Empresa de cosméticos sustentáveis triplicou faturamento em 2020
Dizem que a hora do banho é um bom momento para se ter grandes ideias. Na verdade, até a ciência já comprovou isso: momentos de relaxamento são terreno fértil para a criatividade brotar, segundo um estudo da Universidade de Illinois, nos Estados Unidos. O empresário Thiago Martini que o diga.
Com um MBA de logística e cadeia de suprimentos debaixo do braço, ele sempre trabalhou em centros de distribuição de multinacionais. Centros de distribuição podem variar um bocado, mas costumam ter algo em comum: são grandes e ficam distantes das regiões centrais das cidades. "Eles ficavam muito longe, o caminho do trabalho para casa era sempre o mais cansativo", lembra Martini. Para compensar o cansaço rotineiro, ele resolveu se dedicar a seus momentos de descanso, transformando a hora do banho em praticamente um ritual. Um puro caso de autocuidado, para usar um termo da moda.
Martini gostou tanto disso que, durante um banho, resolveu fazer cursos de saboaria e cosmética natural. Era para ser um hobby, mas acabou mudando sua carreira. Ele queria transformar o que aprendeu - o poder da aromaterapia, dos óleos essenciais e vegetais e a força do processo antiestresse de revitalização - em negócio. Era 2016 e Martini, cujo sobrenome já é um convite a um outro tipo de relaxamento, criou a Relax Cosméticos.
Martini testou e adaptou fórmulas e substituiu matérias-primas químicas por naturais com o objetivo de vender apenas produtos veganos. "Por exemplo, extratos de plantas na indústria tradicional são à base de propilenoglicol, que é derivado do petróleo. Nossos extratos são à base de propanediol, derivado do milho", diz. Os produtos, é claro, seriam embrulhados em embalagens biodegradáveis.
Beleza limpa
Trata-se de algo cada vez mais cobrado da indústria da beleza, uma vez que a maioria dos xampus, sabonetes e afins é feita com derivados do petróleo. Na França, já existe um selo de qualidade para produtos que respeitam o corpo e a natureza.
O problema não é só o conteúdo em si, mas o que o embala. Estima-se que a indústria da beleza fabrique 120 bilhões de embalagens por ano. Cada vez mais gente está disposta a parar de incentivar esse ciclo. Em 2019, uma pesquisa no Reino Unido mostrou que metade dos consumidores topam pagar mais para evitar embalagens plásticas.
Nesse cenário, surgiu a chamada indústria da "clean beauty", ou "beleza limpa", em que as fabricantes devem oferecer produtos sustentáveis de fato.
Trata-se de um mercado global que valia US$ 11 bilhões em 2016 e que pode dobrar até 2025, segundo um levantamento da consultoria Grand View Research.
Só nos EUA, 552 milhões de tubos de xampu vão para o lixo todo ano. Com os 30 mil xampus em barra vendidos desde 2016 pela Relax, por exemplo, a empresa diz que poupou mais de duas toneladas de plástico e 150 mil litros de água.
Expansão sustentável, um desafio
Entre as matérias-primas usadas na Relax, há óleos e manteigas vegetais, extratos naturais, ervas aromáticas e argilas. Produtos nacionais ganham preferência, por uma questão de coerência sustentável e logística. "Nosso óleo de patauá, a manteiga de murumuru e o açaí em pó, por exemplo, são adquiridos de uma empresa de extração amazônica sustentável", diz.
O crescimento do mercado de cosméticos naturais mostra que tem cada vez mais gente disposta a pagar mais para tratar o corpo e limpar a consciência - um xampu em barra da Relax custa R$ 45, com durabilidade para pelo menos 70 banhos. É mais que o dobro do valor de um xampu comum, que dura em média 50 banhos.
A empresa começou, em 2016, em uma quitinete de 33 metros quadrados. Hoje, são 40 funcionários. Ano a ano o faturamento dobrou, e em 2020 ela faturou três vezes mais do que em 2019, chegando a aproximadamente R$ 5 milhões.
O que foi um ano terrível para diversos setores da economia foi ótimo para empresas que, justamente, vendem conforto e bem-estar. Nos primeiros três meses da pandemia, a Relax enviava gratuitamente, em qualquer compra online, embalagens de álcool em gel. O plano de inauguração de lojas físicas foi revisto por causa da quarentena e do isolamento social, mas ainda assim ela abriu nove unidades em 2020. Na Black Friday, a Relax teve um aumento de 950% no faturamento em relação a um fim de semana comum. Para 2021, o plano é dobrar a produção - no ano passado, foram 150 mil itens fabricados.
Mas com o sucesso e a expansão, uma dúvida paira no ar e pode colocar em xeque toda a razão de ser de uma empresa como a Relax: como aumentar a escala de produção e garantir que a cadeia é sustentável de uma ponta à outra? Martini sabe disso. "O maior desafio da cosmética natural é o prazo de validade. Estamos estudando alternativas de conservantes naturais que possam ampliar a validade dos nossos produtos. Assim, continuaremos a garantir produtos frescos e manter a logística de abastecimento saudável." O plano é ousado, ainda mais em um mercado instável como o Brasil. Em 2018, a britânica Lush, uma das pioneiras na moda dos cosméticos veganos e em barra, fechou as portas no país. A onda do banho saudável e sustentável é crescente, mas ainda assim tudo pode ir por água abaixo.
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