Lego ganha versão em braille para quebrar barreiras na inclusão de crianças
Imagine uma sala de aula de educação infantil, em que crianças são separadas em grupos para brincar e aprender sobre números e letras com peças coloridas de montar. Pietro, o único aluno cego da turma, participa da atividade ativamente, montando blocos e formando palavras. A cena aconteceu em 2018, em uma escola pública de Franco da Rocha (SP), e só foi possível porque os pinos das pecinhas representavam números e letras do alfabeto em braille.
De lá pra cá, o projeto de aprendizagem criativa e inclusiva desenvolvido pela Fundação Dorina Nowill ganhou a parceria da LEGO Foundation. Juntas, as organizações trabalharam por dois anos na criação da coleção Lego Braille Bricks, que chega neste ano ao Brasil e será distribuída gratuitamente para algumas escolas e serviços voltados para a educação de crianças com deficiência visual.
"Por ser um recurso pedagógico, a primeira versão demandou bastante tempo de desenvolvimento, testes e análises junto a profissionais e também às crianças com ou sem deficiência visual. No Brasil, todo esse processo foi realizado pela Fundação Dorina, mas também aconteceu em outras partes do mundo com a LEGO em parceria com organizações internacionais", explica Alexandre Munck, superintendente executivo da Fundação.
Além da versão em português, o LEGO Braille será lançado em cinco idiomas, dinamarquês, norueguês, inglês, alemão e francês. De acordo com a LEGO Foundation, a ideia é que até o início de 2021 o material esteja disponível em 20 países. O brinquedo educativo contém mais de 300 peças cobrindo o alfabeto completo, números de 0 a 9 e símbolos matemáticos. Cada bloco também traz a respectiva letra impressa, justamente para que todas as crianças - com ou sem deficiência - possam aprender e brincar juntas.
"O braille ainda é a única maneira de alfabetizar uma criança com deficiência visual e esse material é um recurso pedagógico inovador, que colabora efetivamente para o aprendizado inclusivo. O lançamento do LEGO Braille tem ainda um significado muito especial porque concretiza o legado de nossa fundadora Dorina Nowill, levando às crianças a inclusão e a oportunidade de aprender no sistema braille, ao mesmo tempo que se relacionam e se divertem com os demais colegas", afirma Munck.
Paulistana, a ativista e educadora Dorina de Gouvêa Nowill nasceu em 28 de maio de 1919 e dedicou sua vida à inclusão dos deficientes visuais no Brasil. Vítima de uma doença não diagnosticada que a fez perder a visão aos 17 anos, ela foi a primeira aluna deficiente visual a frequentar um curso regular de magistério na Escola Caetano de Campos. Em 1946, percebendo a carência de livros em braille no país, criou então Fundação para o Livro do Cego no Brasil, que recebeu, em 1948, uma imprensa braille completa, com maquinários, papel e outros materiais, da Kellog's Foundation.
Hoje, a Imprensa Braille é uma das maiores do mundo em capacidade produtiva, com produção em larga escala, equipamentos de grande porte, recursos humanos especializados e matéria-prima especial.
Dorina Nowill faleceu em 29 de agosto de 2010, aos 91 anos de idade, e a fundação que leva o seu nome hoje é referência para que crianças, jovens, adultos e idosos cegos e com baixa visão sejam incluídos em diferentes cenários sociais. A instituição oferece serviços gratuitos e especializados de habilitação e reabilitação, dentre eles orientação e mobilidade e clínica de visão subnormal, além de programas de inclusão educacional e profissional.
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