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'Caminhada virtual' lembra a importância do líder abolicionista Luiz Gama

Pernaltas durante evento em homenagem ao abolicionista Luiz Gama no Largo do Arouche - Karina Búrigo/ Divulgação
Pernaltas durante evento em homenagem ao abolicionista Luiz Gama no Largo do Arouche Imagem: Karina Búrigo/ Divulgação

Lígia Nogueira

Colaboração para Ecoa, em São Paulo

17/08/2020 15h00

Nascido em Salvador no dia 21 de junho de 1830, filho da africana livre Luiza Mahin e de um fidalgo português, Luiz Gama foi vendido como escravo pelo pai aos 10 anos, mas conseguiu ser alfabetizado aos 17 e obteve provas de que havia sido escravizado ilegalmente. Mesmo não diplomado, passou a atuar como advogado sob licença e entrou para a história do país ao libertar centenas de negras e negros escravizados no Brasil.

Na morte de Luiz Gama, em 1882, seu caixão foi levado do Brás ao Cemitério da Consolação, em São Paulo, e um busto do abolicionista foi colocado no Largo do Arouche por integrantes negros do jornal "O Progresso".

"Atualmente nós damos continuidade à tradição e todos os anos nos reunimos lá, fazemos um show, um sarau e partimos para uma caminhada que termina no Cemitério da Consolação", conta o ator, escritor e produtor cultural Max Mu, um dos coordenadores do evento em homenagem a Luiz Gama ao lado de Abílio Ferreira, Cristina Adelina, Flavio Carrança e Oswaldo Faustino.

Este ano, por causa da pandemia, os organizadores farão um evento em três atos online que será transmitido pelo Facebook e pelos canais do Jornal Empoderado e Jornalistas Livres a partir desta quinta (20) até a próxima segunda-feira (24), quando ocorrerá uma "caminhada virtual".

Os participantes poderão (re)visitar os pontos históricos da cidade a partir de um vídeo feito por Mu e sua companheira, a gestora de projetos e produtora cultural Marília Santos.

Artistas leem texto de Raul Pompeia

Além disso, personalidades como João Acaiabe, Oswaldo Faustino, Naruna Costa, Max Mu, Ailton Graça, Eduardo Silva, Dinho Nascimento e Cyda Baú gravaram trechos de um texto escrito por Raul Pompeia por ocasião da morte de Gama.

"Eu não conheci a Rainha Jinga do Reino da Matamba, não conhecia nada do Império do Congo. No meu primário não aprendi absolutamente nada sobre África, assim como não aprendi sobre Luiz Gama", conta o ator João Acaiabe.

"Só sabia assim, que existiam os abolicionistas —Joaquim Nabuco, José do Patrocínio, Luiz Gama e outros. Eu não sabia nada da história dele até ter o privilégio de fazer uma leitura de um texto dramático da [escritora] Gabriela Rabelo chamado 'Diabo Coxo', sobre Luiz Gama."

Agora, diz Acaiabe, "com este evento, eu tenho a honra de participar fazendo um trechinho de uma crônica do Raul Pompeia". "É muito importante que a gente divulgue a história de Luiz Gama porque as pessoas precisam ter acesso."

O racismo estrutural faz questão de apagar esses nomes da nossa história. Morei durante muito tempo na rua Francisco Glicério, na cidade de Espírito Santo do Pinhal (SP), e passei anos sem saber que ele era neto de escravo

João Acaiabe, ator

Para o artista, não é de uma forma inocente que se escondem os grandes nomes negros que fazem parte da nossa história. "Eu estou aqui para falar, para gritar, para reivindicar, para comentar sobre esses nomes, afirmar sempre que não basta não ser racista, temos de ser antirracistas."

Veja a programação completa: www.facebook.com/groups/507294122759619