Coletivo cria plano adaptado à realidade da Rocinha para enfrentar pandemia
Rocinha Resiste é um coletivo fundado em 2018 por Leandro Castro, Pedro Paiva, Magda Gomes e Michele Lacerda, em um contexto delicado. Com cerca de 100 mil habitantes à época, a Rocinha virou palco de uma disputa por pontos de drogas e o Estado interveio no local com o uso das Forças Armadas. "Naquele momento começamos a pensar o quanto nós, moradores, poderíamos discutir e refletir sobre temas pertinentes ao cotidiano da favela como saúde, saneamento básico, educação, segurança pública, a questão do acesso à água, as condições de moradia", conta Leandro, de 25 anos.
Em 2019, depois de sofrer com fortes chuvas na comunidade, o coletivo saiu do lugar de discussão para passar a ter uma ação efetiva na região. E com a chegada da pandemia da covid-19 não foi diferente. "Colocamos nossos corpos negros nas ruas para pensar em formas de criar medidas de combate da covid-19 aqui na Rocinha", conta o assistente social e pesquisador. O Rocinha Resiste foi cobrar políticas públicas efetivas para a favela. "Começamos a questionar o plano de enfrentamento municipal e estadual da doença quando a gente percebeu que aquele documento não contemplava a realidade das favelas".
Em uma articulação com a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), a Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio) e a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), além de lideranças comunitárias e movimentos sociais de outras comunidades, criaram o Plano de Enfrentamento da Covid. O documento visava o atendimento médico, a prevenção e o apoio social, levando em consideração a especificidade de cada comunidade. Na Rocinha, as famílias foram mapeadas junto ao CRAS (Centro de Referência de Assistência Social) e a equipe do posto de saúde Dr. Albert Sabin, que os acompanhou durante todo o processo.
O coletivo organizou ações de comunicação, colocando faixas na comunidade com instruções sobre como prevenir o contágio e com palavras de ordem exigindo água, o elemento essencial para prevenir a doença que faltava na comunidade. "Enquanto a grande mídia falava de lavar as mãos, na Rocinha sequer tinha água". Carros de som circulavam diariamente emitindo todos os cuidados necessários para a população.
Ao mesmo tempo, o coletivo organizou diversas lives em redes sociais para falar sobre a situação da Rocinha e ministrou cursos online em parceria com o Instituto Moreira Salles e o Fala Roça, mídia comunitária, sobre a covid-19 sob diversos aspectos, olhando para mulheres negras, olhando para as famílias que estavam em situação de maior vulnerabilidade.
Em outro momento, com cerca de 150 voluntários, o coletivo chegou a distribuir cerca de 6,5 toneladas de alimentos, 45 litros de produtos de limpeza e 5 mil máscaras em uma campanha com ajuda de vários setores da sociedade, artistas, outros coletivos, pessoas ligadas a empresas e os próprios moradores.
Atualmente, o Rocinha Resiste trabalha somente com conscientização em seu perfil no Instagram, devido ao alto risco de contágio com a nova onda da pandemia. "Estamos discutindo perspectivas de retorno de uma campanha, mas a gente quer mudar um pouco a logística e se colocar neste lugar de cuidado porque foram nossos corpos que foram para rua, trabalhamos com voluntariado se colocando em risco para poder diminuir o impacto da covid-19", diz Leandro.
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