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Conversa de Portão #2: Podcast vira rede de apoio em ocupações de moradia

Colaboração para Ecoa, de São Paulo

27/09/2020 04h00

Privadas das reuniões presenciais que faziam a cada 15 dias como parte da organização de sua luta, as mulheres de algumas ocupações de movimentos de moradia da Grande São Paulo criaram um podcast inteiramente feito e divulgado por WhatsApp. O programa Mulheres de Luta, que já chega a dez episódios, as ajudou não só na articulação dos movimentos, mas também criou um espaço de acolhimento e apoio.

Vanessa e Marinalva são duas das realizadoras do programa, e são as entrevistadas do episódio #2 do podcast Conversa de Portão, que toda terça-feira traz a opinião, análise ou história de mulheres sobre notícias que são importantes para mulheres da periferia. O Conversa de Portão é um podcast produzido pelo coletivo Nós Mulheres da Periferia em parceria com o UOL Plural.

"O programa Mulheres de Luta nasceu durante a quarentena de uma necessidade mesmo", diz Vanessa Mendonça dos Santos, da ocupação Queixadas (a partir de 2:50 do arquivo acima).

Pauta, produção, depoimentos, apresentação, edição e veiculação são feitos pelas mulheres dos movimentos de moradia. Os áudios são todos gravados e enviados para a edição por WhatsApp, por onde também circula o programa pronto. A iniciativa tem a contribuição das ocupações Esperança, em Osasco (Grande São Paulo), Jd. Da União, Pinheiral e Olaria, na periferia da zona sul da cidade, e Queixadas, em Cajamar. "É uma construção bem coletiva mesmo. Desde qual episódio vai, até deixar aberto para saber se alguma mulher quer falar. É uma construção bem de base mesmo, bem sólida, né?", diz Vanessa (a partir de 4:23 do arquivo acima).

Juntas, elas decidiram abordar temas como violência doméstica, machismo, educação na pandemia, racismo. E viram que a nova ferramenta trazia também novas dinâmicas, deixando mais companheiras à vontade para falar de suas próprias experiências e encontrar outras na mesma situação. "Todos (os temas) foram muito importantes. Mas os principais acho que foram os que tratam da violência, que é um assunto que incomoda muito falar, né?", afirma (a partir de 5:01 do arquivo acima).

Marinalva Maria de Souza, a Naná da ocupação Esperança, concorda. "Tá fortalecendo muito as mulheres, porque tem muita violência doméstica e muitas mulheres que não tinham como falar, ir para a reunião", afirma (a partir de 8:36 do arquivo acima). Naná conta (a partir de 9:01 do arquivo acima) que ela mesma se sente melhor depois dos programas. "Para mim mesmo foi muito bom, porque eu dei um surto, né (com a pandemia)? Ficava com medo das coisas, de pegar ônibus, ir no mercado. Tinha medo de tudo, (pensava) que eu ia morrer. Então para mim me fortaleceu muito. A gente tem que passar nossa experiência uma para outra".