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Liga feminina atua em defesa dos oceanos: 'É hora de ser protagonista'

Barbara Veiga, Leandra Gonçalves e Paulina Chamorro, fundadoras da Liga das Mulheres pelo Oceano - Divulgação
Barbara Veiga, Leandra Gonçalves e Paulina Chamorro, fundadoras da Liga das Mulheres pelo Oceano Imagem: Divulgação

Lígia Nogueira

Colaboração para Ecoa, em São Paulo

31/08/2020 13h54

O Brasil já é o 4º maior produtor de lixo plástico do mundo. Com a pandemia, luvas, máscaras e outros EPIs estão sendo mal descartados e começam a representar uma nova onda de poluição oceânica. O cenário é preocupante, mas as integrantes da Liga das Mulheres pelo Oceano acreditam que é possível reverter essa situação.

O coletivo criado em março de 2019 para promover a união de mulheres na missão de comunicar e agir pela sustentabilidade dos mares reúne hoje três cofundadoras dedicadas a gerir o movimento —a artista visual Barbara Veiga, a pesquisadora Leandra Gonçalves e a jornalista Paulina Chamorro— e 27 conselheiras espalhadas pelo Brasil. Elas se organizam para acolher outras 400 mulheres, distribuídas por 20 estados brasileiros e 17 países.

"O oceano une todos os povos, é o maior ambiente do planeta, é o que abriga a maior biodiversidade, e nada mais natural do que termos um coletivo de mulheres de diferentes frentes para trabalhar em sua defesa", diz Paulina.

Em agosto, elas criaram a campanha digital "A gente liga para o oceano", que tem o apoio de atletas para inspirar outras mulheres a "mergulharem" juntas. "Durante esse mês procuramos inspirar as mulheres por meio de depoimentos dessas atletas que há muitos anos têm uma relação bastante estreita com o oceano e, infelizmente, durante décadas trabalhando no mar têm visto a ascensão de ilhas de lixo", conta Barbara.

Em 2021 se inicia a Década Internacional da Oceanografia para o Desenvolvimento Sustentável —iniciativa declarada pela Organização das Nações Unidas (ONU) para ampliar a cooperação internacional em pesquisa para a preservação dos oceanos e a gestão dos recursos naturais das zonas costeiras— e as integrantes da liga já estão atuando. "Já é possível notar o protagonismo feminino na ciência do mar", comemora Paulina. "Dos inscritos nas oficinas regionais, 67% são mulheres".

A seguir, as fundadoras contam mais detalhes sobre a Liga das Mulheres pelo Oceano.

Qual é a importância de formar uma liga feminina na defesa dos oceanos?

Leandra Gonçalves - Conversando a gente notava que nós três conhecíamos várias mulheres que têm uma história na conservação marinha, seja na conservação de ecossistemas, na conservação de espécies, na conservação da zona costeira, na atuação de políticas públicas, em esportes aquáticos, nas artes, mas nem sempre essas mulheres estavam ou estão em posição de liderança. Nem sempre essas mulheres tinham espaço de fala. Então muito da nossa discussão, da nossa origem, da nossa primeira reunião, veio desse sentimento. Chegou a hora de sermos protagonistas no movimento da conservação marinha. Chegou a hora de expandirmos nossos espaços e darmos vozes a mas mulheres que trabalham pela proteção dos oceanos.

Chegou a hora de sermos protagonistas no movimento da conservação marinha
Leandra Gonçalves, cofundadora da Liga

Barbara Veiga - Formar um movimento, um coletivo de mulheres que vem para promover um oceano mais sustentável se tornou algo fundamental para que nós três nos sintamos parte de algo muito maior. Nós vimos um potencial de unir forças como um verdadeiro movimento de mulheres de várias áreas, de várias frentes, de várias experiências, para promover essa união de mulheres que são apaixonadas pelo mar e que assumiram essa missão de comunicar e principalmente agir pelo oceano desde a ótica feminina. Veio como uma urgência muito grande, um amor também, e uma vontade muito grande de nos unirmos, nos fortalecermos e nos apoiarmos ao longo desse processo dentro da sustentabilidade e das áreas em que a gente já trabalha há muitos anos.

Paulina Chamorro - Veio primeiro do entendimento da nossa ligação com a natureza, de um olhar para a sustentabilidade, que pense no futuro, que pense no coletivo, que pense em atender os desafios que são colocados nesse momento com um olhar mais afetivo, com um olhar da união. A gente tem uma realidade muito importante no Brasil que é um protagonismo que não é evidente, que não está à vista de todo mundo, que é, por exemplo, nas ciências.

Como é ser mulher na área oceanográfica?

Leandra Gonçalves - Nas ciências marinhas, embora estejam presentes muitas mulheres, parte do nosso trabalho é embarcado. A gente precisa cumprir horas durante a graduação, embarcado em navios, em barcos de pesca, em embarcações de turismo. E uma grande parte desse trabalho embarcado ainda é muito ocupada por homens. E nisso a gente enfrenta várias barreiras, como assédio moral, assédio sexual.

Uma das iniciativas da Liga é criar uma grande base de dados para que sempre que alguém for realizar um evento e pensar em pessoas para falar sobre políticas, direito do mar, possa consultar e ver que tem mulheres que são especialistas nesses temas. Ou quando precisar de alguém para falar sobre peixes recifais e só ocorrem nomes de homens. A liga das mulheres tem uma base de dados que reúne mulheres que são doutoras em peixes recifais, por exemplo.

Em 2021 se inicia a Década Internacional da Oceanografia para o Desenvolvimento Sustentável. De que forma vocês estão se articulando para participar da iniciativa?

Paulina Chamorro - Estamos desde o ano passado nos eventos preparatórios participando ativamente como integrantes da Liga. A Mariana Andrade e eu fazemos parte do comitê gestor, mas não estamos oficialmente representando a Liga. E nas oficinas temos várias integrantes da liga. É interessante notar que já começaram algumas ações e o número de mulheres participantes é muito alto.

De que outros eventos e ações a Liga tem participado?

Barbara Veiga - No mês de agosto nós fizemos uma parceria junto com a UN Live, a campanha "A gente liga para o oceano", que aconteceu digitalmente, em que a gente traz um grito de guerra contra a poluição do plástico no oceano, para criarmos consciência sobre esse problema e transformarmos os hábitos individuais e coletivos. A campanha trouxe atletas do Brasil inteiro, além de brasileiras treinando na Europa, mulheres que estão ligadas às águas pela profissão, que são apaixonadas e acreditam que é importante transformar essa ligação, fortalecendo essa potência coletiva.

Além dessa campanha, temos planos de novos projetos, de novas parcerias, de expansão do movimento como liga regional, trazendo o empoderamento de outras mulheres, desde atletas, cientistas, artistas, biólogas que possam dentro da sua comunidade disseminar essa mensagem de cuidado com o mar.