Produtos ecológicos de limpeza rendem R$ 5 mi a empresa de SP
Com pedaços de rede de pesca industrial feitas a base de poliamida, um composto plástico, a artista plástica Nara Guichon já criou bolsas, mantas, tapetes, echarpes e até roupas de luxo.
Hoje, entretanto, sua produção está focada em esponjas. São dois os tipos que a artista de 65 anos confecciona: uma mais grossa e resistente, semelhante às escovas usadas em tanques domésticos, e outra um pouco mais macia. Ambos os produtos também são feitos a partir das redes, compradas por Nara em galpões onde as peças são restauradas, localizados em Pântano do Sul, uma praia de Florianópolis, e Itajaí, em Santa Catarina.
A artista plástica explica que estas redes de pescas podem medir centenas de quilômetros de extensão e chegam a custar até R$ 1 milhão de reais. Por isso é muito comum que os pescadores as encaminhem ao conserto quando há avarias. Nara consegue comprar as redes que sobram nos galpões e que, por algum motivo, os donos das embarcações pesqueiras deixaram para trás.
"Resolvi criar esses produtos com as redes por desespero de ver a quantidade de lixo jogado no meio ambiente. Quando são abandonados no oceano, os pedaços das redes podem durar até 6 mil anos. É o tipo de pesca industrial super predatória, porque as redes são largadas e os bichos acabam se enroscando", diz Nara.
A artesã criou as esponjas em 2014, mas há pouco mais de um ano os artigos passaram a ser comercializados exclusivamente pela Positiva, uma empresa com sede em São Paulo que vende produtos de limpeza ecológicos.
A Positiva vende 30 itens destinados à limpeza doméstica, variando de produtos para limpeza geral, soluções para lavar louças e roupas, limpa vidros, além de panos de prato e buchas vegetais. Os produtos são veganos, feitos à base de coco e laranja e não possuem nenhuma substância derivada de petróleo. As embalagens são recicláveis.
A artista catarinense fornece para a Positiva cerca de 500 esponjas (que passaram a ser chamadas de esfregão ecológico) por mês, feitas por um grupo de dez pessoas. O processo é todo artesanal. Depois de adquirir as redes nos galpões, elas são lavadas e colocadas de molho quando têm algum odor. Depois seguem para secagem, são cortadas, dobradas em seis ou oito camadas e encaminhadas para a costura.
"Esse trabalho me dá uma tranquilidade no coração, porque consigo fazer algo para colaborar com o planeta. Tenho esse parceiro que faz com que eu produza e eles vendam."
Fomentando outras cadeias
A Positiva começou a ser desenhada em 2014, quando a designer Marcella Zambardino, de 33 anos, hoje sócia da empresa, passou a repensar seus hábitos.
Estava em uma fase em que passei a rever o que levava para dentro de casa e me questionar que tipo de cadeia ajudava a apoiar com meu dinheiro. Comecei a fabricar meus cosméticos, mas quando pensava em produto de limpeza, não tinha opções para substituir por soluções mais ecológicas.
Marcella Zambardino, designer
Marcella afirma que muitos dos produtos de limpeza clássicos têm substâncias corrosivas, com concentração de amônia ou, ainda, são derivados do petróleo, uma fonte não renovável. "Além disso o petróleo é alergênico e de difícil degradação, demora para se decompor. Com esses produtos, as pessoas estão expostas a substâncias químicas superfortes e não sabem os riscos. No Brasil, há ainda uma cultura de misturar produtos o que pode provocar reações químicas."
Em 2015, Marcella se uniu aos seus sócios Alex Seibel e Rafael Seibel, e no ano seguinte a empresa nasceu com a proposta de oferecer soluções ecológicas para limpeza, seja de ambientes residenciais ou comerciais. Naquela época, a Positiva tinha no catálogo 14 produtos agregados em kits de tamanhos diferentes. A venda era feita em feiras de produtos orgânicos ou via e-commerce, até hoje o principal canal de comercialização.
Aos poucos, a Positiva passou a vender os produtos avulsos. Mas foi em 2018 que houve o "boom" das vendas, e a empresa se consolidou, agregando mais dois sócios Leandro Menezes e Bianka Hoegarden. No ano passado, o empreendimento faturou R$ 5 milhões, e para este ano a expectativa de é atingir a casa dos R$ 10 milhões.
Hoje a empresa vende cerca de 27 mil itens por mês em 180 lojas físicas espalhadas pelo Brasil, incluindo várias redes de supermercados. Além de Nara, em Florianópolis, a Positiva conta com outros 11 pequenos e médios fornecedores no interior de São Paulo, na Paraíba e no norte de Minas Gerais. Juntos, no ano passado, eles venderam à Positiva cerca de R$ 2,3 milhões em mercadorias.
Embora os números sejam expressivos, Marcella explica que a empresa analisa seu sucesso sob outra ótica. "Além do faturamento, é importante medir o impacto que estamos gerando. Quantas embalagens recicláveis estamos produzindo? Quanto de renda estamos gerando para pequenos produtores? Temos vários indicadores para medir que nossa empresa está sendo boa para o mundo."
Não queremos ser só uma empresa lucrativa, queremos ajudar a transformar e ser um exemplo de empresa sustentável e economicamente responsável.
Os carros-chefe são os produtos para lavar roupas (a embalagem de 5 litros custa R$ 230, e de a 1 litro R$ 50) e o multi-uso (5 litros concentrados saem a R$ 90 e 1 litro, a R$ 20).
Marcella explica que embora os preços pareçam mais altos se comparados aos produtos convencionais, é preciso pensar que os itens são concentrados e quando diluídos vão render e custar mais barato proporcionalmente.
"Trabalhamos com produtos concentrados para evitar que as pessoas paguem por água, porque é hoje o que acontece, as pessoas pagam por água e perfume. Não inventamos ingredientes para fazer render o produto. Além do mais, o produto concentrado tem mais eficiência na limpeza."
Sair do público "nichado"
Quatro anos depois de sua fundação, a Positiva agora tem como desafio ganhar escala na vida e nos lares de mais pessoas, para além do público que defende as causas ambientais. Para isso, a empresa vai ter de concorrer com empresas multinacionais consolidadas no mercado.
"As multinacionais estão entrando com mais produtos para concorrer com a gente. O consumidor está habituado a comprar produto de limpeza no mercado. Nosso desafio é saber como se diferenciar para não ficar com o público tão nichado. Queremos que o nosso produto ganhe escala para chegar para a maioria das pessoas", detalha Marcella.
Neste ano, a Positiva vai lançar novos produtos e expandir a linha, hoje restrita à limpeza de ambientes.
"Começamos questionando o que a gente consumia e criamos uma solução. Só com esse movimento coletivo é que vamos conseguir melhorar o planeta. Todas as coisas que estamos vivendo hoje no mundo vão trazer mais consciência para a gente. Por isso, nosso maior desafio é sair do nicho e ganhar escala, mostrar para o consumidor que nossos produtos são diferentes. Temos de pensar na cadeia inteira que fomentamos."
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