'Solo Fértil' mostra como a agricultura regenerativa pode salvar o planeta
As previsões do futuro próximo para o planeta Terra, considerando os efeitos do aquecimento global, são alarmantes. Cientistas são unânimes: se as emissões de gases causadores do efeito estufa se mantiverem no nível atual, as consequências podem ser devastadoras. E o que está em jogo não é apenas o planeta, mas também a permanência da humanidade na Terra.
Para reverter o problema da crise climática, muitas questões precisam ser resolvidas a partir de mudanças do comportamento humano. E uma delas, como sugere o documentário "Solo Fértil" (Kiss the Ground, no original em inglês), disponível na Netflix, está bem debaixo dos nossos pés: o solo e a maneira como ele é tratado.
Os diretores Josh e Rebecca Tickell passaram sete anos rastreando a chamada agricultura regenerativa e transformaram a pesquisa em um filme de 1h24 de duração. Com narração do ator Woody Harrelson ("Jogos Vorazes", "Truque de Mestre"), um grupo de especialistas e famosos ativistas (Gisele Bündchen, Tom Brady, Ian Somerhalder, Patricia Arquette, Rosario Dawson, Jason Mraz) ajuda a revelar a ciência por trás deste processo.
A agricultura regenerativa, de forma resumida, são práticas agrícolas naturais e orgânicas projetadas para reverter os danos causados pela monocultura. A ideia é que, com essa conduta, o solo restaurado e sadio tem a capacidade única de "puxar" do ar e reter grandes quantidades de dióxido de carbono, metano e outros gases que estão aquecendo o planeta. E vai além: o resultado se reflete na produção de alimentos mais saudáveis e na preservação da subsistência de fazendeiros, pescadores e pecuaristas.
O documentário traz um amplo contexto histórico de como o solo em todo o mundo se degradou a níveis drásticos desde a invenção dos pesticidas químicos no início do século 20. O uso generalizado destes produtos após a Segunda Guerra Mundial dizimou os micróbios essenciais do solo, que é um organismo vivo, e prejudicou o planeta de diferentes formas.
Estima-se que a agricultura industrial seja responsável por 25% das emissões de gases de efeito estufa e por 70% do uso de água potável, segundo dados do IPCC (Intergovernmental Panel on Climate Change). E que 80% do carbono do solo em áreas fortemente cultivadas já foi perdido, devido ao arado destrutivo, ao excesso de pastagem e ao uso de fertilizantes e pesticidas químicos. Essa prática estaria ligada a problemas ambientais e de saúde, como desnutrição, doenças transmitidas por alimentos, infecções bacterianas resistentes a medicamentos e a diminuição do suprimento de água e poluição.
E apesar de Woody Harrelson dizer em sua narração que a "solução é simples" (o que, em teoria, de fato é), há uma rede complexa que dificulta seguir este caminho, desde desinformação e falta de conhecimento dos próprios agricultores até interesses econômicos e questões geopolíticas —como a rejeição dos Estados Unidos ao Acordo de Paris, um pacto global no combate às mudanças climáticas.
O filme é vago em suas acusações e não se aprofunda em questões políticas, mas ao mesmo tempo deixa uma outra mensagem: não se pode esperar que as agências reguladoras conduzam essas mudanças. A crise climática claramente não está sendo tratada com rapidez suficiente pelos governos mundiais, o que reforça que a transformação deve partir da própria população.
Inspirador e otimista, "Solo Fértil" apresenta uma variedade de maneiras de como as pessoas podem apoiar a agricultura regenerativa, desde compostagem até mudanças na alimentação e nas formas de consumo. E deixa a lição de sempre nos perguntarmos: onde é possível incluir a regeneração no nosso dia a dia? Porque carros elétricos e painéis solares, sozinhos, não vão nos salvar.
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