Pesquisadora cria programa educacional com robôs para crianças autistas
A professora Catherine So Wing-chee, de Hong Kong, tem como missão ajudar crianças autistas a se integrarem melhor à sociedade. A sua metodologia, desenvolvida após anos de pesquisas no departamento de psicologia educacional da Universidade Chinesa, utiliza robôs para trabalhar a linguagem e o desenvolvimento cognitivo de meninos e meninas com idade entre 3 e 18 anos.
O programa educacional, criado por Catherine em 2015, chama-se Robot for Autism Behavioral Intervention (Robô para intervenção comportamental no autismo, ou RABI na sigla em inglês) e já ajudou mais de 1.200 crianças.
O grande objetivo é capacitar e desenvolver a confiança dos participantes para que eles consigam viver situações sociais com mais tranquilidade e também entender as questões emocionais que influenciam seus comportamentos.
Indignação que levou à ação
Um dos grandes motivadores para que a pesquisadora se envolvesse nesse campo de estudos foi a indignação que sentia ao ver crianças autistas sofrendo preconceito nas ruas de Hong Kong.
"Ainda há pessoas que discriminam essas crianças. Você pode ver em seus rostos. Quando as veem gritar, olham para os responsáveis como se dissessem: 'Por que você não ensina essa criança a se comportar?'", desabafou a pesquisadora em uma entrevista ao jornal South China Morning Post.
Para ensinar habilidades sociais, o atendimento terapêutico usa robôs NAO, já conhecidos por terem sido usados em pesquisas sobre autismo na França a partir de 2014. Com interface reprogramável, ele executa gestos específicos na pesquisa de Catherine, com movimentos das mãos ou da cabeça que facilitam a comunicação com as crianças, em conjunto com frases faladas comuns do cotidiano.
Os resultados dos trabalhos indicam que o uso de robôs na educação cria um ambiente de aprendizado encorajador para os participantes das atividades. Muse Wong, mãe de uma menina de 5 anos que está no programa há sete meses, disse à Reuters que as habilidades sociais e comunicativas da filha melhoraram muito. "Ela começou a ter algum grau de vida social", comemora.
Entre as expressões ensinadas estão raiva, fome e tontura. As crianças veem os robôs realizando os gestos e ouvem o contexto em que são usados, enquanto os imitam. Eles também podem ser usados para ensinar pontos de vista novos e fazer a narração de histórias por meio de dramatizações.
"Descobrimos que [depois do programa] as crianças passaram a usar os gestos em suas vidas diárias para expressar emoções e sentimentos", revela Catherine. Ela cita o exemplo de um garoto da Escola Hong Chi Morning Hill, que, antes, quando achava um ambiente barulhento demais, batia com a cabeça em superfícies. Agora, depois de aprender o gesto para mostrar incômodo com o barulho, ele tapa os ouvidos e diz que está muito barulhento.
Tecnologia facilitando a interação
De acordo com a pesquisadora, a habilidade dos robôs de quebrar as barreiras de comunicação para as crianças autistas também abre caminhos de aprendizagem e desenvolvimento que dificilmente seriam alcançados em uma sala de aula convencional.
Isso porque pessoas autistas enfrentam dificuldades no desenvolvimento de linguagens não verbais, que ocorrem naturalmente em outras crianças. "Esses indivíduos têm baixa motivação para interagir com os outros e hipersensibilidade ao mundo ao seu redor", explica Catherine.
A pesquisadora conta que a maneira como falamos, com entonações, expressões faciais e movimentos das sobrancelhas, espontâneos para quem não está no espectro, são identificados como repentinos e opressores pelas crianças autistas. Elas preferem padrões, previsibilidade, estrutura e rotinas. "Elas acham objetos, como brinquedos, menos opressivos. Os brinquedos não lhes impõem expectativas", avalia.
"Nós usamos esses robôs porque sabemos que as crianças os amam. Observamos que quando elas interagem com as máquinas realmente olham para elas e prestam total atenção", continua. Depois de interagir com os robôs, os pequenos são incentivados a experimentar suas habilidades sociais com um tutor humano.
Novo capítulo para o ensino
O sucesso do RABI resultou em várias parcerias: cerca de 20 instituições sem fins lucrativos financiadas por governos e escolas públicas em Hong Kong e Macau adotaram o programa, incluindo instituições especializadas em educação para crianças autistas.
Em 2020, com a covid-19, o RABI foi adaptado para ser aplicado em versões online e domiciliares. Até o mês de novembro, mais de 30 famílias já tinham sido beneficiadas com o atendimento nessas novas modalidades, de acordo com o site do Fundo de Desenvolvimento de Inovação Social e Empreendedorismo (SIE Fund), de Hong Kong.
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