No sertão pernambucano, médicos usam de WhatsApp a mercadinho para informar
Uma rede de médicos em Salgueiro, cidade de 60 mil habitantes no sertão pernambucano, resolveu abrir seus contatos e está ajudando a população com informações sobre o coronavírus. A ideia deles é evitar o pânico e fazer com que o único hospital da cidade não fique superlotado. O estado registrou ontem sua primeira morte por Covid-19.
Como a tecnologia não chega a todos, a busca não se restringe aos meios eletrônicos. "Tem gente que não tem telefone, e às vezes ligam do telefone de amigos, de vizinhos. Já aconteceu de deixar recado no mercadinho do bairro e pedir receitas controladas. Fomos às rádios também", conta o médico Fábio Lisandro, que faz parte do grupo de cinco profissionais que se dispôs a ajudar.
Fábio sabe que, no interior do Nordeste, o médico é uma espécie de celebridade no município. "Quando voltei do Recife, há quase 8 anos, moro no mesmo lugar, faço compra no mesmo lugar, e as pessoas acabam identificando. Esses dias, porque alguns ambulatórios estão fechados, passei lá no mercadinho e renovei duas receitas", conta.
Também plantonista e atendendo no setor de urgência do hospital local, ele diz ver efeito na medida. "Isso diminuiu a demanda nas emergências da cidade."
Para Fábio, também está havendo um isolamento social importante na cidade. "As pessoas estão com medo, e o medo gera prudência", conta, citando quais são os principais questionamentos dos moradores: "Perguntam muito sobre o que tomar para a febre, o que tomar para a gripe, o que é o vírus da Covid-19. Também questionam que alimentos consumir, se devem fazer hemograma, ir a emergência."
"Trabalho de formiguinha"
A ginecologista Giannini Carvalho também está na linha de frente, e contou a Ecoa que a ação não se limita a Salgueiro. "Estou aqui há mais ou menos uns dez anos. Conhecemos a região, não só a cidade, como todo o sertão central. Aí nós, voluntariamente, decidimos entrar como soldados nesta guerra para ajudar", explica.
A médica atua em várias cidades da região e conta que, por ser conhecida, foi solicitada por autoridades a gravar áudios e vídeos desses municípios para convencer os moradores a ficarem em casa. "Ouvindo de um médio que tem credibilidade, que tem o respeito, a população está percebendo que não é brincadeira", diz.
Como os ambulatórios estão fechados por conta da Covid-19, ela resolveu dedicar todo seu tempo para atender quem a procura. "A gente tem dormido pouco desde sexta-feira (20)."
Para Giannini, trata-se de "um trabalho de formiguinha". "Nosso objetivo é que as pessoas sejam orientadas a não tumultuar os plantões. Como os ambulatórios não estão funcionando, e eu só estou atendendo emergências, acabo fazendo minha parte nessa ajuda", diz ela.
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