Como a extinção das abelhas coloca em risco o futuro da humanidade?
Não é fácil observar uma abelhinha e imaginar que a existência de toda humanidade esteja diretamente relacionada àquele singelo ser. O mel, com importância alimentar e medicinal, é apenas coadjuvante, produzido por uma pequena minoria das mais de 20 mil espécies de abelhas existentes. A maior parte desses insetos nem colmeia forma, solitários a maior parte da vida.
É no persistente pular de flor em flor, em busca de pólen e néctar, que as abelhas atuam na manutenção dos ecossistemas. "Nos climas tropicais, as florestas dependem em grande parte da presença das abelhas como polinizadoras", afirma Betina Blochtein, bióloga da PUC-RS.
Por que as abelhas são tão importantes?
Ao longo da evolução, os vegetais desenvolveram diversas formas de se reproduzirem. Alguns conseguem se autopolinizar, outros utilizam o vento, a água, ou a gravidade para carregar os grãos de pólen entre as flores. Porém, contar com ajudantes se mostrou mais eficiente.
Das mais de 308 mil espécies de plantas conhecidas, 87% depende do intermédio de outro ser vivo para a reprodução. Nos trópicos, esse número sobe para 94%. Apesar de aves e morcegos desempenharem, também, esse papel, moscas, vespas, e demais insetos são fundamentais para a reprodução dos vegetais. Principalmente as abelhas, mais eficientes polinizadoras e únicas especialistas, por se alimentarem exclusivamente de néctar e pólen.
Elas determinam a reprodução das plantas e, assim, quais vão dominar a paisagem. A frutificação dessas espécies afeta outros animais, como aves e mamíferos, que se alimentam e dispersam sementes. Forma-se, assim, uma grande rede em que as abelhas são elementos centrais.
Qual impacto para o ser humano?
"Muitas árvores dependem das abelhas. Se o sucesso reprodutivo diminuir, a vegetação vai mudar. A floresta vai ser substituída por uma vegetação mais herbácea", afirma a bióloga. "Elas coevoluíram juntas, em relações muito estreitas. Se falta abelha, as plantas sofrem, e o inverso é verdadeiro."
Em pequena escala, essa vegetação mais pobre altera o regime de evaporação, o padrão de chuvas, e todo o microclima da região. Em larga escala, tem reduzida a capacidade de armazenar carbono, e contribui ativamente para o agravamento da crise climática.
"O sistema vai ficando mais enfraquecido, mais caótico, e acaba por mudar todas as relações entre os organismos", explica Blochtein. "Repercute na vida do ser humano, naquele ambiente e na terra como um todo."
Qual a importância das abelhas para a agricultura?
Como dependemos das plantas para nos alimentar, as consequências ficam ainda mais dramáticas. Dos 107 principais cultivos agrícolas, 90% são visitados pelas abelhas. Além do aumento de produção, flores polinizadas, em geral, têm mais sementes, melhor formato, sabor, durabilidade e valor nutritivo.
O valor anual dos serviços ecossistêmicos prestados à agricultura no Brasil foi calculado em 12 bilhões de dólares. Quase 50% das culturas têm dependência essencial ou grande de polinizadores. Na soja, principal produto agrícola brasileiro, o aumento de produtividade promovido pelas abelhas é apenas moderado e, ainda assim, avaliado em 5 bilhões de dólares. O benefício ao agronegócio não muda o fato de o agro ser o principal responsável pela mortalidade das abelhas.
O que está matando as abelhas?
"A expansão agrícola avança sobre florestas, e destrói os habitats", afirma Ana Assad, diretora executiva da Associação Brasileira de Estudo das Abelhas (A.B.E.L.H.A).
Toda abelha, mesmo as solitárias, fazem ninho. Em plantios anuais, como soja e milho, o solo constantemente revolvido inviabiliza a formação dos ninhos. Áreas florestais próximas são essenciais para a conservação das abelhas, sem elas, as espécies morre. Sem contar os agrotóxicos, principalmente inseticidas, que afetam diretamente o ciclo de vida dos polinizadores.
Como salvar as abelhas?
Plantar um jardim de flores ou a criação de abelhas sem-ferrão em meio urbano, ajudam na conservação das abelhas. Mas somente políticas públicas que visem a conservação e regeneração ambiental são capazes de endereçar a gravidade da situação. A Plataforma Intergovernamental para Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos destacou dez diretrizes para auxiliar os governantes.
1 - Aprimorar os padrões regulatórios de pesticidas.
2 - Promover o manejo integrado de pragas
3 -Incluir efeitos indiretos e subletais na avaliação de riscos de culturas geneticamente modificadas.
4 - Regular o movimento dos polinizadores manejados entre os países.
5 - Incentivar agricultores a utilizarem serviços ecossistêmicos, como polinização, ao invés de agroquímicos.
6 - Reconhecer a polinização como um insumo agrícola
7 - Apoiar sistemas agrícolas diversificados.
8 - Conservar e restaurar os habitats de polinizadores
9 - Monitorar polinizadores a longo prazo
10 - Financiar pesquisas para intensificar práticas de agricultura orgânica, diversificada e ecologicamente correta.
Fontes:
- "Relatório Temático sobre Polinização, Polinizadores e Produção de Alimentos no Brasil" - Plataforma Brasileira de Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos (BPBES)
- "Agricultura e Polinizadores", publicação da A.B.E.L.H.A
- "Ten policies for pollinators"
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