Pesquisadores da USP descobrem composto que pode amenizar efeitos da químio
Pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP) desenvolveram um composto que combinado à uma substância já conhecida pode ajudar a minimizar os efeitos colaterais da quimioterapia realizada nos tratamentos contra o câncer de mama. A próxima fase é testar a experiência em animais, depois fazer análises clínicas em humanos.
A pesquisa foi feita por um grupo de estudos de química medicinal e biológica do Instituto de Química de São Carlos da USP e está sendo desenvolvida há cinco anos. A substância já conhecida é a doxorrubicina, um quimioterápico usado no tratamento de diversos tipos de tumores, responsável por gerar efeitos como náuseas, queda de cabelo e perda de peso.
"Combinamos essa substância que gera efeitos colaterais com uma outra produzida por nós que não tem efeito. O que encontramos é que a combinação tem a mesma eficácia mesmo com a redução de 95% da concentração da doxorrubicina", explica a bióloga Talita Alvarenga Valdes, autora da pesquisa desenvolvida em seu mestrado.
O novo composto tem ainda duas grandes vantagens, de acordo com os pesquisadores, como o potencial de bloquear uma eventual migração da doença pelo organismo, o que é conhecido como metástase. Além disso, a utilização da doxorrubicina em menores quantidades pode baratear o tratamento.
Talita explica que o teste foi feito em vários tipos de tumores, mas o resultado mais significativo foi no câncer de mama. A bióloga reforça que este tipo de câncer costuma ser agressivo e os efeitos da quimioterapia, por consequência, são fortes. "Se a gente conseguir diminuir esse efeito poderemos ajudar pacientes a ter uma recuperação melhor, além de melhorar a autoestima."
Para Flavia Flores, fundadora da ONG Instituto Quimioterapia & Beleza, o maior medo das mulheres que enfrentam o câncer de mama é perder os cabelos. "A perda dos pelos de modo geral assusta, a gente perde a sobrancelha, os cílios. Perde a cor, fica com a pele meio acinzentada. Manter todos os pelos ajudaria muito na autoestima e na recuperação mais rápida da pessoa", diz a ex-modelo que enfrentou um câncer agressivo há sete anos.
Para ela, a redução dos efeitos da químio também ajudaria a melhorar a forma de as pessoas encararem a doença. "Hoje os efeitos colaterais estão mais amenos do que eram há dez anos. Algo ainda mais eficaz ajudaria a desmistificar o tratamento. Sempre digo que se olhar de perto o câncer não é um bicho-de-sete-cabeça, é de duas."
Flavia teve o diagnóstico de câncer de mama em 2012, precisou fazer a mastectomia dos dois seios, passou por 30 sessões de quimioterapia, 28 radioterapias, e curada, engravidou naturalmente aos 41 anos. Hoje ela mora nos Estados Unidos e, por meio do instituto, oferece apoio psicólogo às pacientes que tratam câncer de mama, oficinas de maquiagem e distribuição de lenços para a cabeça.
Pesquisa da USP está na fase inicial
Embora a pesquisa da USP tenha surtido resultados positivos, ela ainda está em fase inicial. "Até virar uma proposta de cura e melhora do tratamento da doença é necessário anos de pesquisa e bastante investimento. Mas de qualquer forma é muito gratificante ver o resultado do nosso esforço", explica Talita.
De acordo com Andrei Leitão, professor do Instituto de Química e orientador do estudo, a análise de compostos químicos é complexa e passa por várias etapas. Neste caso específico, somente na fase inicial foi envolvida a síntese de mais de 600 substâncias químicas em um grupo de pesquisadores formado por mais de 20 pessoas. "O projeto se iniciou há cinco anos, sendo que somente os diversos testes em células demandaram dois anos."
Ainda não se sabe se o composto criado possui desvantagens. Segundo Leitão, os estudos que o grupo está desenvolvendo ainda vai debater esse tipo de questão. "Precisaremos verificar agora a segurança desta combinação, sendo que o próximo passo envolverá estudos em animais, o que demandará um tempo maior."
Leitão explica que os pesquisadores pretendem verificar em ratos que serão usados como modelo para o câncer de mama metastático se esta combinação será eficaz para levar a morte das células e ainda qual será a dosagem necessária para observar o efeito. "Com isto teremos uma prova de conceito, que nos dará subsídio para continuarmos ou não os estudos. Se os resultados forem animadores, teremos que fazer uma parceria com uma indústria farmacêutica, devido à complexidade e custos para o desenvolvimento deste tipo de pesquisa."
O Instituto Nacional do Câncer (INCA) estima que haverá 66.280 novos casos de câncer em cada um dos próximos três anos. São cerca de 61 casos novos a cada 100 mil mulheres. O câncer de mama é o mais incidente entre as mulheres no mundo todo. Em 2018, foram registrados, de acordo com o INCA, 2,1 milhões de casos novos, o equivalente a 11,6% de todos os cânceres estimados.
ID: {{comments.info.id}}
URL: {{comments.info.url}}
Ocorreu um erro ao carregar os comentários.
Por favor, tente novamente mais tarde.
{{comments.total}} Comentário
{{comments.total}} Comentários
Seja o primeiro a comentar
Essa discussão está encerrada
Não é possivel enviar novos comentários.
Essa área é exclusiva para você, assinante, ler e comentar.
Só assinantes do UOL podem comentar
Ainda não é assinante? Assine já.
Se você já é assinante do UOL, faça seu login.
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Reserve um tempo para ler as Regras de Uso para comentários.