Como Malala sobreviveu atentado e foi para uma das melhores universidades
Malala Yousafzai, 22, se formou ontem (18) na Universidade de Oxford após encabeçar uma jornada que embalou o mundo pelo direito universal à educação e a emancipação das mulheres por meio do ensino.
Aos 14 anos de idade, a paquistanesa levou um tiro na cabeça em um ônibus escolar. Os autores pertenciam ao Talibã e considerava a educação de meninas um valor ocidentalizado. Refugiada no Reino Unido para fugir da morte, Malala ganhou o Nobel da Paz em 2014, sendo a mais jovem a receber o prêmio.
"Não é fácil expressar minha gratidão agora que consegui meu diploma de filosofia, política e economia em Oxford. Não sei o que está no porvir" Malala
"Efeito Malala"
A então estudante gerou uma espécie de "efeito Malala", no qual foi reforçado o papel da educação como uma ferramenta transformadora para a busca da paz e dos direitos das mulheres.
A estudante tem a filosofia de que é possível provocar mudanças estruturais com a educação de meninas. A ação é especialmente importante para Malala em países fragilizados e sob mandatários patriarcais.
Protagonista de livros e debates pelo mundo, a ativista usou da sua popularidade para colocar em pé projetos como a Fundação Malala, instituição que apoia educadores à frente de projetos educacionais de inclusão em países em desenvolvimento. Além de Índia, Afeganistão, Nigéria e Paquistão, também há projetos desenvolvidos por educadores brasileiros.
Início da jornada
A jornada de Malala começou em 2009, quando ainda pré-adolescente manteve um diário na BBC para relatar o medo que sentia ao estudar com a presença do Talibã no Vale de Swat, região noroeste do Paquistão. No período, escolas foram bombardeadas pelo grupo e reabertas apenas para meninos. O país vivia um conflito armado e cultural. A ação dos grupos armados era destruir valores considerados ocidentais, como acesso universal à educação.
No mesmo ano, Malala estrelou um documentário para falar sobre o medo e a vontade de estudar. Foi um dos pontos de partida para torná-la um fenômeno mundial, símbolo pacifista e um alerta de que ainda havia mulheres em busca de direitos básicos, alcançados há séculos nos países desenvolvidos. Outra consequência também foi tornar-se alvo prioritário do Talibã.
Três anos depois, um homem armado subiu no ônibus escolar e atirou contra Malala, ferindo ainda duas colegas. O Talibã já havia perdido o domínio do território onde a estudante vivia, mas ainda nutria a missão de tentar matá-la devido à repercussão internacional sobre a região.
Malala foi socorrida por médicos britânicos e levada para o Reino Unido.
Nova vida, nova missão
Após dez dias em coma induzido, acreditava-se que a estudante teria sequelas cognitivas. Para surpresa da família e dos profissionais de saúde, recuperou-se do trauma sofrido. A mudança para a Inglaterra acabou sendo permanente.
Menos de um ano após acordar, fez um discurso na Assembleia de Jovens das Nações Unidas, em uma fala incisiva contra as tentativas de intimidá-la. "Pensaram que a bala iria nos silenciar, mas falharam", disse na ocasião. "Nossos livros e nossos lápis são nossas melhores armas".
O ex-primeiro-ministro britânico Gordon Brown, agente da ONU, introduziu o discurso de Malala como "a garota mais corajosa do mundo".
Ida à universidade
Em 2017, foi aprovada para o curso de Filosofia, Política e Economia da Oxford, uma das universidades mais respeitadas do mundo, criada em 1096. O curso é famoso por formar grandes intelectuais britânicos.
No ano seguinte, retornou ao Paquistão com um forte esquema de proteção e um discurso em prol da educação ao lado do primeiro-ministro paquistanês. Uma passagem curta, de apenas quatro dias, que envolveu uma operação militar para reencontrar alguns poucos amigos do tempo de escola.
Vinda ao Brasil
Em 2018, Malala esteve no Brasil para uma palestra a convite de um banco. "É importante que mulheres se expressem", discursou. A vinda ao país teve como objetivo "achar meios para que as 1,5 milhão de meninas fora da escola tenham acesso à educação". Foi quando deu o pontapé para articular com educadores locais a introdução de meninas, especialmente negras, ao sistema educacional.
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