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Especialista da NASA explica como sabe que fogo na Amazônia é desmatamento

Gabriela Biló/Estadão
Imagem: Gabriela Biló/Estadão

Carina Martins

Colaboração para Ecoa, de São Paulo

28/08/2020 04h00

Nas últimas semanas, autoridades brasileiras - mais especificamente, o presidente da República e seu vice - vêm dando declarações em que minimizam e até omitem completamente qualquer papel do desmatamento nas queimadas amazônicas. As declarações, no entanto, não encontram respaldo no monitoramento nem nas análises feitas pela NASA, a agência espacial norte-americana, na região.

Em uma live promovida ontem (27), o Observatório do Clima conversou com o cientista Douglas Morton, chefe do Laboratório de Ciências da Biosfera da NASA, que há quase 20 anos acompanha os padrões de fogo na Amazônia. Morton falou sobre a nova ferramenta da agência, que permite classificar com muito mais precisão e sensibilidade as diversas características do fogo na natureza. Características que permitem, por exemplo, dizer quando trata-se de uma queimada de limpeza de um pequeno agricultor (ou mesmo de grandes pastagens) e quando são queimadas de desflorestamento.

Sem nenhuma surpresa, a maioria é do último tipo.

"A única queimada do mundo que não muda é desmatamento", diz Douglas. "É uma pilha de madeira que não anda". Ele explica que o fazendeiro faz a derrubada da mata e deixa a madeira no local para ser queimada. E é comum que o processo precise ser refeito várias vezes, até mesmo ao longo de anos. "Vamos detectar uma pilha de madeira queimando. Depois, fazem uma linha de madeira novamente para queimar. E aí qualquer pedacinho de maneira remanescente - tocos, raízes, qualquer pedacinho. E ao longo da época seca é possível vermos uma queimada dez, 15 dias no mesmo lugar. Só tem um padrão possível pra isso: desmatamento".

Ferramenta da NASA mostra focos de fogo (pontos vermelhos) classificados como de desmatamento - Reprodução - Reprodução
Ferramenta da NASA mostra focos de fogo (pontos vermelhos) classificados como de desmatamento
Imagem: Reprodução

São várias as métricas usadas para essa classificação e que agora contam com os novos recursos do VIIRS. O primeiro padrão é a diferença de energia liberada. "Normalmente, as queimadas em uma área de desmatamento são mais intensas do que outros tipos de queimada - até 10 ou 20 vezes - porque têm mais combustível queimando. Essa é a primeira coisa que indica que se trata de um evento filiado a desmatamento", afirma. A essa informação, são agregadas outras, como a já citada persistência do fogo no mesmo lugar, à cobertura do local (se trata-se de área de floresta, por exemplo) e também a dados de desmatamento histórico. A reincidência apontada pelo registro histórico é importante na classificação, segundo Morton, "porque tem tanta biomassa na Amazônia que, às vezes, pode levar mais de um ano para limpar totalmente a área derrubada. Já pude observar dois, três anos para limpar totalmente uma área derrubada."

E o que ele tem visto este ano é grave: "Mais de 50% dos focos de calor vêm de desmatamento. Mais da metade das emissões de carbono saindo da região amazônica neste momento vêm de desmatamento".