Projeto criado em universidade já salvou mais de 300 mil bebês no mundo
Começou em 2008 como um trabalho de faculdade e hoje já salvou mais de 300 mil vidas. Foi assim que nasceu a Embrace, uma incubadora portátil de baixo custo e que não requer energia elétrica para manter bebês prematuros aquecidos e protegidos dos riscos de um quadro de hipotermia.
A invenção, fruto de um projeto de estudantes da Universidade de Stanford, na Califórnia, foi desenvolvida para auxiliar no cuidado de recém-nascidos em áreas com pouca infraestrutura médica, como zonas rurais de países em desenvolvimento. "Nós éramos quatro estudantes sem nenhuma experiência na área médica, mas com um sonho em comum: criar uma tecnologia que poderia ajudar o mundo", conta Jane Chen, co-fundadora da empresa social Embrace Global.
O estudo inicial aconteceu no Nepal, onde a maioria dos bebês prematuros nasciam nessas regiões e os pais não conseguiam levá-los a um hospital para usufruir de uma incubadora tradicional. Foi aí que os estudantes perceberam que invenção seria ainda mais eficaz se fosse simples o suficiente para uma mãe usar em casa, mesmo sem energia elétrica.
"Nosso objetivo era como salvar bebês e não como criar uma versão mais barata daquilo que já existia. Era sobre como nós salvaríamos vidas", relembra Chen. O grupo desenvolveu uma solução bem diferente do aparelho tradicional.
Como um cueiro (tecido usado para enrolar o bebê) ou "swaddle", a incubadora portátil cria um abrigo para o bebê. A peça possui um bolso com zíper onde uma placa de cera é inserida. Para o dispositivo esquentar, basta colocar água quente na placa de cera e inseri-la no bolso, transferindo o calor para a parte interna da manta, onde o bebê fica posicionado. À prova de água e com termômetro que indica se o calor está ideal ou não, a incubadora cria um microambiente aquecido para o bebê, mantendo a temperatura entre 36° e 37° graus por até 8 horas. "Você pode reaquecer o dispositivo milhares de vezes e continuará sendo suficiente para regular a temperatura de bebês recém-nascidos", garante a criadora.
Acessível ao colo da mãe e ao bolso
Diferente das incubadoras tradicionais, a Embrace facilita o acesso da mãe ao bebê, permitindo que ela amamente e dê carinho à criança mesmo quando estiver incubada. O dispositivo pode ser higienizado com água e sabão e reutilizado por outros bebês, lembrando que a recomendação é sempre envolver o recém-nascido em uma fralda de tecido antes de abrigá-lo na incubadora.
Outra diferença significativa em relação ao modelo tradicional é o preço. Enquanto o equipamento de hospital custa entre R$ 13 mil e 20 mil, dependendo do modelo, a incubadora portátil custa cerca de US$ 200 (R$ 1 mil). Atualmente, são comercializados dois modelos, um para clínicas e outro para uso doméstico.
Projeto premiado e apoiado por Beyoncé e Obama
O produto foi lançado inicialmente na Índia, mas hoje já está presente em 22 países, principalmente em regiões menos desenvolvidas da Ásia e África. O projeto recebeu diversos prêmios na área de inovação e teve entre os apoiadores o ex-presidente norte-americano Barack Obama e a estrela mundial Beyoncé, que contribuiu para que as incubadoras portáteis chegassem a nove países da África subsaariana.
O projeto inicial saiu da sala de aula e deu origem a duas iniciativas, a Embrace Global, organização sem fins lucrativos focada em soluções para melhorar os cuidados a recém-nascidos, e a Embrace Innovations, lançada em 2012 para fabricar e comercializar a incubadora portátil e que hoje é comandada por uma empresa indiana.
Para o mercado norte-americano, em que hospitais e incubadoras são acessíveis à população, os criadores da Embrace lançaram a marca Little Lotus Baby, de "swaddle" e mantas de tecido com tecnologia capaz de manter os bebês em uma temperatura ideal. Segundo Chen, após anos colhendo depoimentos sobre o uso da incubadora portátil, foi constatada que a regulação da temperatura do bebê era um fator decisivo na qualidade do sono da criança. Para a nova empreitada, ela não abriu mão do fator social. "Trabalhamos com o modelo um para um: a cada produto vendido, nós ajudamos a salvar um bebê em um país subdesenvolvido com uma incubadora Embrace".
Apesar da criação da nova marca, a empreendedora mantém grandes planos para a Embrace Global. "Nós já ajudamos a salvar mais de 300 mil bebês, mas há mais de 15 milhões de bebês que precisam de ajuda. Estamos trabalhando para uma expansão global do produto". E completa: "ver alguém ou alguma criança morrer porque não foi capaz de ter acesso a uma tecnologia ou serviço de saúde é a maior injustiça do mundo para mim."
Útil para o Brasil
De acordo com a pediatra Gabriele Basaglia Teodoro, especializada em neonatologia pela Unifesp e médica da UTI neonatal do Hospital Samaritano de Campinas, a incubadora portátil poderia auxiliar na redução da mortalidade de bebês recém-nascidos. "As mortes no período neonatal, até 28 dias de vida, ainda são a principal causa da mortalidade infantil no Brasil". Segundo dados da ONU de 2018, a taxa de mortalidade de neonatais no Brasil é de 8,13 a cada mil crianças.
Para a neonatologista, a assistência perinatal existente precisa melhorar. "Ainda encontramos falhas na estrutura de cuidados, tanto em número quanto em qualidade. Não precisamos ir muito longe para ver essas falhas, mesmo no Sudeste, em cidades pequenas ou em áreas de populações ribeirinhas, a assistência deixa a desejar. Com certeza, um projeto como esse poderia ser útil para o Brasil", defende.
Entenda a importância da incubadora para a vida do bebê
"A incubadora é primordial para um bebê prematuro, visto que ele não tem capacidade de regular sua temperatura. Prematuros precisam ficar em incubadora para controle de temperatura e da umidade do ambiente, e para observação contínua do padrão respiratório". Caso o recém-nascido não tenha acesso ao equipamento, ele pode ficar desidratado, hipotérmico e até morrer.
A exposição à baixa temperatura corporal está diretamente relacionada a maiores índices de morbimortalidade. "Se hipotérmico, o bebê vai instabilizar, o que dificulta tanto a parte respiratória, podendo precisar de intubação, como a parte metabólica, podendo ocorrer hipoglicemia. Também pode ocorrer sangramento intracraniano, além de atraso de desenvolvimento motor e cognitivo", alerta a médica.
Já para bebês não prematuros, a incubadora é necessária para o tratamento de doenças respiratórias ao nascimento. "São situações frequentes e comuns. O tempo varia de acordo com cada doença respiratória ou mesmo da prematuridade, de dois a três dias até meses, e quanto mais prematuro mais tempo pode precisar da incubadora", explica.
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