Refugiados se reinventam durante pandemia de Covid-19; saiba como ajudar
Um "ateliê" improvisado próximo ao calçadão de Copacabana, no Rio de Janeiro. Trabalhando sob a luz do sol ou da lua, em meio a brisa do mar. A clientela é formada pelo movimento de cariocas e turistas. Ou pelo menos era. Antes da Covid-19, essa era a rotina dos colombianos Ninibe Forero, 40, e Leonardo Ruge, 44. Neste Dia Mundial do Refugiado, celebrado hoje (20), o casal conta como chegou ao Brasil e de que maneira tem procurado contornar a crise provocada pela pandemia.
Artistas plásticos, os dois chegaram ao país em outubro de 2015, depois de sair da cidade de Bogotá, com os três filhos. Na terra natal, a mulher e o marido sofreram perseguições e ameaças de grupos paramilitares, que condenavam o trabalho artístico e atividades socioeducativas que realizam ao lado de jovens de comunidades.
"Saímos do dia para a noite, com nossos filhos, carregando nossas roupas, quadros e tintas. Colocamos todos os pertences dentro do carro e passamos por Equador, Peru, Bolívia e, finalmente, chegamos ao Brasil", conta Ninibe sobre a jornada de 9 mil quilômetros.
A escolha de viver aqui se deu por dois motivos. O primeiro: a solidariedade e as orientações jurídicas que receberam quando chegaram ao Rio de Janeiro e souberam da possibilidade de refúgio. Já o segundo motivo não foi tão feliz: a perda do veículo, que impedido de transitar por falta de licenciamento acabou sendo guinchado pela prefeitura.
"Quando chegamos em Copacabana fomos acolhidos por um sacerdote que nos deu abrigo durante 8 meses, até conseguirmos alugar nossa própria casa. Mesmo assim, o Brasil só nos reconheceu como refugiados em dezembro de 2018, nesse meio tempo, perdemos nosso carro, que foi guinchado e caiu num limbo jurídico", revela. Para Ninibe, ao mesmo tempo em que o país tem um lado acolhedor fruto da personalidade dos brasileiros, faltam políticas públicas para resolver situações básicas.
"Consegui meus documentos depois de três anos, mas nosso único bem, que era o carro, não pode ser repatriado", diz.
Com a crise gerada pelo coronavírus, a necessidade do veículo se fez ainda mais presente. No entanto, assim como nos últimos cinco anos, o casal precisou se adaptar e se reinventar. Além da pintura, criando obras em casa, Ninibe e Leonardo retomaram uma prática antes esquecida pela falta de tempo: o artesanato, que gerou mais uma fonte de renda na quarentena. Os dois estão produzindo colares, brincos, pulseiras e outros acessórios inspirados na cultura colombiana, que são vendidos em suas redes sociais.
"O que costumo dizer é que, apesar dos obstáculos, das dificuldades e da perda de bens materiais, não perdemos o mais importante: a vida. Continuamos juntos, eu, Leo e meus três filhos. Agora, com a pandemia e o isolamento social, nós, como refugiados, sabemos que não é fácil. Estamos há seis anos sem ver nossa família, só pela tela do celular. Mas não podemos nos abater ou ficar chateados, pelo menos temos a tecnologia e a vontade de seguir em frente, batalhando. E para isso é preciso estar bem e com saúde", afirma.
A situação de Ninibe e Leonardo é semelhante à de outros refugiados que dependem do próprio negócio para sobreviver no país. Por conta disso, a Abraço Cultural SP, ONG e escola de idiomas que emprega apenas refugiados, lançou a campanha e plataforma #AbraceDaí, que reúne empreendedores em situação de refúgio que estão reinventando os próprios negócios para garantir renda.
De acordo com o Perfil Socioeconômico publicado pela Agência das Nações Unidas para Refugiados (Acnur) em 2019, há um "alto potencial de empreendedorismo" na população refugiada no Brasil, já que a mudança de carreira é quase inevitável após a chegada a um novo país. O desemprego, as dificuldades burocráticas para validação de diploma universitário e aprendizado do português são os principais motivos que levam à criação do próprio negócio. Segundo o levantamento, 31% dos refugiados trabalham por conta própria e 7% são empregadores.
"Quando começou a quarentena, começamos a entrar em contato com os refugiados e migrantes que já conhecíamos para juntos encontrar uma maneira de apoiá-los, principalmente neste momento de isolamento social. Muitas vezes a principal fonte de renda dessas pessoas é a participação em feiras e eventos, e com o isolamento social, eles tiveram que reinventar seus negócios para oferecer porções individuais, marmitas e serviço de delivery.", afirma Mariângela Gaberlini, diretora executiva da Abraço Cultural.
Para celebrar o Dia Mundial do Refugiado, reunimos iniciativas como a #AbraceDaí, e mais organizações que trabalham com a causa e contam com apoio e doações.
Como ajudar
A cada semana, cinco casos diferentes de pessoas refugiadas empreendedoras no Brasil são listados
A Agência da ONU para Refugiados (ACNUR)
Aceita doações financeiras e de itens para ajudar refugiados, pessoas deslocadas e comunidades que acolhem
A organização está arrecadando alimentos não perecíveis e material de limpeza para famílias refugiadas do Rio de Janeiro.
Com mais de 10 anos de atuação, o Instituto atende mais de 10.000 pessoas de 65 países e busca apoio para evitar que as famílias fiquem desamparadas e mais vulneráveis ao novo coronavírus.
Promove o apoio e acolhimento a imigrantes e refugiados na cidade de São Paulo e busca doações para suprir as demandas de higiene da Casa do Migrante.
Associação Voluntários para o Serviço Internacional é uma das instituições que atua em Roraima. Responsável pela gestão de oito dos 13 atuais abrigos que acomodam os migrantes e solicitantes de refúgio, a ONG visa fortalecer as ações da Operação Acolhida, força-tarefa humanitária liderada pelo governo brasileiro e a Agência da ONU para Refugiados (ACNUR).
O que difere um refugiado de um imigrante ou migrante? Veja abaixo as diferenças.
Pessoas que mudam de uma região para a outra, dentro do mesmo país.
Pessoas que optaram por viver no exterior principalmente por motivos econômicos ou educacionais, podendo voltar com segurança ao seu país de origem quando desejarem
Pessoas que deixam o seu país por sofrer ameaças e/ou perseguições relacionadas a questões de raça, religião, nacionalidade, grupo social ou político.
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