Johnny Hooker sobre LGBTQIA+ e trabalho: "Só precisamos de oportunidade"
A inserção de pessoas LGBTQIA+ no mercado de trabalho formal e o papel das empresas no processo de inclusão e fomento à diversidade foi o ponto de partida para o evento "Empregabilidade LGBTQIAP+", realizado pelo Pacto Global da ONU e pela consultoria [DIVERSITY BBOX] e transmitido por Ecoa na tarde de ontem (28). A programação fez parte das celebrações de 29 de janeiro, o Dia Nacional da Visibilidade Trans.
"A gente precisa botar essas pessoas no mercado de trabalho em condições seguras. A gente está vivo todos os dias do ano, a gente vai continuar vivo e resistindo, a gente só precisa de oportunidade", comentou o cantor Johnny Hooker, convidado para conduzir a abertura do painel. Ele foi, em 2018, campeão de igualdade na campanha ONU Livres & Iguais da ONU Brasil.
Para Hooker, o mundo está passando por uma série de mudanças que apontam para a diversidade, entre elas citou a nomeação pela Bélgica da primeira vice-premiê trans da Europa e a composição mais diversa do governo de Joe Biden. "O Brasil é um dos países mais diversos do mundo, chegou a hora de se amar como se é", disse ele, que esteve acompanhado de Angela Pires (Alta Comissariado de Direitos Humanos das Nações Unidas para os Direitos Humanos), Carlo Pereira (secretário executivo da Rede Brasil do Pacto Global), CV Viverito (ONG Out & Equal), Karina Lima (Sales Force). A conversa foi mediada por Pri Bertucci, CEO da [DIVERSITY BBOX], consultoria especializada em inclusão e diversidade.
Quais são os desafios?
Para CV Viverito, responsável por iniciativas globais da ONG norte-americana Out & Equal, o grande desafio é a discriminação. "Quando um currículo indica que a pessoa é LGBTQIA+ é menos provável que a empresa entreviste essa pessoa. Isso gera uma necessidade de esconder sua identidade e afeta a capacidade dessa pessoa de ser feliz e produtiva no trabalho, o que implica em ter menos sucesso na empresa", apontou.
Angela Pires, Alta Comissariado de Direitos Humanos das Nações Unidas para os Direitos Humanos, deu a ênfase à realidade da população trans. Ela apontou que muitas empresas, mesmo as que já estão envolvidas com projetos internos de diversidade, ainda não possuem políticas de inclusão para esse grupo. "Quando a gente fala de direitos humanos a gente está falando, também, sobre como as pessoas trans podem atingir o mercado formal de trabalho. É muito importante que as empresas estejam engajadas para a entrada dessas pessoas no mercado de trabalho, mas garantir também que elas continuem", disse.
Sobre segurança no ambiente de trabalho, ela ainda pontua que políticas como a adoção do nome social em e-mails e crachás, o uso de banheiros neutros e a criação de políticas de educação para diferentes recortes populacionais podem ser um primeiro passo e que não são ações difíceis de serem implementadas. "O medo do desconhecido é normal, mas a gente precisa enfrentar isso para as coisas melhorarem. Esse medo tem que ser superado porque ele está ultrapassado", disse Angela Pires. "Infelizmente acho que esse medo da diversidade vem do medo da diferença que dá a ideia de que a diferença é uma ameaça", completou CV.
Nós existimos e resistimos todos os dias do ano, não dá para abraçar uma campanha uma vez por ano. Tem que se criar um ambiente de trabalho seguro, ter oportunidades para prosperar. Qual a dificuldade? Precisamos nos atualizar e seguir o progresso
Johnny Hooker, cantor
Karina Lima, VP da Sales Force, considera-se aliada da causa e disse que é importante que, no processo de inserção de pessoas LGBTQIA+ no mercado de trabalho, haja um espaço de não julgamento mútuo para evitar que bloqueios de comunicação aconteçam dentro da empresa. "Como aliados, precisamos entender e encarar os desafios dentro das organizações, criar um ambiente corporativo que seja reflexo da sociedade", finalizou.
O que ainda pode ser feito?
Para CV Viverito, iniciativas como o painel do Pacto Global e o curso " Tudo o que você precisa saber sobre LGBTQIAP+", desenvolvido pela consultoria de diversidade [DIVERSITY BBOX], parceira do evento, já apontam para um avanço da diversidade no mundo corporativo. "Estamos em um momento histórico agora, mais e mais empresas estão dando grandes passos em direção à inclusão e trabalhando com a comunidade para identificar soluções de empregos sustentáveis", disse.
Mas o que ainda pode ser feito? CV diz que treinamentos e cursos para inclusão são um primeiro passo. "O que causa impacto, ainda, é quando os aliados defendem a diversidade e a inclusão. Isso traz uma nova dinâmica para conversa", completa. Para CV, outra medida é a adoção de uma linguagem que contemple todas as diversidades dentro da empresa. "A maneira como utilizamos a linguagem tem poder, o poder do respeito e do reconhecimento. Uma linguagem inclusiva fornece uma sociedade inclusiva". Entre as principais ações está o respeito aos pronomes adotados por cada indivíduo, como ela, ele e ile (escolha comum no Brasil por pessoas não-binárias, que não se identificam nem com o gênero feminino nem com o masculino).
Quando o Estado falha em políticas de inclusão, a iniciativa privada pode assumir esse protagonismo
Johnny Hooker
"As ações precisam sair do papel: ter grupos nas organizações que discutam diversidade, trazer isso para fora [da área de] Recursos Humanos, ter ambiente que invista no desenvolvimento e educação da equipe, adotar práticas inclusivas, isso além do investimento financeiro", pontua Karina Lima. Carlo Pereira, secretário executivo da Rede Brasil do Pacto Global, completou afirmando a importância das empresas que buscam ser mais diversas estabelecerem metas para alcançarem seus objetivos de diversidade. "A gente precisa sair do discurso", disse.
A iniciativa privada não é um corpo à parte da sociedade. As empresas têm que ter compromissos com os direitos das pessoas. Se você tem uma empresa, você tem uma responsabilidade cultural e social
Johnny Hooker, cantor
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