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Como o setor privado pode contribuir de fato para uma Amazônia sustentável?

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Imagem: Divulgação

Carina Martins

Colaboração para Ecoa, de São Paulo

05/09/2020 04h00

Há um ano, na ONU, a iniciativa de diversos representantes do setor privado da sociedade civil lançava o desafio Amazônia Possível. Agora entregam um primeiro fruto desse movimento: "10 Princípios Empresariais para uma Amazônia Sustentável". O documento pretende ser um norteador para empresas que desejam operar de forma mais sustentável na região.

"O guia vem para ajudar. Tem a possibilidade de ser uma iniciativa que não tem o papel de ser 'mais uma', mas, sim, de ajudar as outras", diz Caio Magri, presidente do Instituto Ethos, colunista de Ecoa e um dos debatedores do webinar de lançamento do documento, transmitido ontem (4) pelo UOL. Isso porque o trabalho aglutina boas iniciativas, e fornece elementos como recursos para mapeamento de indicadores que as empresas poderiam monitorar, por exemplo.

"A gente acredita que a preservação da Amazônia está intrinsecamente ligada a uma produção sustentável aqui no Brasil. E sabemos que uma maior atuação do setor empresarial nessa agenda é indispensável", diz Carlo Pereira, diretor-executivo do Pacto Global.

Provocados pela mediadora Chiara Gadaleta, os representantes das empresas aderentes ao movimento falaram sobre como produzir mantendo a floresta em pé. Os convidados, de maneira feral, não relativizaram a questão. Pelo contrário: na visão de Denise Hills, diretora de sustentabilidade da Natura, é exatamente a floresta em pé que garante a produção.

"Não existe mais uma dissociação de natureza, sociedade e empresas. A gente tem buscado há quase uma década fazer uma bioeconomia da floresta em pé com um programa na Natura chamado programa Amazônia, reconhecendo e remunerando o conhecimento local", diz. "Mais do que um momento, vivemos uma possibilidade real, baseada em ciência, baseada em pesquisa, baseada em articulação, e baseada em conhecimento. É na preservação que a gente vai encontrar essa bioeconomia de impacto positivo e regeneração".

O cientista Carlos Nobre concorda. "Temos que nos tornar uma potência ambiental da sociobiodiversidade. Em todos os seus biomas, o Brasil é o campeão de diversidade", diz. Ele acredita que, mais do que disputar a liderança em mercados onde os países desenvolvidos têm excelência, o país deve desenvolver a área onde pode ser ele mesmo o líder. "Nessa podemos nos tornar a 1ª potência. Considerando nossa biodiversidade hoje, não chega a 0,3% do PIB. O Brasil tem 5 mil frutas. Quantas encontramos no supermercado? 20".

Nobre traz ainda uma cobrança ao setor privado. "O setor privado brasileiro investe menos de 0,2% do PIB em inovação e conhecimento", diz. "Na Coreia, isso chega a 3%. Produtos inovadores pelo mundo, entre o laboratório e o mercado, têm entre 80% e 85% de seu desenvolvimento financiados pelo setor privado. Mas isso não acontece no Brasil."

Afinal, quais são os 10 princípios?

  1. Eliminar desmatamento da cadeia de produção
  2. Promover mitigação e adaptação às mudanças climáticas
  3. Promover uso sustentável dos recursos da natureza
  4. Respeitar os direitos humanos
  5. Assegurar direitos trabalhistas
  6. Garantir o comércio justo
  7. Fortalecer comunidades e fornecedores locais
  8. Investir em pesquisa e fomentar a bioeconomia de floresta em pé
  9. Estabelecer diálogo multissetorial
  10. Garantir a rastreabilidade de toda a cadeia