Investir em diversidade é meta de 97% das empresas brasileiras para 2021
A pauta de diversidade e inclusão (D&I) corporativa surgiu nos Estados Unidos, nos anos 70, como uma resposta das empresas aos protestos por direitos civis que mudaram o país na década anterior, como a segunda onda do feminismo, o movimento LGBTQIA+ e a luta da população negra contra a segregação, e ganhou o mundo através dessas empresas multinacionais.
Aqui no Brasil, mesmo após três décadas da pauta, o tema ainda não é amplamente discutido e temos muito a evoluir. Pelo menos é o que mostra a pesquisa sobre o cenário brasileiro de "Diversidade e Inclusão (D&I) nas empresas" lançada pela Consultoria Mais Diversidade e a Revista Você RH. Segundo a pesquisa, cerca de 65% das empresas brasileiras não possuem um programa de D&I estruturado, com estratégia e planejamento, realizando apenas ações pontuais, e apenas 28% têm uma área específica para o tema.
A análise foi realizada com 293 entidades, nacionais e multinacionais, de 34 países e 23 diferentes setores.
No Brasil, existe uma concentração excessiva de empresas multinacionais e de grande porte no eixo Sul-Sudeste, o que faz com que essas regiões discutam o tema em uma velocidade diferente. É o que nos diz Ricardo Sales, sócio-fundador da Mais Diversidade: "Se eu tenho estados com uma economia menos desenvolvida, com muitas empresas de perfil familiar, empresas menores, significa que o ritmo dessas regiões vai ser bem diferente desses grandes centros, que serão influenciados por esse contexto das empresas multinacionais".
Pequenas empresas, grande inclusão
Esse ritmo diferente, no entanto, não impede que pequenas e médias empresas, sobretudo das regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste, trabalhem os temas de diversidade e inclusão. Existem diversas formas de se fazer isso, como instruir os funcionários sobre as políticas da empresa, o que é ou não aceito, criação de rodas de conversa entre os funcionários e distribuição de cartilhas informativas. Investir em educação e comunicação é o melhor método para pequenos e médios empresários. Um dado animador da pesquisa é que 2/3 das empresas respondentes já possuem uma área ou responsável por D&I.
Já as grandes empresas contam com orçamentos que lhes permitem investir em áreas específicas de D&I ou em processos seletivos que priorizem mulheres, pessoas negras, pessoas LGBTQIA+ e pessoas com deficiência
"Essa pesquisa é um importante termômetro para as empresas brasileiras, porque agora sabemos em que patamar de D&I as organizações estão no país, de modo geral, e quais são os temas que devem ser priorizados para o fortalecimento da agenda nas empresas.", destaca Thiago Guarnieri Roveri, consultor sênior de diversidade e responsável pela área de pesquisas da Mais Diversidade.
Diversidade racial
Considerando a diversidade racial do Brasil, essa deveria ser uma questão prioritária a ser resolvida. A pesquisa mostra que mais de 33% das empresas consideram a pauta racial como o principal desafio em diversidade e inclusão.
Nesse sentido, algumas empresas se movimentam para dar respostas positivas e concretas, caso da empresa de aço ArcelorMittal Brasil.
"A ArcelorMittal aderiu à Coalizão Empresarial para Equidade Racial e de Gênero. O fórum estimula a promoção da diversidade e da equidade racial no mercado de trabalho. Além disso, a empresa trabalha a temática em campanhas de comunicação para reforçar a necessidade de combatermos o racismo. O Grupo de Afinidade de Diversidade Racial conta hoje com cerca de 220 voluntários e aliados. Em 2019 e 2020, registramos dois importantes acontecimentos no nosso quadro executivo, onde passamos a ter o primeiro vice-presidente negro na história da ArcelorMittal Brasil, Erick Torres, que atua na unidade de Tubarão, e a primeira mulher diretora de unidade industrial, Tatiana Nolasco, no comando das unidades da Sul Fluminense." diz Marina Soares, Diretora Jurídica, Relações Institucionais e Sustentabilidade e responsável pelo Programa de Diversidade & Inclusão da empresa.
Uma surpresa positiva foi que mesmo em um cenário de pandemia, que incluía ainda crise sanitária, econômica e política, 97% das empresas pretendem manter ou aumentar seus investimentos em D&I para 2021.
O tema sempre enfrentou resistências no Brasil, um país que historicamente nega seus preconceitos, mas estamos em um importante momento de virada. Essas empresas sabem disso e têm caminhado para que a diversidade e inclusão no meio corporativo deixem de ser ações pontuais e virem uma responsabilidade do negócio.
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