Cursinho incentiva entrada de estudantes trans nas universidades
Estar em um espaço elitizado pode ser uma experiência solitária para minorias sociais. É por isso que Caio de Souza Tedesco encontrou no TransENEM um espaço para se fortalecer.
"O TransENEM, não é só um cursinho pré-Enem porque a educação popular é muito maior do que isso, então a gente também funciona como um espaço de acolhimento, de socialização, de afetividade", explica Caio, professor de História e organizador do Coletivo pela Educação Popular TransENEM.
Estudantes trans são apenas 0,2% nas universidades federais, enquanto que 0,6% é de pessoas não-binárias, segundo dados da Andifes (Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior). O número está bem abaixo de 1,9%, a estimativa feita pela Antra (Associação Nacional de Travestis e Transexuais) de pessoas trans dentro da população nacional. Não existem dados oficiais, pois o IBGE não inclui pergunta sobre identidade de gênero em seu censo.
Foi pensando em mudar essa realidade que surgiram coletivos de educação popular voltados para atender pessoas trans como o TransENEM, de Porto Alegre (RS).
"É importante para mim enquanto indivíduo trans estar num dos poucos espaços voltados para pessoas trans, lutando por nós e pelo que acredito com consciência de que esse processo é coletivo", afirma Caio.
Transativista e mestrando em História na Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Caio recorda que a iniciativa começou a atuar na cidade em abril de 2016 após a união de militantes e professores. "Tudo aconteceu a partir da aliança de pessoas trans", conta.
No primeiro ano, a iniciativa era exclusiva para estudantes trans. A partir de outubro de 2017, pessoas cis também puderam se inscrever no cursinho.
Caio calcula que pelo menos 100 alunos e alunas já foram atendidos pelo programa, com uma média de 15 estudantes por semestre. Entre 2016 e 2019, cerca de 38% de participantes do curso conseguiram acessara o ensino superior.
Pandemia trouxe evasão e novas dificuldades
A turma para o ano de 2020 estava cheia, seriam 35 alunos apenas no primeiro semestre. Porém veio a pandemia na mesma semana marcada para início das aulas.
"A gente passou por esse processo de adaptar o curso presencial para o ensino remoto, mas não deu muito certo, a maioria se desmotivou", lamenta Caio.
Segundo ele, isso aconteceu por diversos fatores como falta de estrutura, desigualdade social, violência doméstica e saúde mental.
Para auxiliar alunos a enfrentar situações como essas, o TransENEM possui um núcleo de apoio psicopedagógico e social. "Consideramos as questões materiais e psicológicas porque ninguém estuda direito se está com fome ou se está passando por algum tipo de violência", resume Caio.
Expansão para o Brasil inteiro
Apesar das dificuldades enfrentadas no primeiro semestre, a pandemia também trouxe oportunidades. No segundo semestre, o TransENEM conseguiu se reorganizar para oferecer aulas para estudantes do país inteiro.
Caio narra que a solução foi montar um híbrido entre os modelos EAD (educação a distância) e ensino remoto. Ele destaca que a segunda modalidade permite um contato maior entre os professores e estudantes, quase que emulando o que é possível no ensino presencial.
"Conhecendo teus alunos e alunas, tu consegue proporcionar uma educação mais freireana, mais para o indivíduo. Seria impossível fazer tudo remoto porque é impossível passar quatro horas na frente de uma tela", diz.
Como ajudar
Atualmente, o TransENEM está com um financiamento coletivo aberto. O dinheiro é usado para pagar provas dos alunos que não tenham condições de arcar com a inscrição, conceder material e alimentação para os alunos em dia de curso, quando as aulas são presenciais.
Além disso, neste ano uma parceria com o IFRS-POA (Instituto Federal do Rio Grande do Sul Campus Porto Alegre) viabilizou a doação de cestas básicas para alunos.
"Buscamos dar suporte a alunes no máximo possível para que essas questões não sejam impeditivos para que elus participem das aulas", resume Caio.
Para doar, acesse a página do financiamento coletivo. Se você deseja se inscrever e se tornar aluno do TransENEM nos próximos ciclos, pode enviar um email ou entrar em contato pelas redes sociais.
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