Saúde mental na pandemia mobiliza coletivos e universidades pelo país
Antes da pandemia, Djenane Mendonça e outros voluntários costumavam sair às ruas de Recife para ouvir as pessoas, parte do projeto Escutatória, ação que abrange profissionais de diversas áreas a fim de oferecer suporte emocional a quem precisa. Diante do novo coronavírus, com as medidas de isolamento social, a iniciativa presencial ficou inviável. Justo em um momento em que a saúde mental da população é um tema tão caro. A alternativa: migrar para o atendimento por telefone.
Para o psicólogo e pesquisador da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Felipe Ornell, a falta de políticas públicas de atenção psicossocial é questão histórica no país. Clínicas de atendimento das universidades e iniciativas da sociedade civil acabam se organizando para suprir a demanda. Ornell co-assina um artigo publicado na última sexta-feira (3) na Revista Brasileira de Psiquiatria, chamado "Medo na Pandemia e Covid-19: ônus para a saúde mental e estratégias" (em tradução livre; o texto foi publicado em inglês).
Ele enxerga três níveis de atenção fundamentais para enfrentar o cenário. "Primeiro, o da informação. Em tempos de fake news, informar a população de maneira correta é essencial", diz. "O segundo nível são os primeiros socorros psicológicos para quem está precisando de um suporte. Já o terceiro são as medidas de acompanhamento para pessoas que já sofriam com transtornos psiquiátricos. Por exemplo, pacientes com TOC [transtorno obsessivo-compulsivo] que, com o medo de contaminação, voltam a ter 'rituais' de limpeza. Esses pacientes provavelmente já estão sofrendo com a pandemia e podem ter recaídas", detalha Felipe.
Foi pensando nas consequências mentais de ter o cotidiano alterado que profissionais da psicologia e psicanálise, além de grupos transdisciplinares como o pernambucano, passaram a oferecer atendimentos gratuitos. Antes realizadas presencialmente, as interações têm acontecido por chamadas de vídeo, ligações ou até mesmo transmissões em redes sociais.
"Ainda estamos nos adaptando às alterações que o isolamento tem provocado em nosso trabalho e em nossas relações. Não ter contato social intensifica a sensação de solidão. Nesse sentido, é fundamental criar maneiras de manter o vínculo com pessoas importantes na nossa vida, mesmo que por meio de uma tela", diz Lucas Veiga, mestre em psicologia pela Universidade Federal Fluminense (UFF).
Em seu perfil no Instagram, Lucas vem fazendo transmissões aos domingos, às 19h, a fim de conversar sobre cuidados possíveis no momento.
Para o psicólogo, apesar da importância de debater o que estamos vivendo e pensar caminhos, não há uma regra de como atravessar o período. "Cada pessoa reage e sente de um jeito. Essa situação de quarentena é inédita para todos, então dizer o que as pessoas devem fazer ou como devem levar a vida pode atrapalhar um processo singular."
O pesquisador Felipe Ornell crê ser essencial compreender os anseios que estamos tendo. "Medo de contaminação? Medo de não conseguir pagar as contas? Medo de perder algum familiar? Entender quais são os medos e o que eles acionam em você", diz.
Não tem problema estar sofrendo, afinal, é uma situação atípica: fomos obrigados, do dia para a noite, a mudarmos a nossa rotina. Então, o que esse sofrimento muitas vezes mostra é que somos humanos. O que se deve observar é a intensidade. O que ele está causando e o quanto afeta a sua rotina. E aí procurar uma ajuda adequada - Felipe Ornell, psicólogo e pesquisador da UFRGS
De ações dentro de universidades a coletivos autônomos, passando por uma iniciativa do Estado, Ecoa reuniu abaixo serviços gratuitos voltados para a saúde mental, online ou por telefone.
Para todo o Brasil
Rede de Apoio Psicológico - Por meio de uma plataforma, psicólogas e psicólogos voluntários oferecem apoio e suporte emocional para profissionais de saúde que estão na linha de frente do combate ao coronavírus. Mais de 3 800 psicólogos voluntários já se inscreveram e mais de 400 conexões foram realizadas na primeira semana.
Para participar: profissionais de saúde devem preencher um formulário no site da plataforma.
SÃO PAULO
Instituto de Psiquiatria da FMUSP - Uma equipe de psicoterapeutas está oferecendo atendimento online gratuito para pessoas acima de 60 anos, que apresentem quadro de ansiedade, medo excessivo, depressão ou agressividade. A ajuda psicológica poderá ter uma ou duas sessões de 20 minutos, de segunda a sexta-feira, entre 8h e 18h.
Para participar: Basta se inscrever por e-mail.
Varandas Terapêuticas - O Instituto Gerar de Psicanálise está fazendo grupos mediados por psicanalistas, com pagamento voluntário, conforme disponibilidade e escolha de cada um.
Para participar: os interessados devem enviar e-mail informando os períodos do dia de preferência, manhã, tarde ou noite. Mais informações: 0/xx/11 3032-6905 ou 0/xx/11 97338-3974
Quatro Estações Instituto de Psicologia - Com o objetivo de cuidar do profissional de saúde que está na linha de frente do enfrentamento a pandemia do coronavírus, o instituto de psicologia paulistano está oferecendo suporte online.
Para participar: os interessados devem enviar um e-mail.
Ybrida Consultoria - Um canal de escuta e acolhimento foi aberto pela clínica em São Paulo para profissionais de saúde que precisam de auxílio psicológico nesse período de coronavírus.
Para participar: 0/xx/11 95610-6550 (Daniela Bernardes).
Psicanálise na Praça Roosevelt - Os atendimentos gratuitos que antes eram feitos presencialmente agora estão acontecendo online, com sessões de vídeo, aos sábados, das 11h às 13h.
Para participar: todo sábado, a página do coletivo abre uma lista de espera. Os interessados devem mandar uma mensagem para o perfil.
Campinas
Psicanálise na Praça - O coletivo de psicanalistas está realizando sessões online, individuais e gratuitas.
Para participar: basta entrar em contato pelo número 0/xx/19 98957-7185 nos dias de atendimento (quartas das 19h às 22h, e sábados das 9h às 12h).
São Carlos
Coletivo Psicanálise de Rua - Todos os sábados, das 11h às 13h30, o coletivo oferece atendimento gratuito e online para moradores da cidade do interior do Estado e localidades próximas.
Para participar: basta enviar uma mensagem na página do coletivo no Facebook.
RIO DE JANEIRO
Instituto EntreLaços - Uma equipe de psicólogos do Ambulatório de Intervenções e Suporte ao Luto do Instituto Entrelaços abriu uma linha telefônica para oferecer suporte emocional.
Para participar: 0/xx/21 97504-6070. Horário das 9h às 0h.
Secretaria de Estado de Vitimados - O Governo do Estado do Rio de Janeiro anunciou que oferecerá atendimento psicológico gratuito a pessoas do grupo de risco para o novo coronavírus. A Secretaria já vem atendendo familiares de vítimas da Covid-19.
Para participar: Entrar em contato pelo WhatsApp (0/xx/21 99408-3287), por e-mail ou pelas redes sociais da secretaria (@sevitrj)
PARANÁ
Trilhar Instituto de Psicologia - Treinados para fazer atendimento emergencial, os profissionais de saúde do instituto estão oferecendo suporte e apoio emocional online.
Para participar: 0/xx/41 99894-4054
PERNAMBUCO
Escutatória - Em Recife, o projeto vai às ruas para ouvir quem deseja falar sobre qualquer situação pela qual esteja passando. Com a quarentena, a iniciativa está oferecendo ajuda por meio de ligações.
Para participar: É preciso enviar o número de telefone por mensagem direta no perfil do projeto no Instagram
BRASÍLIA
Coletivo Psicanálise na Rua - O coletivo está fazendo os atendimentos online. Cada demanda é encaminhada a psicanalistas que entram em contato. Os atendimentos são gratuitos e restritos a residentes do Distrito Federal e entorno.
Para participar: enviar mensagem na página do Facebook do coletivo, agendando nos dias e horários dos plantões: sextas-feiras, entre 16h30 e 18h30, e sábados, das 10h às 12h.
RIO GRANDE DO SUL
Sociedade Psicanalítica de Porto Alegre - Um atendimento solidário é oferecido para profissionais de saúde e população em geral.
Para participar: é preciso preencher um cadastro no site da Sociedade Psicanalítica de Porto Alegre. Na sequência, os profissionais responsáveis entram em contato.
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