Evento com pesquisadoras busca despertar interesse de meninas pela ciência
Embora 74% das meninas tenham interesse em ciência, tecnologia e matemática, apenas 35% das alunas de ensino médio se inscrevem para cursos científicos de graduação nas universidades e somente 28% dos pesquisadores em todo o mundo são mulheres. Os dados são da ONU Mulheres e da Unesco, que calculam que, se 600 milhões de meninas e mulheres tivessem acesso às áreas de ciência, tecnologia e inovação, 144 países em desenvolvimento aumentariam o PIB em US$ 8 trilhões.
Com o intuito de mudar o cenário atual, a terceira edição do evento gratuito Ciência por Elas, que neste ano é online e acontece por meio do canal do Instituto de Estudos Avançados Polo Ribeirão Preto (IEA-RP) no YouTube, está oferecendo palestras com pesquisadoras de todo o Brasil voltadas a alunas do 6º ao 9º ano do Ensino Fundamental. As atividades são realizadas aos sábados (19 e 26 de setembro) e as inscrições podem feitas por meio de um formulário.
"A ideia é inspirar meninas que estão definindo a profissão que vão seguir", diz Janaina Freitas Calado, professora adjunta do Colegiado de Ciências Naturais da Universidade do Estado do Amapá, mestra em Ciências Biológicas pela Universidade Federal da Paraíba e doutora em Ecologia pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Ela está entre as professoras, pesquisadoras e alunas de universidades que vão apresentar as pesquisas que desenvolvem e interagir com as estudantes para explicar como é a profissão.
Leia a seguir trechos da entrevista com a pesquisadora, que apresenta a palestra "Da Floresta ao Mar: Conversas sobre os recifes da Amazônia com os povos da floresta" no dia 26 às 15h30.
Qual é a importância de falar sobre ciências para meninas?
Janaina - A principal importância do evento é o fortalecimento e a afirmação de que nós mulheres podemos estar em qualquer lugar. E o Ciência por Elas faz com que meninas que são futuras mulheres, se atentem e queiram seguir uma carreira científica. A questão de querer ser cientista é interessante. Porque toda criança é um potencial cientista, independente do gênero, as crianças de maneira geral são extremamente questionadoras e curiosas e essas são as maiores habilidades que o cientista pode ter.
O Ciência por Elas traz exemplos positivos de mulheres que estão na ciência e que podem de alguma forma mostrar possibilidades para essas jovens mulheres, que por vezes não enxergam representatividade nos seus espaços. Nos livros didáticos o que elas veem são referências masculinas, ao passo que na vida familiar muitas vezes as referências são femininas.
Você acha que mais mulheres estão se destacando nas ciências no Brasil hoje em dia?
Janaina - Hoje mais mulheres estão se destacando, principalmente pela luta feminista por igualdade de gêneros. As mulheres sempre estiveram presentes em toda a história da civilização. A diferença é que nós nunca tivemos espaço para expor o nosso pensamento e dialogar com a sociedade por causa das barreiras impostas pelo patriarcado.
Como é o cenário em Macapá hoje?
Janaina - Nós, mulheres, estamos conseguindo ocupar espaços, mas ainda há dificuldades. Na universidade onde atuo há homens e mulheres trabalhando em igual quantidade. Hoje nós temos uma reitora eleita e a área onde eu trabalho tem predominância de mulheres, cientistas que estão publicando e fazendo ciência. Mas a minha realidade representa uma parcela muito pequena ainda.
Como você vê a área da ciência no Brasil hoje?
Janaina - Consigo perceber que estamos tendo um avanço. Nós temos dados que mostram que a maior parte dos trabalhos publicados hoje no Brasil é de mulheres. Temos inclusive exemplos de iniciativas discutindo a maternidade, a paternidade, a questão dos filhos na vida dos cientistas, algo que até então havia sido negligenciado. Isso acontecia porque a maioria dos cientistas eram homens. E na maior parte dos casos as mulheres ficavam em casa cuidando de seus filhos. As mulheres cientistas eram engolidas pelo sistema da maternidade. A gente já consegue enxergar hoje mulheres, mães, que estão trabalhando e desenvolvendo sua produção científica e reivindicando seus direitos. Temos editais como o do Instituto Serrapilheira, uma instituição que vem apoiando a ciência no Brasil, que já consegue destacar e apoiar a maternidade no rol de critérios para selecionar os pesquisadores.
As mulheres cientistas eram engolidas pelo sistema da maternidade
Como será a conversa sobre os recifes da Amazônia no Ciência por Elas?
Janaina - Vai ser uma conversa instigante. Eu vou tentar de modo geral traçar um panorama do que são os recifes, porque tem muita gente que não sabe o que são ambientes recifais, e explicar um pouco da importância deles para a nossa vida. Vamos falar também sobre a importância econômica e ecológica desses ecossistemas e mostrar as singularidades dos recifes da Amazônia, que são recifes que só passaram a ser discutidos em 2016, há muito pouco tempo. Nós já temos evidências científicas suficientes para mostrar que eles estão ativos, vivos, e estão crescendo. Cada vez mais tem publicações que mostram o quanto eles são ricos e diversos. É preciso entender mais a fundo a relação desses recifes na foz do Rio Amazonas com o próprio rio e as comunidades ribeirinhas, especialmente no Amapá, Pará e Maranhão.
Veja a programação completa do evento no perfil do Ciência por Elas.
ID: {{comments.info.id}}
URL: {{comments.info.url}}
Ocorreu um erro ao carregar os comentários.
Por favor, tente novamente mais tarde.
{{comments.total}} Comentário
{{comments.total}} Comentários
Seja o primeiro a comentar
Essa discussão está encerrada
Não é possivel enviar novos comentários.
Essa área é exclusiva para você, assinante, ler e comentar.
Só assinantes do UOL podem comentar
Ainda não é assinante? Assine já.
Se você já é assinante do UOL, faça seu login.
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Reserve um tempo para ler as Regras de Uso para comentários.