Escolas em tempo integral realmente ajudam no desenvolvimento dos alunos?
Como o próprio nome indica, as escolas em tempo integral mantém os alunos por mais tempo nas unidades. Além do estudo regular, elas também oferecem projetos experimentais e atividades extras de acordo com o interesse do aluno.
Outro objetivo dos alunos ficarem mais tempos nas escolas é direcioná-los, com apoio de professores tutores, a atingirem seus objetivos profissionais. A carga horária pode chegar a até nove horas e meia diárias, diferente da rede regular, que tem a grade de pouco mais de cinco horas.
O município de São Paulo tem 489.951 estudantes em educação integral nas escolas municipais e nos Centros de Educação Infantil. Em todo o estado, a partir de fevereiro de 2021, o número de escolas estaduais nesta modalidade será de 1.064, de acordo com o Governo do Estado de São Paulo, atendendo mais de 500 mil alunos, que representarão 15% da rede estadual.
Para aderir ao programa as escolas devem seguir alguns critérios estabelecidos pela Secretaria da Educação. Entre eles estão: ter pelo menos mais de 12 salas de aulas e atender a uma comunidade com maior vulnerabilidade socioeconômica.
Em todo o país, escolas de ensino médio que aderiram ao ensino em tempo integral de 2017 para 2019 melhoraram sua nota no Ideb (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica) em 17,3%, enquanto as que permaneceram na jornada regular aumentaram em 9,7%. O levantamento foi realizado pelo Instituto Natura e pelo Instituto Sonho Grande e divulgado pelo Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira).
Ficar mais tempo na escola traz novas possibilidades, mas por outro lado também pode trazer algumas dificuldades aos estudantes e rede escolar.
O Ecoa ouviu professores com opiniões distintas, que trabalham ou já trabalharam nesses modelos em diferentes regiões de São Paulo e pediu para que comentassem o quanto essa lógica é realmente efetiva, as barreiras que podem ser encontradas na prática e os avanços e falhas observados em suas comunidades escolares.
Conheça quais são os argumentos de especialistas a favor e contra o modelo: afinal, escolas em tempo integral realmente ajudam no desenvolvimento dos alunos?
SIM
Mais foco em um projeto de vida
As escolas em tempo integral não focam apenas na base curricular, matemática, português e outras disciplinas, mas também no objetivo de vida de cada aluno.
Passando mais tempo na unidade escolar o estudante corre menos risco de se desviar do que realmente deseja e estará sempre orientado por profissionais que o ajudarão a encontrar esses caminhos com segurança.
Educação para a sociedade
É possível trabalhar aprendizados que dizem respeito ao convívio social, aceitação de pluralidades de ideias e outras atividades que vão ajudar no dia a dia prático do aluno durante e depois da escola.
O próprio ambiente diverso, cercado de outros alunos em todos os momentos do dia, ensina sobre a divisão do espaço e dos materiais com os outros de forma harmoniosa e auxilia na sociabilidade de todos os estudantes em um espaço seguro e supervisionado.
Mais atenção de professores e alunos
Estando mais tempo na escola os alunos podem imergir na cultura escolar, vivenciar experiências pedagógicas de forma
mais profunda e ter mais atenção dos professores que podem identificar dificuldades dos estudantes.
Entre algumas das percepções relatadas pelas fontes ouvidas sobre os estudantes que fazem parte do programa de ensino integral estão: melhor nível de atenção e aprendizado sobre divisão das horas do dia entre responsabilidade e lazer.
Atividades lúdicas estimulam coordenação e cognição
Mais tempo fazendo atividades como jogos, danças, xadrez, língua estrangeira e esportes melhoram a cognição, a coordenação motora, complementam a formação dos alunos de uma maneira holística e incentivam a prática de atividades físicas.
NÃO
Vagas são excludentes
Obviamente as escolas em tempo integral não têm horário noturno, isso acaba excluindo estudantes que precisam trabalhar durante o dia, geralmente para complementar a renda familiar, e não podem se matricular em escolas com essa jornada de ensino.
Dificuldade em fazer cursos extracurriculares
Apesar desse modelo de escola ter disciplinas e atividades que geralmente vão além da base curricular, os alunos ficam cerca de nove horas na unidade, o que impede que façam outro tipo de atividade ou cursos extracurriculares durante os dias úteis da semana.
Jornada mais cansativa
Ficar nove horas fora de casa é cansativo. Fontes ouvidas pela nossa reportagem disseram que alguns estudantes acham o tempo muito extenuante.
Sensação de confinamento
Há atividades que visam a sociabilidade em escolas que aderiram a esse modelo, mas nenhuma delas consegue replicar a sensação de circular pela cidade ou de estar em real contato com a sociedade fora dos muros da unidade. Alunos acabam 'criando um sentimento de confinamento'. Muitos têm vontade de trabalhar ou fazer outras atividades fora da escola e não conseguem.
Equipamentos não estão preparados
Algumas escolas que aderiram a esse plano de ensino não contam com anfiteatros ou espaços mais elaborados para essas atividades e apresentam limitações do ponto de vista estrutural.
Improvisações no ensino
Professores que já fazem parte do quadro, acabam improvisando para ministrar formações sobre objetivo de vida, música, cinema e outros temas nos quais não são especialistas. Faltam contratações de profissionais com qualificação ou formação nessas novas áreas exploradas para que possam contribuir com relevância na formação humana e profissional dos alunos.
Fontes: Eduardo José Moraes Júnior, professor de sociologia e filosofia, que já trabalhou em escolas da rede estadual em Diadema, de ensino regular e integral. Regis Marques Ribeiro, diretor da Escola Estadual Parque dos Sonhos (Cubatão-SP), que participa do regime de ensino em tempo integral e Amanda Marchini, professora de uma escola de ensino integral da Rede Municipal de São Paulo no bairro de Guaianazes. Marchini já atuou no cargo de Professor Orientador de Educação Integral por quatro anos.
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