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Dá para fazer lockdown sem polícia para fiscalizar?

Homenagem aos profissionais de saúde na Itália durante a pandemia de coronavírus - Emanuele Cremaschi/Getty Images
Homenagem aos profissionais de saúde na Itália durante a pandemia de coronavírus Imagem: Emanuele Cremaschi/Getty Images

Carina Martins

Colaboração para Ecoa, em São Paulo

25/05/2020 19h41

Último dia do mega-feriado no epicentro brasileiro da pandemia — país que a OMS considera se encaminhar para o epicentro mundial. A taxa de isolamento social, motivo da união de prefeitura e governo na emenda de seis dias para uma folga paulista, melhorou. Um pouco. Menos do que queriam os administradores, bem menos do que queriam os especialistas. O prefeito diz que um lockdown apenas na capital não adianta; o governador diz que não tem polícia para fazer lockdown na região metropolitana. E, assim, estamos há mais de dois meses em um limbo que parece ao mesmo tempo muito esforço e menos do que o suficiente. Como acaba?

Esta é uma coluna de Boas Notícias, então resistamos ao sentimento de beco sem saída que a lógica traz na sequência desses fatos, e vamos de ideias.

Uma delas vem da Itália. Mesmo após a tragédia vivida, esse país viveu uma proliferação de aglomerações nos primeiros dias de desconfinamento, o que colocou as autoridades em alerta. Como resposta, o governo quer recrutar 60 mil cidadãos para ajudar a impor as regras. Os "assistentes cívicos", como estão sendo chamados, ajudariam a fiscalizar aglomerações e a levar mantimentos para quem precisa. Como muitas organizações já atuam dessa forma em algumas áreas, uma possibilidade seria fazer o recrutamento a partir de quem já está na rua, com o governo centralizando as informações e dando legitimidade primária aos voluntários. Funciona?

Mutação sem piora

Não há motivos para acreditar que o novo coronavírus sofra mutações que o tornem ainda mais contagioso. É o que diz um estudo inicial que acaba de ser publicado no Reino Unido. Para chegarem a essa conclusão, os cientistas da University College London analisaram mais de 15.000 genomas de pessoas com Sars-CoV-2 de 75 países. Ao todo, foram encontradas 6.822 mutações, mas nenhuma que beneficiasse o vírus.

2ª onda mais longe

O medo comum aos países que já controlaram a epidemia - grupo no qual não estamos -, desde o começo, tem sido a possibilidade de uma "segunda onda" de contaminações em massa. Mas, hoje, eles podem dormir um pouco mais tranquilos: a diretora de Saúde Pública da Organização Mundial da Saúde (OMS), María Neira, afirmou nesta segunda (25) que os modelos com os quais trabalham, cada vez mais, descartam essa possibilidade. No entanto, ela ainda pede "muita cautela e bom senso nesta fase muito crítica" que a maior parte dos países já vive, a de relaxamento das medidas de confinamento.

Utopia

"Recuso-me a escrever outro obituário sobre mortes negras", diz Thiago Amparo na coluna "Utopia para meninos negros". Negros são as maiores vítimas da Covid-19, mas não era disso que falava Thiago. Porque negros são as maiores vítimas também se ficam em casa. Seja da penúria financeira dos tempos de pandemia ou da velha bala. Morrem baleados dentro de casa, como o menino João Pedro, há uma semana. Ou Bianca, baleada dormindo hoje. Por isso, mais de 200 iniciativas convocam o ato Luto em Luta por João Pedro nesta terça-feira (26), às 18h, nas redes da Coalizão Negra por Direitos. Quem quiser conhecer o manifesto ou deixar uma mensagem para as famílias de vítimas de violência, pode clicar aqui.