Ela doa máscaras que podem proteger milhões no país após covid na família
No final de março, Fabiana Richter, 33, saiu do hospital onde os pais estavam internados com covid-19 e percebeu um mundo diferente do lado de fora. Para trás, tinham ficado pessoas doentes, com dificuldade para respirar, enfileiradas em macas, intubadas antes de serem sequer internadas em uma UTI por falta de leito. "Eu senti que tinha que fazer alguma coisa", disse Fabiana para Ecoa.
Assim, ela buscou informações na internet e decidiu doar máscaras PFF2 na rodoviária de Brasília, cidade onde mora. O modelo é mais eficiente do que as máscaras convencionais, geralmente feitas de algodão. Fabiana desejou que a eficácia maior pudesse desconectar as duas realidades e impedir que passageiros e funcionários, espremidos em ônibus sem distanciamento social, conhecessem o cotidiano caótico de um hospital em uma pandemia.
A engenheira geóloga sentiu os primeiros sintomas do novo coronavírus em março e ficou de cama. Uma avó e os pais também foram infectados. O casal piorou a partir do décimo dia enquanto a avó se recuperava por ter recebido as duas doses da vacina.
A mãe foi internada em um hospital privado no mesmo dia que o pai foi intubado na UTI. Com os leitos lotados, a pesquisadora sentiu alívio por ter conseguido uma vaga para o pai, mas preocupada com o que poderia acontecer. Após quatro dias, ela recebeu um telefonema que dizia que o o pai havia sido extubado
O casal foi liberado após uma semana, mas a tensão permaneceu incômoda na mente de Fabiana. "Ali eu vi muita dor e muitas famílias não tiveram a mesma sorte", diz. Por isso, ela buscou informações na internet sobre como aumentar a proteção diante do vírus. "Primeiro, comprei uma PFF2 para mim e para minha família e doei umas cinco para as pessoas no ponto de ônibus", diz.
Mas afinal, como as PFF2 podem ajudar?
As máscaras PFF2 têm 98% de eficácia contra o novo coronavírus, segundo estudo do Instituto de Física da Universidade de São Paulo (USP). Por serem mais eficientes que as convencionais, há grupos que defendem a distribuição gratuita pelo Sistema Único de Saúde (SUS) enquanto a maioria da população não é vacinada contra a covid-19.
Com a ajuda de um alguns dos grupos organizados online, Fabiana Richter encomendou PFF2 para ela e sua família. "Comprei mais umas cinco e doei no ponto de ônibus", diz. A ação cresceu e ela inaugurou um financiamento para comprar e doar mais máscaras para quem passava na rodoviária. Nos primeiros dias, pôde encomendar 600 PFF2 para a doação. Pela internet, voluntários decidiram ajudá-la e imprimiram folhetos com indicações e a importância de usá-las. Parte dos folhetos foram doados por uma gráfica na região.
Segundo o físico e pesquisador da USP Fernando Morais, as máscaras PFF2 têm duas camadas de tecido por onde o vírus não passa. Já os modelos de algodão têm pequenos buracos entre a costura por onde o vírus tem entre 20% a 60% de chance de passar e ir para as vias respiratórias. O estudo analisou diversos materiais por meio de um microscópio. "Qualquer tipo de máscara já tem efeito benéfico contra o vírus", aponta o especialista. "Mas PFF2 é uma máscara que barra 98 de 100 partículas com vírus que possam entrar em contato com ela", diz.
Doação é um dos caminhos contra infecção
Nos primeiros dias, Fabiana precisou deixar bem claro que as máscaras eram gratuitas. Um dos funcionários da rodoviária enviou uma mensagem e avisou sobre a distribuição aos colegas cobradores e motoristas, que formaram fila para recebê-las. "Alguns até pediram para receber uma e dar para passageiros que não tinham", diz.
Grupos como "PFF para Todos", formado por voluntários, defendem que a ação de Fabiana poderia ser reproduzida no país e aumentar a proteção de milhares de brasileiros. Em nível federal, há um projeto no Senado que defende a doação de duas máscaras PFF2 para cada família do Bolsa Família, Auxílio Emergencial e demais benefícios. Os modelos PFF2 possuem autenticação do Inmetro, Secretaria do Trabalho (MTE) e/ou Anvisa.
Dá para comprar
Em um levantamento feito por Ecoa a partir dos dados do grupo, custaria cerca de R$ 106 milhões do governo para enviar duas unidades de PFF2 a cada uma das mais de 13 milhões de famílias do Bolsa Família. O valor das máscaras considera compras no atacado em kits com 100 máscaras de modelos com preços variados, das baratas (entre R$ 2 a R$ 3) às mais caras (acima de R$ 5).
Segundo Felipe Andrade, do "PFF para Todos", o valor poderia ser ainda menor com a redução de impostos dos fabricantes, o investimento em modelos de marcas mais econômicas e ainda licitações que considerem o melhor custo-benefício. "Há como baratear e muito em modelo licitatório", diz. Só em 2020, o governo federal investiu R$ 90 milhões em medicamentos sem eficácia comprovada contra o vírus.
"A ideia é que PFF2 seja para a Covid-19 e outras doenças respiratórias como o preservativo foi contra o vírus da Aids", diz Felipe, "como uma forma de controlar e diminuir a circulação de um vírus pandêmico para uma doença endêmica com mais controle".
Segundo ele, o Brasil possui capacidade de produção para produzi-las e torná-las em um item obrigatório. França, Áustria e Alemanha proibiram máscaras caseiras de algodão em espaços públicos, como o transporte.
A mobilização pessoal de Fabiana, em um único espaço, terminou com a doação de 2720 máscaras compradas a partir de doações feitas pela internet, e em apenas duas visitas à rodoviária em abril e se espalhou pelas redes sociais. A mãe recém recuperada, Karin Richter, a ajudou em uma das entregas. "Eu sinto uma desesperança com o governo", diz. "Então, o cidadão tem que tomar a frente".
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