Trabalhadores essenciais são, ao mesmo tempo, heróis e reféns
A gente se sente melhor chamando de herói mas, tantas e tantas vezes, estamos falando de reféns: o trabalhador, sempre, trabalha porque precisa. Pode gostar do que faz, pode até fazer para ajudar. Mas o homenageado do 1º de Maio é, por definição, a classe que não tem outra opção de sustento além da própria força de trabalho. Mesmo profissionais da saúde não necessariamente se sentem bem, aptos ou seguros em arriscar suas vidas durante um momento como o que vivemos.
O que dizer de caixas de supermercado, entregadores, porteiros, faxineiros, motoristas? Pode (deve) homenagear, aplaudir, agradecer. Mas ninguém deveria ser obrigado a ter coragem para ganhar a vida. Por isso, trabalhadores precisam de proteção, sempre. E nunca nenhuma categoria conquistou direitos simplesmente por ter feito um bom trabalho. Lembre-se de seus companheiros heróis também em outros maios, quando eles estiverem em luta por mais proteção e melhores condições. Toda vez que um trabalhador tem voz, esta é uma boa notícia.
Notícias do front
Não é fácil ouvir o que a enfermeira Talita Raque dos Santos, do Hospital Universitário da USP, tem a dizer. Mas é bom. Durante seus turnos de 8 horas, ela não pode comer ou fazer xixi, porque precisa se manter paramentada para evitar contágio. "Tem alguns profissionais que já choraram porque não gostariam de atender pacientes com suspeita ou conformação de Covid por medo. Medo de transmitir pros pais, porque (...) cuidam de pais idosos", conta. "É desesperador ver tanta gente descumprindo a quarentena como se nada tivesse acontecendo. Saibam: não vai ter UTI pra todo mundo".
Quase fechado
Se você não acompanhou a política de sucateamento do Hospital Universitário da USP nos últimos anos, aproveite o feriado para pesquisar, e lembre-se da enfermeira Talita.
Para todos
"É preciso ter empatia e olhar para o próximo. O aumento da desigualdade é um dano para todos os brasileiros. Não existe crescimento possível em qualquer aspecto quando não é para todos. Precisamos criar modelos econômicos solidários", diz Gilson Rodrigues em artigo aqui em ECOA hoje. Gilson é um dos maiores líderes comunitários do Brasil, há anos presidente da União de Moradores de Paraisópolis, favela com mais de 100 mil habitantes na zona sul de São Paulo. Hoje, Paraisópolis vive uma bem-sucedida experiência, criada pela própria comunidade organizada, de combate ao coronavírus e apoio aos moradores mais vulneráveis.
O outro trabalho
O ex-ala da seleção, Marcel de Souza, ídolo do basquete brasileiro, Nicole Silveira, atleta de skeleton (modalidade olímpica de inverno), e Ben-Hur Sturaro, ciclista de estrada são atletas que têm também outras profissões. E acabaram na minha de frente dos trabalhadores essenciais durante a pandemia: Marcel é médico, Ben-Hur, bombeiro e Nicole, enfermeira. Eles contam aqui suas trajetórias como atletas e como vêm enfrentando o novo dia a dia no trabalho.
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