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Escola comunitária do Rio arrecada 8 toneladas de alimentos na pandemia

Alunos da escola comunitária Tia Maura - Divulgação
Alunos da escola comunitária Tia Maura Imagem: Divulgação

Lígia Nogueira

Colaboração para ECOA, em São Paulo

27/08/2020 04h00

A pedagoga Maura Costa da Silva encontrou seu propósito muito cedo. Ela tinha 15 anos quando, durante as greves da Rede Pública de ensino nos anos 80, decidiu ajudar as crianças do antigo Primário com atividades para preencher o tempo ocioso em sua própria casa, na comunidade de Pedra Bonita, no Rio de Janeiro. Na volta às aulas, com o término das greves, os estudantes tiveram bons resultados e logo surgiu a ideia de criar uma creche e uma escola comunitária —um projeto de vida que funciona há 33 anos.

Hoje o grupo comunitário Creche Escola Tia Maura atende 200 crianças de um a 11 anos em horário integral, do berçário ao quinto ano do Ensino Fundamental. Até março, os alunos faziam quatro refeições diárias na instituição —café da manhã, almoço, lanche e jantar. Com a pandemia, Maura transformou as aulas presenciais em digitais, e o pátio da escola em ponto de abastecimento para nutrir 210 famílias, muitas delas afetadas pelo desemprego, por meio da campanha A Fome Não Espera, em parceria com o projeto F.A.D.H.A.S., criado pela poeta, designer e artista plástica Mana Bernardes.

"Recebemos doações e firmamos o compromisso de levar para a casa dessas famílias alimentos orgânicos, plantados sem nenhum tipo de agressividade com a terra. Todas as quartas os legumes, frutas e verduras chegam de Piraí e nós distribuímos às quintas para as famílias", conta a pedagoga. Desde abril, o projeto distribuiu 8 toneladas de alimentos de agricultura familiar, 1.339 kits de higiene e 500 fracos de álcool em gel, entre outros itens.

"Maura é uma líder, uma pessoa que atua na pedagogia de um jeito muito lindo, que é a pedagogia do afeto, do cuidado, da atenção", diz Mana Bernardes. "É uma pessoa fundamental no Brasil, no mundo. A escola comunitária tem um tipo de pedagogia que deveria ser institucionalizada."

Com terra e sementes a gente faz um país.

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A artista conta que se inspirou em Marielle Franco ao criar o projeto F.A.D.H.A.S. no final de 2018. "Comecei a pensar, diante do genocídio ao povo negro e de uma série de mortes, na situação bélica que há no Brasil e principalmente no Rio de Janeiro, como a gente poderia ter material didático para as crianças lidarem com essa realidade. Foi aí que eu procurei a Maura e convidei outros 16 profissionais para formarem um coletivo de cocriação", diz.

A luta, agora, é para que a escola não feche suas portas. Sem contar com repasse da prefeitura, Maura precisa de apoio coletivo. É possível participar da campanha de financiamento por meio do Catarse.