Pandemia deixa 62 milhões vulneráveis no mercado de trabalho no Brasil
Já estão aprovadas 45 milhões de pessoas para receber a renda básica universal do governo federal por conta da economia parada diante da Covid-19, mas esse número teria que aumentar 37% para atingir a real fatia da população afetada. Essa é a avaliação de José Ribeiro, coordenador de promoção do trabalho decente da OIT (Organização Internacional do Trabalho).
"Hoje, no Brasil, aproximadamente 62 milhões têm vulnerabilidade no mercado de trabalho. Isso inclui também uma parte de quem está formalizada, como as trabalhadoras domésticas com CNPJ, mas que são afetadas pelo impacto do coronavírus", afirmou Ribeiro em seminário online promovido pelo Pacto Global, entidade da ONU para o setor privado, e transmitido por Ecoa nesta manhã.
Usando as estatísticas atualizadas do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), o cálculo soma os 12 milhões de desempregados com os 38 milhões de trabalhadores informais — "isso já dá mais que as populações da Argentina ou da Espanha", comparou Ribeiro —, mais os desalentados (4,7 milhões que desistiram de buscar emprego), os trabalhadores por conta com CNPJ (5,3 milhões) e as empregadas domésticas com CNPJ (1,6 milhão).
Ribeiro também apontou que, nessas circunstâncias, aumenta a presença de trabalho infantil e trabalho escravo.
As empresas têm de ficar atentas em todas as suas cadeias de produção, porque isso é uma tendência histórica nas calamidades. As famílias ficam mais vulneráveis e aceitam qualquer tipo de serviço para ter um rendimento.
José Ribeiro, coordenador de promoção do trabalho decente da Organização Internacional do Trabalho
Para o psicanalista e especialista em psicodinâmica do trabalho Laerte Sznelwar, que também participou da conversa, duas categorias ganharam destaque com essa crise. "Os entregadores viraram a única via de suprimento, mas não conseguiram mais reconhecimento por isso, inclusive em alguns casos piorou a remuneração. Entre a invisibilidade e o desprezo por serem símbolo do trabalho precarizado, eles dificilmente vão se emancipar e virar profissionais. O outro grupo são os trabalhadores da saúde. Agora, eles foram alçados a heróis, mas eles vivem em condição de risco desde sempre. O mais provável é que voltem ao ostracismo depois disso tudo."
Ribeiro lembrou que os trabalhadores da saúde foram os que mais tiveram acidentes de trabalho em 2019, com mais de 52 mil atendimentos, e esse primeiro lugar no ranking deve se repetir com o cenário pandêmico de 2020.
Volta à extrema pobreza
No universo hospitalar, as mulheres representam 72,8% da força de trabalho no Brasil, lembrou Angela Terto, assessora nacional de direitos humanos da ACNUDH (Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos), que também participou do seminário.
O dado foi divulgado nesta terça-feira (21) em novo relatório da Cepal (Comissão Econômica para América Latina e Caribe), orgão também ligado à ONU. Esse levantamento também apontou que 30 milhões de latino-americanos voltaram para a pobreza, incluindo aqueles que haviam saído dessa condição durante o boom de exportação das commodities, que terminou em 2014.
Denise Hills, diretora global de sustentabilidade da Natura, também participou do seminário e apresentou as iniciativas da indústria de cosméticos nesse cenário. "Nunca o tema direitos humanos esteve tão presente quanto agora na nossa empresa. E isso vai modificar as mentalidades e deve fazer parte do 'novo normal' depois que a pandemia passar", disse a executiva.
Ela lembrou em sua fala que a Natura tem políticas para diminuir o impacto da violência doméstica durante a quarentena, ajudando mulheres a avisarem de forma segura, em rede, quando são potenciais vítimas de agressões de seus parceiros.
Assista abaixo ao painel na íntegra. O encontro faz parte da série Quarentena com o Pacto, série de seminários online que discute a relação da Covid-19 com temas ligados à sustentabilidade.
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