolveu os produtos para a conclusão do curso de graduação de design de produto na FAAP (Fundação Armando Alvares Penteado), concluído em 2017.
"Minha ideia foi questionar aquilo que jogamos fora diariamente, buscando entender como nos relacionamos com nossos resíduos. Queria encontrar um novo destino para estes resíduos, que fossem mais positivos e trouxessem de volta o valor para aquele material descartado por meio do design", explica Ana Paula.
A designer reforça que o resíduo do café é pouco reutilizado no Brasil, ainda assim, apenas como fertilizante. "Em alguns países já existem iniciativas que também utilizam a borra para fazer copos e produtos, mas com processos de produção diferentes do nosso."
Para criar a Recoffee, Ana Paula se uniu a Sergio Luiz Camargo, um biólogo especialista em tecnologias sustentáveis. Camargo ajudou a implementar processos dentro do conceito de upcycling, nome dado a transformação de resíduos ou produtos indesejados em novos materiais.
"Fazemos um processo totalmente artesanal, a mão, de baixo impacto ambiental, usando resinas vegetais. Evitamos o uso de energia ao longo de todo o processo. O foco de sustentabilidade é muito presente na nossa proposta", explica Camargo.
As peças da Recoffee são desenvolvidas em um ateliê com sede em Ribeirão Preto, no interior de São Paulo. Primeiro a borra de café passa por um processo de secagem sob o sol ou estufa, nos períodos de chuva, que dura um ou dois dias. Depois são adicionadas resinas vegetais. Em seguida, o composto é despejado nos moldes até secar. Uma peça grande pode demorar até 12 horas para ficar pronta. A empresa patenteou o processo de produção.
Ana Paula conta que a Recoffee utiliza um material de origem vegetal com um "aglutinante com características de impermeabilização", que faz com que as peças tenham uma resistência e durabilidade maior. A vida útil dos objetos, entretanto, depende de alguns cuidados.
"Costumamos compará-las a uma madeira envernizada, por exemplo, que exige cuidados maiores com exposição a chuva e sol por ser um material natural", diz.
Todos os meses a Recoffe utiliza uma média de 100 quilos de borra de café, a matéria-prima é fornecida por cafeterias da região de Ribeirão Preto. O número de peças produzidas é flutuante, assim como o faturamento, que já chegou a R$ 50 mil mensais.
As vendas ocorrem por meio do e-commerce, mas a empresa tem parceiros em lojas físicas em Curitiba (PR) e Campinas (SP). Há itens a partir de R$ 50, como as pulseiras, até R$ 180, preço dos relógios.
Aumentar a produção sem perder o conceito
Um dos desafios da marca é alavancar a produção sem perder o conceito de sustentabilidade. O objetivo dos sócios é tornar o composto que produz as peças cada vez mais sustentável, aumentando os componentes recicláveis e evitando o uso de derivados de petróleo. "Também queremos aumentar a abrangência com parceiros de venda", afirma Camargo.
"Hoje nosso desafio ainda é continuar a produzir de forma artesanal buscando reutilizar cada vez mais resíduo. A produção em pequena e média escala às vezes esbarra no volume de resíduo, que deixa de ser desviado do lixo, até a transformação de valor em um produto.
Mas ainda estamos entendendo qual a melhor maneira de conciliar tudo sem nos perder de nosso conceito", complementa Ana Paula.
Para a designer, o brasileiro está começando a se interessar mais por produtos cuja fabricação não agride o meio ambiente. "Estamos tendo a chance de olhar para as catástrofes naturais que estão acontecendo e refletir sobre nossos hábitos. Isso vai desde o copinho plástico descartável que é produzido em segundos e utilizado em apenas alguns minutos, mas que ficará muitos anos na Terra se degradando no meio ambiente, até o consumo de roupa que a gente compra com ideia de quantidade ao invés de qualidade."
Para Ana Paula, entretanto, ainda é preciso avançar na questão sobre o consumo de produtos muito baratos que levam segundos para serem fabricados, mas que serão descartados em um curto prazo gerando cada vez mais lixo tóxico. "Acredito que o brasileiro tem um pouco de resistência em sair do seu comodismo, e se questionar já implica sair do conforto. Mas, ainda assim, fico feliz de ver que muitas empresas já estão olhando mais para pilares que englobam a sustentabilidade."
A analista de novos negócios Verônica Palmeira Guimarães Caldo, de 25 anos, já comprou brincos e colares da Recoffee e disse que a princípio o que mais a atraiu foi a beleza e a originalidade das peças. O propósito sustentável do negócio, entretanto, também foi um chamariz. "Após entender a proposta, não tive dúvidas em consumir."
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