Empresa une pacientes a profissionais negros da área de saúde
Os constantes processos de racismo pelo quais diferentes profissionais de saúde e pacientes negros passam fez com que surgisse a Afrosaúde, plataforma com perfis de médicos, psicólogos, dentistas e terapeutas negros. A presença de pessoas de cor preta ou parda na saúde ainda é pequena, o que faz com que seja difícil encontrá-los. "De um lado os profissionais precisavam de mais visibilidade e de outro os pacientes, em geral, negros, queriam atendimento mais humanizado. Era algo de oferta e demanda", conta o sócio-fundador da empresa Arthur Lima, 28 anos.
A ideia surgiu em julho de 2019 e a formalização ocorreu quatro meses depois. Arthur ressalta que as pessoas negras têm problemas específicos de saúde, além de demandas especiais para problemas de pele e saúde mental. A Afrosaúde é hoje uma microempresa que lançou um protótipo da plataforma em que há perfis de 300 profissionais, com foto, área de atuação e descrição profissional. As buscas são feitas por web app responsivo para celular. "Estamos cadastrando esses profissionais na plataforma e aprimorando a tecnologia que aos poucos vai ganhando mais funcionalidades", afirma.
As melhorias tecnológicas vão possibilitar que o pagamento seja feito direto pela plataforma remunerando a empresa. "Teremos um clube de benefícios em que pacientes pagam por mês e têm acesso a profissional com valor mais acessível", conta Lima. Uma das propostas é que o protagonismo do profissional seja exaltado. "Diferente do que acontece com os planos de saúde, queremos contribuir com a renda das pessoas e colocá-las no radar, sem questionamentos por trás", afirma ele.
A empresa pretende ainda ter um braço educacional para formar os profissionais com orientações de saúde da população negra. "Há uma deficiência da formação em questões como gênero, raça, LGBTQIA+. Quando o profissional é negro, busca por conta própria por ter maior sensibilidade, mas a saúde é muito eurocêntrica", afirma.
Arthur é dentista por formação e diz que não teve uma disciplina na faculdade ligada a questões de raça. "Fiz um post em rede social afirmando que a pigmentação mais escura da gengiva não é feio ou anti-higiênico e sim uma reprodução do racismo e isso viralizou por muita gente desconhecer esse dado", conta. Além de informações para os profissionais, ter atendimento especializado vai garantir, segundo ele, que as pessoas negras tenham suas necessidades atendidas. "Vamos contribuir para uma saúde menos racista, fazendo com que as pessoas busquem tratamento, já que muitos negros deixam de ir ao médico com medo de não terem suas questões entendidas ou de sofrerem racismo", ressalta.
A Afrosaúde passou por uma pesquisa de validação de ideia que ouviu pacientes e profissionais e hoje busca investidores. Arthur diz que desconhece outras empresas que realizam trabalho parecido no Brasil ou nos Estados Unidos e aponta que na Nigéria há startups que oferecem soluções tecnológicas similares ao trabalho que sua empresa faz. "Aqui, quando apresento a Afrosaúde há questionamento se não é um produto que segrega. É importante ressaltarmos o conceito de equidade e que a democracia racial não existe", afirma. Hoje, a empresa concorre para participar de acelerações para ganhar investimentos. "Queremos crescer e investir sem depender apenas da grana que temos", sonha.
A Curadoria Ecoa
As histórias e pessoas apresentadas todos os dias a você por Ecoa surgem em um processo que não se limita à pratica jornalística tradicional. Além de encontros com especialistas de áreas fundamentais para a compreensão do nosso tempo, repórteres e editores têm uma troca diária de inspiração com um grupo de profissionais muito especial, todos com atuação de impacto no campo social, e que formam a nossa Curadoria. Esta reportagem, por exemplo, nasceu de uma conexão proposta por Ítala Herta, curadora do ciclo Re_construção.
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