Empreendedores refugiados contam como construíram negócios no Brasil
Se empreender pode parecer difícil, imagine fazer isso após chegar a outro país. "Quando comecei foi por acaso. Comecei a cozinhar refeições na feira porque não arrumei emprego como engenheiro", conta o hoje chef Anas Rjab, que mora há seis anos no Brasil, nasceu na Síria, mas morava na Líbia quando se viu obrigado a emigrar.
Foi para facilitar a vida de profissionais refugiados, como Anas, que querem abrir ou já tem um negócio no Brasil que surgiu a plataforma Refugiados Empreendedores, desenvolvida pela Rede Brasil do Pacto Global da ONU e o Acnur (Agência da ONU para Refugiados) e lançada ontem (10), em evento transmitido por Ecoa.
Além de Anas, as venezuelanas Rosa Paulina Bravo Henriquez e Jacqueline Esther Rodriguez Diaz compartilharam suas experiências no Brasil e quais estratégias adotaram para driblar os desafios adicionais impostos pela pandemia do coronavírus.
"Pessoas refugiadas estão empreendendo muito no Brasil, viram no empreendedorismo uma forma de gerar renda, mas empreendedores têm várias necessidades de apoio e foi isso que nos levou a criar essa plataforma", explicou Jose Egas, Representante do Acnur.
A ferramenta conta com um mapeamento de empreendimentos de várias categorias como gastronomia, artesanato, moda, cosméticos, entre outros, que você pode encontrar na sua cidade. Além disso, há a possibilidade de filtrar por origem dos empreendedores. Por exemplo, se você é de Manaus e quer comprar um artesanato venezuelano você pode encontrar profissionais que ofereçam o que procura.
O chef Anas, por exemplo, não sabia cozinhar quando se viu sem uma colocação no mercado brasileiro. Ele ligou para a mãe e fez um intensivão de comida árabe. Após meses testando receitas até chegar no ponto que gostaria, não apenas de sabor, mas principalmente de conservação em um prazo de validade mais longo. Assim começou o Simsim Culinária, no Rio de Janeiro, que hoje faz vendas online com entrega de comida árabe para todo o Brasil, além de estar presente em padarias cariocas.
Já Rosa veio andando da Venezuela para o Brasil grávida de sete meses, ao lado do marido e do filho mais velho. "Foi muito difícil chegar num país com uma língua diferente e um bioma diferente, mas chegamos com muita vontade", lembra. Aqui, ela decidiu manter o estilo de vida que tinha na Venezuela e viajou todo Norte e Nordeste vendendo artesanato. Foi adaptando as técnicas e diversificando o trabalho que ela decidiu se instalar em Brasília e hoje, devido à pandemia de covid-19, vende seu trabalho por meio das redes sociais para todo o Brasil. "Meu coração só tem gratidão, muitas pessoas nos ajudaram, apesar de ser difícil, nunca me senti sozinha", conta.
Empreender na Venezuela tem um conforto porque você conhece a cultura, o idioma, você sabe como as pessoas compram. Aqui no Brasil era tudo diferente, a começar pela língua
Jacqueline Esther Rodriguez Diaz, proprietária da Publigráfica
Em seu país de origem, Jacqueline tinha se formado em educação e trabalhava em uma escola, além de possuir uma gráfica para compor renda. O primeiro passo para conseguir empreender por aqui foi dado pelo marido, que chegou ao Brasil alguns meses depois dela.
"Meu esposo trouxe da Venezuela uma parte da estrutura da gráfica que já tínhamos, ele queria vender para a gente ter um dinheiro, mas eu pedi para ele trazer para que a gente pudesse trabalhar aqui".
O restante da estrutura foi montado aos poucos, e o casal contou com ajuda de muitas pessoas nesse processo: de uma rede de mulheres empreendedores a novos amigos que doaram computadores para que pudessem começar a trabalhar. E deu certo. Jacqueline também tem vendido seus produtos pelas redes sociais e já sonha em empregar mais pessoas em seu negócio. "Minha gráfica ajuda novos empreendedores, esse é o meu diferencial", conta.
Além de conectar consumidores a esses e outras dezenas de profissionais, a plataforma oferece monitorias, cursos de empreendedorismo, dicas de acesso a créditos, capacitação e materiais para download. A ideia, contudo, não é só ajudar os empreendedores, mas incentivar empresas a inserir esses negócios em sua cadeia produtiva.
Para Barbara Dunin, diretora de relações institucionais da Rede Brasil do Pacto Global, os benefícios que as empresas podem ter ao contratar negócios de refugiados são: inovação, fidelização, exclusividade e adaptação.
Existe hoje no Brasil um setor empresarial mais sensível ao tema sustentabilidade. Faço, então, um convite às empresas para direcionarem sua cadeia para a contratação de pessoas refugiadas. É simples e é prático, e agora a gente tem um site para isso.
Barbara Dunin, diretora de relações institucionais da Rede Brasil do Pacto Global
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