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Plural é um projeto colaborativo do UOL com coletivos independentes, de periferias e favelas para a produção de conteúdo original


Papo Preto #4: Como cuidar da saúde mental dos irmãos – e da sua

Colaboração para Ecoa, de São Paulo

03/10/2020 04h00

A questão racial atravessa toda a conversa sobre saúde mental da população negra. E não poderia ser diferente, já que atravessa também toda a sua vivência. De causas de adoecimento a dificuldade de acesso, passando por estereótipos emocionais, tudo é racializado. Esse é o tema do quarto episódio do Papo Preto.

Os psicólogos negros Nelson Gentil e Samilly Valadares conversam com Yago Rodrigues e Gabriela Delgado, ambos do Alma Preta, sobre a taxa de suicídio entre jovens negros, depressão e como superar os estigmas do racismo. E também sobre como reconhecer a necessidade de ajuda em si e em sua comunidade.

Papo Preto é um podcast produzido pelo Alma Preta, uma agência de jornalismo com temáticas sociais, em parceria com o UOL Plural, um projeto colaborativo entre o UOL e coletivos independentes.

"Às vezes, dentro da nossa sociedade, nós descreditamos a dor do outro", afirma Nelson (a partir de 9:11 do arquivo acima). "Banalizamos isso que o outro está sentindo, não damos o devido valor àquele sofrimento, àquela fala, àquele discurso que está vindo de um lugar. E acolher isso é muito importante". Para ele, muitas vezes, mesmo pessoas bem intencionadas podem piorar a situação - mais um motivo para destacar a importância da ajuda profissional.

Isso acontece principalmente quando o interlocutor compara o sofrimento que o outro relata às suas próprias vivências. "Fulano passou por muito pior e superou, ou eu já estive em um lugar muito muito pior e olha como eu estou", exemplifica ele (a partir dos 10:00 do arquivo acima). "Fazemos comparativos que naquele momento não vão ajudar em nada. Cada sujeito é único, cada pessoa vivencia de uma forma particular".

É preciso estar aberto para escutar e acolher. Nem sempre há sintomas, e nem sempre eles são óbvios. Mas, muitas vezes, há pistas. "Frases de alerta como 'Eu não sirvo para nada', 'eu sou um peso para minha família', 'tenho vontade de sumir', 'queria dormir para sempre'. Se você assim tá perto de alguém que se sente assim, ou percebe que que a vivência dela está muito ficando até mais embotada, isso acende o sinal amarelo", ele explica (a partir de 16:41 do arquivo acima).

Entre os negros, um dos agravantes é o estereótipo de povo forte a qualquer custo, que pode atrapalhar o acolhimento de pessoas próximas e o próprio autocuidado.

"Nesse processo de criar estratégias, um dos pontos principais é começar a falar. É começar a desconstruir isso nos nossos territórios, desconstruir isso nas nossas redes de afeto", diz Samilly (a partir de 24:45 do arquivo acima). "Assim como essas redes ajudam nesse processo de criar estratégias, elas podem adoecer. O diálogo, o afeto, a escuta, o acolhimento e a informação são essenciais para lidar com tudo isso nesses processos".

Nelson concorda. "Então juntando esses estereótipos do ser forte, às vezes não cabe no olhar social esse lugar de cuidado para nós, que é o corpo passível de tudo pode. E não é bem assim, é isso que nós estamos combatendo", diz (a partir de 28:42 do arquivo acima).