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Conversa de Portão #14: "Sociedade brasileira se habituou à necropolítica"

De Ecoa, em São Paulo

20/12/2020 04h00

Para Allyne Andrade e Silva, superintendente adjunta do Fundo Brasil de Direitos Humanos, a sociedade brasileira se habituou a um nível de violência estatal característico de regime de exceção e a legitima em máximas do cotidiano.

"Nossa sociedade se acostumou a esse estado de sítio e confere legitimidade ao direito de matar do Estado brasileiro quando diz que bandido bom é bandido morto, que tem que matar mesmo ou quando minimiza a violência do racismo", diz a advogada e doutora pela USP (a partir de 20:09 do vídeo acima).

Andrade e Silva é a convidada do 14º episódio do Conversa de Portão, que trata da chamada necropolítica e suas manifestações na realidade atual do Brasil.

Muito difundido na atualidade, o conceito foi criado pelo filósofo camaronês Achille Mbembe e designa a política da morte exercida pelo Estado ao determinar quais corpos são descartáveis, ao matá-los ou deixá-los morrer.

Além da violência promovida por forças de segurança do Estado, a advogada destaca a omissão estatal em investigar as mortes provocadas pela polícia e em promover políticas sociais, cujo vácuo acaba resultando em mais mortes.

De outro lado, Andrade e Silva ressalta a atuação dos movimentos sociais, que atuam para romper com a normalização da violência estatal e chamam atenção para a prática da necropolítica.

"Eu acredito que os movimentos sociais empurram o Estado para cumprir seu papel, que é cuidar de vidas, permitir que as pessoas desenvolvam suas potencialidades", diz a advogada (a partir de 26:36 do vídeo acima).

Ela afirma ainda (a partir de 27:15 do vídeo acima) que "o que movimento negro, LGBT, dos povos indígenas e comunidades tradicionais têm feito é alargar o conceito do que significa ser humano" perante o Estado.

O Conversa de Portão é um podcast produzido pelo Nós, Mulheres da Periferia em parceria com UOL Plural. Novos episódios são publicados toda terça-feira. Este episódio teve produção de Carol Moreno, direção musical de Sabrina Teixeira Novaes, trilha sonora e edição de som por Sabrina e Camila Borges.