Máscaras de mergulho são adaptadas para auxiliar tratamento da Covid-19
Um equipamento de segurança para práticas esportivas dentro d'água está sendo usado para ajudar a salvar vidas. Adaptadas com base em pesquisa, as máscaras de mergulho vêm se tornando aliadas no tratamento da Covid-19. Um projeto desenvolvido no interior de São Paulo está produzindo máscaras para hospitais de dezenas de municípios brasileiros, que as estão usando em caráter experimental, a fim de auxiliar no tratamento de casos menos graves da doença. A iniciativa ainda aguarda regulamentação da Anvisa.
O projeto é da Organização Não-Governamental (ONG) Expedicionários da Saúde, com apoio de desenvolvedores do Centro de Tecnologia de Inovação (CTI) Renato Archer, em Campinas (SP). Nele, a máscara de mergulho com snorkel passou por um processo de "desmonte" para ser analisada em computadores. A partir daí, um protótipo em 3D foi desenvolvido.
Victor Luiz de Paula Souza, voluntário da ONG, explica que esse tipo de máscara foi escolhido por ter uma vedação mais eficaz, sendo uma terapia não-invasiva. "Com as adaptações que fizemos, conseguimos manter o ar pressurizado na região respiratória do paciente, e todo ar é canalizado em uma válvula de pressão, e só sai depois de passar por um filtro", conta.
Uma das etapas do tratamento da Covid-19 é a intubação, um processo onde é colocado um tubo pela garganta do paciente para que ele possa ser conectado a um respirador. O método é considerado por muitos médicos como "sofrido", também perigoso aos profissionais, ainda mais lidando com doenças contagiosas. "Há a dispersão de uma quantidade maior de aerossóis, que são partículas pequenas contaminadas com o vírus havendo maior risco de contaminar os profissionais próximos, assim como o local onde está o paciente", explica o cardiologista Hélio Castello.
A ideia de fazer uma máscara que pode ser conectada ao respirador foi baseada em um projeto similar feito na Itália, durante o período que o país teve o maior índice de contaminação diária. Só que, no caso da versão europeia, as saídas de ar ficavam na parte de baixo do equipamento e a vedação não era total.
Ajuda para profissionais de saúde
A máscara criada em Campinas também pode ser utilizada como forma de isolamento pelos profissionais da saúde. Para isso, um segundo dispositivo, aprimorado pelos profissionais do CTI, permite que o ar entre, seja filtrado e livre de qualquer tipo de contaminação.
"Nós utilizamos programas de computador para mexer com essa máscara virtualmente, e todas as peças foram minuciosamente estudadas para que tudo se encaixe perfeitamente e a vedação seja eficaz", afirma o chefe de divisão de técnicas sociais do CTI, Fábio Noritomi.
Hoje, o centro de tecnologia tem capacidade para produzir 400 máscaras por semana. O número pode chegar a 450, caso haja aumento na demanda. "O CTI tem uma estrutura moderna que permite a impressão rápida desses modelos 3D com grande precisão. Isso facilita o trabalho e conseguimos entregar mais máscaras em menos tempo", explica Marcelo Fernandes de Oliveira, coordenador de tecnologia da instituição.
As bases originais foram doadas por uma loja de equipamentos esportivos. Victor explica que foram cedidas 2,2 mil máscaras para o projeto, mas que a necessidade é muito maior em todo o país. "A gente estima algo em torno de 30 mil máscaras, se a situação não piorar."
As máscaras ainda precisam ser homologadas pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). O processo está em andamento. "Os primeiros testes apontam eficácia do sistema de vedação e filtragem do ar, então estamos confiantes que a autorização vai sair logo."
O adaptador tem duas saídas conectadas na máscara. Por uma delas, chega ventilação artificial para o paciente. Na outra, sai o ar que o paciente libera, com alto risco de contaminação. Além disso, a vedação da máscara não deixa o ar escapar, o que dá maior segurança ao profissional da saúde. A respiração do paciente passa por um filtro e chega a uma válvula. O médico deve ajustá-la de maneira que a pressão de respiração seja controlada para cada paciente.
Testes vêm dando bons resultados
A distribuição das máscaras para os testes começou em Manaus (AM) após a lotação total dos leitos de UTI, registrada no fim de abril. Aos poucos, o projeto chegou a Belém (PA) e outras 11 cidades do entorno; Santarém (PA) e mais cinco municípios ao redor; Campinas (SP); São Paulo (SP) e 11 cidades da Grande São Paulo; Botucatu (SP); São José dos Campos (SP); Bauru (SP); Sorocaba (SP); Recife (PE); São Sebastião do Paraíso (MG) e Rio de Janeiro (RJ). Nas próximas semanas, mais máscaras serão distribuídas em Belo Horizonte (MG), em 11 municípios da Bahia e em Fortaleza (CE).
A Santa Casa de Misericórdia de São Sebastião do Paraíso (MG), cidade a 400 km de Belo Horizonte, referência para o tratamento de Covid-19 em dez municípios do Sul de Minas Gerais, recebeu uma máscara do projeto campineiro para avaliação. O equipamento foi colocado em um paciente em processo de recuperação — processo acordado com o mesmo e familiares. "Os testes mostraram que a máscara minimiza o vazamento e a aerolização (formação de partículas do vírus no ar) a um nível mais seguro para os profissionais", afirma Cidinha Cerize, fisioterapeuta e coordenadora da fisioterapia da unidade.
O Hospital Delphina Aziz, em Manaus (AM), começou a testar as máscaras em 8 de maio, quando foram finalizadas as formalidades documentais. A unidade preferiu não divulgar os resultados obtidos até agora.
Vinte unidades foram enviadas para o Hospital Regional do Baixo Amazonas, que fica em Santarém, 700 km a oeste de Belém, e atende a 30 municípios da região. O otorrinolaringologista e diretor técnico da Pró-Saúde, organização que administra a unidade, Epifânio Pereira, se mostrou otimista com os resultados apresentados até agora. "Os pacientes apresentaram uma elevação importante na taxa de oxigênio no sangue, e isso tem evitado ou retardado a necessidade da intubação", afirmou. A máscara é ligada ao BiPAP, compressor de ar utilizado normalmente para casos de apneia.
Ainda no estado, a Santa Casa do Pará, em Belém, testa nove máscaras desde o dia 11. "Até agora, os pacientes vêm apresentando bons resultados", informou a Fundação Santa Casa de Misericórdia do Pará.
Todos os hospitais reforçaram que, apesar do protótipo apresentar resultados positivos, não substitui os outros Equipamentos de Proteção Individuais (EPIs), e também não podem ser usados como respiradores, sendo apenas mais uma forma de tratamento para casos menos graves de Covid-19.
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