Fotógrafa retrata isolados a distância: 'Beleza através da tela'
Logo no início do isolamento em São Paulo a fotógrafa Dani Sandrini viu todos os contratos de fotografia cancelados. E, assim como muita gente, passou a pensar na solidão, na falta de encontro com as pessoas e nos desafios que teria nos meses seguintes. Foi aí que bateu o questionamento: como estão as outras pessoas que podem ficar em casa?
Assim começava o projeto Quarantine, em que a paulistana de 44 anos, que já morou na Jordânia, entre outros lugares, retratou 110 pessoas de todos os continentes, sendo 40 no Brasil. "As diferenças sociais, geográficas, financeiras e psíquicas são gritantes no mundo todo. O que a pandemia fez foi por uma lupa nisso tudo. Ela nos dá a oportunidade de ampliar essa percepção e, quem sabe, fazer uma reflexão sobre as desigualdades", diz.
O trabalho foi feito a partir de videochamada, em que Dani realiza um ensaio fotográfico remoto a partir de uma chamada de vídeo no computador, fotografando a própria tela. "Isso traz uma textura, uma linguagem que dialoga totalmente com o momento, em que o mundo inteiro está se comunicando através das telas."
Mas, antes dos cliques propriamente ditos, rolava muita conversa. Os retratados compartilhavam detalhes sobre rotina, desafios, sentimentos, descobertas. A partir desse depoimento, eles escolhiam um recorte para que a fotógrafa pudesse "estar junto".
"Passei muito tempo conversando com muitas pessoas. Tive um retorno interessante de algumas, que enviaram documentos com cinco, oito, 10 páginas, refletindo sobre suas próprias vidas, condições, dificuldades e privilégios. É bonito poder receber um retorno de quem se percebeu numa oportunidade de refletir sobre essas questões."
"Tenho muitas reflexões... Mas o sentido geral é esse, de necessitar menos. Contentar-me com pouco", diz Leandro, 46 anos, morador do Acre, um dos fotografados.
Internet para quem?
Um dos maiores desafios foi fotografar pessoas de classes sociais diversas. "Fui me deparando com uma dificuldade grande de acesso", diz Dani. "Duas pessoas de Angola e uma de Moçambique, por exemplo, me contaram um monte de coisas, mas não tinham internet que suportasse vídeo. Tentamos algumas possibilidades, mas não conseguimos fazer."
Por outro lado, conta, "outras pessoas, por exemplo, a Ana Raquel, de El Salvador, e a Marineide, de Roraima, participaram com uma internet muito ruim, e isso transparece nas imagens, claro. Mas resolvi que elas vão fazer parte do projeto, porque essa imagem pixelizada conta uma história também."
Nas mais diversas situações, além de se envolver com tantas trocas, a fotógrafa se deixou encantar pelas possibilidades de cenas, enquadramentos, luzes e composições. "Isso me dava uma alegria, de continuar vendo belezas, mesmo através da tela."
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