Projeto consegue nova vaga para profissional de Paraisópolis em três dias
A realidade imposta pelo novo coronavírus deixou o medo latente da doença, é verdade, mas para tantas comunidades vulnerabilizadas o receio de perder a fonte de renda era ainda maior. Maria Tânia Oliveira de Carvalho, de 31 anos, foi uma das pessoas que passou meses apreensiva, com a possibilidade de perder o emprego como cozinheira em um supermercado localizado na região de Paraisópolis, zona sul de São Paulo. No começo de agosto, o medo se tornou realidade: foi demitida.
Ela conta que o desespero bateu à porta com força. Ela deixou dois filhos, de 7 e 13 anos, morando com o avô, em Teresina, no Piauí, quando veio para São Paulo sozinha ganhar a vida há quatro anos. "Todo meu esforço e minha luta é para dar conforto e segurança para eles. A saudade aperta, a gente se fala sempre, mas não os vejo há mais de um ano", diz ela, que tem apenas uma tia vivendo na região.
Por sorte, alguns meses antes ela havia se cadastrado no projeto Emprega Comunidades, plataforma que ficou conhecida como "LinkedIn das Favelas". E só três dias depois de ser dispensada do supermercado, Maria Tânia arrumou um novo trabalho. https://www.facebook.com/empregacomunidades
Como ela estava no banco de dados do projeto, quando surgiu uma vaga para trabalhar nas tarefas domésticas na casa de uma família, a equipe entrou em contato com a piauiense. No mesmo dia que fez a entrevista, conseguiu o emprego.
O nascimento do projeto
O Emprega Comunidades é criação da empreendedora social e pedagoga Rejane Santos, de 34 anos. Rejane é líder social e atua na comunidade como facilitadora desde 2012.
Nos últimos anos, percebeu a necessidade de uma iniciativa que acabasse com o que chama de "preconceito de CEP", dando oportunidade para moradores de comunidades e favelas. Ela explica que muitos moradores procuravam vagas fora da região de Paraisópolis, uma favela com mais de 100 mil moradores, e precisavam mentir que moravam no Morumbi. Se dissessem que moravam em Paraisópolis, conta ela, não eram contratados. Ao mesmo tempo, havia diversas empresas, grandes e pequenas, na mesma região. Era hora de fazer essa conexão.
Foi pensando nesse "match" que ela idealizou, em 2017, o projeto que hoje já empregou mais 1.300 pessoas e tem 8 mil candidatos cadastrados no banco de dados.
E, então, aí veio o novo coronavírus. Só no segundo trimestre deste ano, 8,9 milhões de brasileiros perderam o emprego.
Assim que a evolução da pandemia permitiu e empresas começaram (ainda que timidamente) a buscar mão de obra, Rejane notou a demanda por preencher vagas que haviam sido fechadas nos primeiros meses de quarentena. Ela mapeou as oportunidades e organizou um mutirão em agosto a fim de conectar as empresas parceiras do projeto a candidatos.
Pelas redes sociais, a data e hora da distribuição de senhas são anunciadas. Em agosto, foram distribuídas 600 senhas. Após a triagem de vagas disponíveis, 550 pessoas foram convocadas para cadastro e checagem de aptidões pela equipe. Destas, 400 foram convidadas a voltar ao Pavilhão Social, um espaço dentro da comunidade, no dia seguinte e participar da pré-seleção com as empresas - à distância, por vídeo e telefone. "Por que somente 400? Pois havia muitos profissionais de Recursos Humanos, por exemplo, que não conseguimos vagas em determinadas áreas", explica Rejane. As empresas têm um prazo de uma semana para retornar com uma resposta, mas três dias depois do mutirão, três pessoas haviam sido contratadas.
O próximo mutirão já tem data marcada. Será amanhã (15) e seguirá a mesma logística de processos. O modelo fez sucesso e foi replicado em comunidades nos estados de Rio de Janeiro, Minas Gerais e Pará. "Hoje as empresas falam sobre diversidade, mas não sabem como falar com as comunidades. Nós entramos nesse diálogo, conectando as pontas", explica a fundadora.
De olho nas mulheres
"Com a pandemia, a demanda de mulheres buscando empregos aumentou, fui entender que eram mulheres chefes de família, mães solteiras, que perderam seus empregos", conta a empreendedora social.
Em contato com uma dessas profissionais, Rejane ouviu um pedido por uma marmita, pois os filhos estavam em casa sem ter o que comer enquanto ela buscava emprego. Assim, o Emprega Comunidades lançou a campanha Adote uma Diarista, para apoiar essas profissionais autônomas de baixa renda que foram extremamente afetadas pela crise. Além de doar uma cesta básica de alimentos, um kit com itens de higiene e limpeza às famílias destas mulheres, a iniciativa oferece R$ 300 para auxiliar nas despesas de aluguel e saúde.
A meta inicial era apoiar 500 diaristas - mas, 1.032 se inscreveram. "Foi desesperador. Tivemos que suspender e provavelmente esse número só aumentaria, e a frustração de não atendê-las seria ainda maior", conta. Rejane conseguiu oferecer o auxílio e a cesta para 150 delas até o fechamento desta reportagem. As demais mulheres receberam a cesta básica e de higiene.
A campanha de arrecadação continua em andamento para ajudar as demais famílias em situação de vulnerabilidade.
Como ajudar
As doações podem ser feitas referentes a uma diária de trabalho (R$ 150) ou quatro diárias no mês (R$ 600) na plataforma eSolidar. A campanha fica no ar até 30 de setembro.
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