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Cuiabá aluga hotel para pessoas em situação de rua durante a pandemia

O projeto em Cuiabá dá um teto para quem não tem no período e gera receita para o hotel - Divulgação
O projeto em Cuiabá dá um teto para quem não tem no período e gera receita para o hotel Imagem: Divulgação

Carina Martins

Colaboração para Ecoa, em São Paulo

27/04/2020 19h36

Uma ação da Prefeitura de Cuiabá está mitigando dois problemas ao mesmo tempo. No projeto, batizado de "Hotel Albergue", os quartos obrigatoriamente ociosos de um estabelecimento foram locados pela cidade para abrigar pessoas em situação de rua durante a pandemia. Assim, os cidadãos mais vulneráveis podem "ficar em casa" e se protegerem do vírus - o que, obviamente, ajuda a proteger também o sistema hospitalar e toda a população -, e o hotel, que estava fechado, passa a ter alguma receita. Segundo a Prefeitura, foi firmado um contrato de três meses, podendo ser prorrogado por mais três, no valor de R$ 80,00 a diária por abrigado, já inclusas todas as refeições.

Durante os dois dias de ação específica, assistentes sociais abordaram os interessados e os encaminharam para cadastro no ginásio municipal. Lá, os cidadãos receberam todas as informações sobre acolhimento, kits de higiene pessoal, toalhas, cabide solidário, corte de cabelo, atendimento médico com vacinas e a possibilidade de tomar banho. Em seguida, os que aceitaram foram levados para o hotel.

A ação é sensível aos diferentes aspectos da população em situação de rua e, portanto, não é compulsória. Mas, nos dois dias de ação específica, houve uma adesão de 83 pessoas para 120 vagas - o trabalho permanente de acolhimento da população em situação de rua continua.

Cuiabá aluga hotel para pessoas em situação de rua durante a pandemia - Reprodução - Reprodução
Hotel alugado em Cuiabá no projeto que visa proteger a população que vive na rua
Imagem: Reprodução
Com as novas vagas, o sistema municipal aumentou sua capacidade de acolhimento, ainda que temporariamente, de 150 para 270 pessoas.

Quartos da quarentena

Uma série de organizações e coletivos têm se unido desde o início da pandemia, cobrando a adoção de medidas semelhantes em diversos lugares do Brasil. A campanha Quartos da Quarentena pede que governantes de SP e BH, por exemplo, sejam pressionados a adotarem medidas similares. Segundo o manifesto, "São Paulo tem mais de 125 mil leitos de hotéis que estão atualmente com taxa de ocupação abaixo de 10% e que não precisam ficar vazios: podem ajudar a salvar vidas". A ideia é criar programas de ocupação não apenas para a população de rua, mas também trabalhadores da saúde ou famílias que dividem poucos cômodos. No Rio, por exemplo, há uma medida municipal para abrigar idosos.

Sociedade civil "garante" HC

Momentos de crise generalizada são férteis para o nascimento de exemplos interessantes de políticas públicas, capazes de transformações profundas a longo prazo. Mas, ainda que as ações de emergência de maior abrangência sigam sendo exclusivas do Estado, a mobilização da sociedade civil quase sempre pode ser mais ágil na oferta de alívio imediato. É graças a ela, por exemplo, que o superintendente do Hospital das Clínicas da USP, Antonio José Rodrigues Pereira, não acredita que haverá colapso desse equipamento específico. Mesmo com 98% dos leitos destinados à Covid-19 já ocupados.

Isso porque, além de R$ 24 milhões em doações, o HC terá seus leitos de UTI para Covid-19 dobrados com a adoção de mais 100 vagas por hospitais particulares. "Temos problemas de equipamento sim, mas de menor complexidade, porque, mais uma vez, a sociedade se engajou e nos trouxe diversas doações em dinheiro e isso será transformado em equipamentos", diz. "Temos problemas de recursos humanos, mas grandes hospitais particulares, como Sírio-Libanês, o HCor [Hospital do Coração] e a Rede D'Or se movimentaram para criar unidades de terapia intensiva."

Menos mentiras no WhatsApp

Depois de se ver como peça significativa em questões políticas, eleitorais e até em linchamentos, o WhatsApp vem, desde 2018, criando medidas para restringir o encaminhamento de mensagens que já tenham sido mandadas para muitas pessoas. Na prática, criando limites para mensagens com "comportamento" de boato, sem precisar julgar o conteúdo. Em meio ao perigo da onda de desinformação durante a pandemia, a empresa restringiu pela terceira vez o limite de envio dessas mensagens - que agora é para apenas um contato de cada vez. Hoje, um porta-voz do WhatsApp anunciou que a estratégia parece estar dando resultado. O reenvio de mensagens caiu 70% desde que a mudança começou a valer, no começo de abril.

Menos vítimas de mentiras

Isso significa que, talvez, além de menos gente sendo iludida com promessas de curas milagrosas ou se expondo a falsas curas perigosas, há menos gente sendo manipulada por mentiras, e menos vítimas dessas mentiras. Como, por exemplo, a enfermeira baiana que viu um vídeo que fez para tranquilizar sua família tornar-se arma de guerra ideológica. Conheça a história de Ana Cássia Tupiniquim, trabalhadora da linha de frente em uma hospital referência de coronavírus e estrela involuntária de fake news negacionista da pandemia.