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Após cumprir pena, ela insere egressas do sistema prisional no mercado

Karine Vieira, 37, criou a ONG Responsa, que capacita presidiários - Arquivo Pessoal
Karine Vieira, 37, criou a ONG Responsa, que capacita presidiários Imagem: Arquivo Pessoal

Priscila Gorzoni

Colaboração para Ecoa, de São Paulo (SP)

19/04/2021 06h00

O primeiro pensamento de Danielle Macedo Lopes, 33, quando saiu do sistema carcerário, após quatro anos privada de liberdade, foi que precisava fazer contato com a ONG Instituto Responsa. Como a maioria das 37,8 mil encarceradas do Brasil, Danielle estava sem rumo, desatualizada e sem capacitação para enfrentar o concorrido mercado de trabalho.

"Eu procurei a ONG, me inscrevi para o processo de capacitação, passei, me preparei para o mercado de trabalho, e logo consegui o meu primeiro emprego. Cheguei a trabalhar também com menores infratores, contando a minha vida e orientando-os", afirma Danielle.

De lá para cá, Danielle nunca ficou sem emprego, e, hoje, trabalha no projeto "Eu visto Bem", em que confecciona diversos materiais.

"Desde então, graças ao Responsa e a minha força de vontade, tenho um emprego. Procuro passar para as pessoas, que saíram do sistema carcerário querendo uma nova chance, um pouco da minha vida e experiência. Para alguns é a primeira oportunidade, porque sabemos como é difícil", diz Danielle.

Danielle - Acervo Pessoal - Acervo Pessoal
Danielle Macedo Lopes encontrou no Responsa apoio psicossocial e formação profissional
Imagem: Acervo Pessoal

Bicos

Assim, como Danielle, Naiara Mota, 30, buscou no Responsa apoio para conseguir empregos e se capacitar.

"O Projeto Responsa nos ajuda muito, já fiz três cursos lá, abre a mente. Agora, os meus planos são arrumar um emprego e sair da casa dos meus tios. Tudo na vida são consequências das nossas escolhas.", diz Naiara.

Naiara passou por maus bocados quando deixou o sistema prisional. Ficou um bom tempo desempregada, e passou a ganhar um dinheiro graças aos bicos de faxina que fazia. "Logo que saí, fiquei fazendo bicos. Moro com a minha tia, tenho um filho.", diz.

O Responsa

Karine - Acervo Pessoal - Acervo Pessoal
Karine Vieira fundadora do Instituto Responsa
Imagem: Acervo Pessoal

Quando Karine Vieira, assistente social, criou o Responsa, ela teve como base a sua própria trajetória. O Responsa é uma agência de impacto social, que visa inserir pessoas egressas do sistema prisional no mercado de trabalho.

"Nossos assistidos são acolhidos por nossa equipe psicossocial, recebem capacitação para inserção e acompanhamento pós-contratação. O Responsa nasce da minha história de vida. Eu sou egressa do sistema prisional, passei 15 anos no mundo do crime e escolhi mudar minha realidade em 2008. Precisava deixar um legado de amor e paz para os meus filhos", conta Karine.

Para começar o seu processo de transformação, a criadora do Responsa retomou os estudos em 2009, por meio de um supletivo e, nesse mesmo ano, prestou a prova do Enem. Em 2010 recebeu a notícia que havia conseguido uma bolsa de 100% na faculdade. E, assim, iniciou o curso de serviço social.

Em 2010 ela começou a trabalhar em um escritório de advocacia. Nessa época, teve contato com um grande administrador judicial até 2014. "Fiquei quase dois anos atuando no atendimento de adolescentes e jovens que infracionaram. Posteriormente assumi a coordenação da Agência Segunda Chance, em São Paulo, onde atuei até 2016. Em dezembro, o escritório fechou e eu continuei atuando com os atendimentos voluntários da maneira que conseguia, atendendo em parceiros e, às vezes, até na casa das pessoas", lembra Vieira.

Em maio de 2017, Karine conheceu as diretoras do Instituto Ação pela Paz e, por meio delas, a presidente do Instituto Humanitas 360.

"Essas pessoas me incentivaram a escrever um projeto meu, e a partir desse incentivo, eu escrevi o Programa Recriar e Inserir, principal programa da instituição", conta.

Karina conta que o programa tinha como base a recriação de hábitos, valores e a inserção de pessoas, que na maioria das vezes, nunca foram inseridas na sociedade. Atualmente, o maior desafio do Responsa está na obtenção de vagas. "A sociedade tem preconceito e desconhece a temática, bem como as dificuldades que permeiam a vida da pessoa egressa", diz Karine.