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Maioria dos jovens colocaria vacina como prioridade se fossem governantes

Samuel Emílio, coordenador de projetos da Imaginable Futures na América Latina, mediu debate do Festival Atlas das Juventudes - Divulgação
Samuel Emílio, coordenador de projetos da Imaginable Futures na América Latina, mediu debate do Festival Atlas das Juventudes Imagem: Divulgação

Giacomo Vicenzo

Colaboração para Ecoa, de São Paulo

12/06/2021 11h50

No terceiro e penúltimo dia do Festival Atlas das Juventudes, os debates trouxeram temas como, pandemia, a importância da inclusão produtiva e juventudes negras, que apresentaram dados do estudo Atlas das Juventudes, que foi usado para orientar todo o bate-papo.

Entre os apontamentos, logo no início do primeiro debate, Marisa Villi, pesquisadora da Rede de Conhecimento Social, expôs números que mostram o engajamento político dos jovens e o senso de prioridade pela vacina. "Perguntamos o que fariam se estivessem no lugar de governantes e 50% respondeu que a prioridade seria a vacina contra a covid-19 para todos e em segundo lugar nesta lista de prioridades estaria o fortalecimento do SUS", comentou Villi.

Para 72% dos jovens a situação da pandemia irá influenciar a forma como votarão em futuras eleições e 52% acreditam estar mais atentos sobre política. Sobre as intenções de voto, 86% afirmaram que pretendem votar nas eleições de 2022, de acordo com o estudo.

A pesquisadora dividiu a mesa 'Juventudes e a Pandemia', que trouxe 10 dos mais de 68 mil jovens, que foram ouvidos na amostra do estudo, que buscou pesquisar juventudes com realidades e visões distintas. "Fizemos um processo de construção de muitas mãos e o próprio público pesquisado é norteador desse conhecimento", explicou a pesquisadora.

O debate também deu rosto aos dados, que apontam que 43% dos jovens já pensaram em parar de estudar em 2021 [em 2020 a porcentagem era 28%] e 3,5% trancaram ou cancelaram suas matrículas. Essa é a realidade de Thais Duarte, 22 anos, Mossoró - RN, que participava do debate. "Fui uma das jovens que trancou a universidade. O mais difícil é conciliar emprego e estudo, consegui uma vaga e optei pelo trabalho, pois precisava de uma renda em casa, além de não ter concentração para estudar por estar muito cansada e a aula remota é muita ampla", comentou.

A mesa também levantou dados de saúde da juventude brasileira, que mostrou que apesar de o jovem estar atento aos cuidados pessoais, de 10 pesquisados apenas três fizeram consultas de rotina durante a pandemia de covid-19. "Isso mostra que pelo menos 70% dos jovens não sabem o seu real estado de saúde", alertou o estudante da área da saúde João Guilherme Medeiros, 19, de Cuiabá -MT, que integrou a amostra do estudo e participava da mesa.

A jovem Alice Bezerra, 20, de São Sebastião do Umbuzeiro (PB), compartilhou um relato pessoal e explicou sobre a sua iniciativa de criar uma roda de conversa online entre jovens para conversar e desabafar sobre saúde mental: "Me considero uma jovem vulnerável, que não tem condição para pagar um profissional [da área de saúde mental], então nos juntamos e debatemos sentimentos. Liguei para uma colega por vídeo-chamada, nesse momento ela começou a chorar, pois estava pesquisando na internet formas de suicidar", revelou a jovem.

Jovens merecem mais que subempregos

Na mesa sobre inclusão produtiva, o debatedor Matheus Silva, assistente de programas, esclareceu o conceito desse tipo de inclusão e como os seus objetivos estão ligados a reduzir desigualdades sociais crônicas. "É a inserção de população pobre de maneira mais estável e duradoura para que se possa superar situações crônicas de exclusão social, sempre respondendo a um contexto social, que vai se modificando a partir do que é apresentado", apontou.

Para Wel Alves, coordenador do Global Opportunity Youth Network São Paulo [programa global articulado no Brasil, que tem como missão impulsionar a agenda de inclusão produtiva para as juventudes de São Paulo], é preciso incluir jovens para que tenham mais expectativas de formação acadêmica e trabalho. "As vagas mais operacionais e que estão fadadas a desaparecer pela automação, como operadores de telemarketing, na maioria das vezes são ocupadas por jovens da periferia", alertou.

Já Nathália Arruda, que conduz o projeto Corporativo para Pretos, que dá dicas e palestras sobre capacitação de mercado, trouxe uma situação pessoal de sua família à mesa para exemplificar os desafios da inclusão produtiva e as lacunas ainda existentes, como no Programa Jovem Aprendiz.

"Meu sobrinho saiu de uma posição do estoque para ser vendedor e em algum momento foi desligado da empresa. Por que não continuar desenvolvendo esse jovem até que chegue no processo de gestão? Não podemos como sociedade aceitarmos conviver com jovens apenas em subempregos", apontou Arruda.

E completou sobre a necessidade de se criar redes de apoio: "Networking é conectar pessoas que têm necessidades, pode ajudar indicando uma vaga, uma formação ou às vezes pagando uma conta. Esse é o pensar comunitário, se eu estou em uma posição de excesso preciso entender como ajudar alguém que está em uma posição de falta", disse Arruda.

Também participaram da mesa Rafael Biazão, membro do Conselho Nacional da Juventude e Yasmin Vieira, embaixadora e pesquisadora do Global Opportunity Youth Network São Paulo, que mediou o debate.

No debate Juventudes Negras, o jornalista Jefferson Barbosa, integrante do PerifaConnection, falou sobre os efeitos do racismo estrutural e marcou com fala forte sobre a sensação da juventude nos tempos em que vivemos. "Estamos em um momento histórico em que a maioria da população é jovem e negra, mas sofre muita precarização, trabalhando em empregos de aplicativos de comida e transporte. Nossa geração não consegue ter perspectiva de vida, olhamos para o futuro e não nos vemos como algo valoroso, não só para gente, mas para sociedade", disse.

"Mas não podemos perder o tesão da vida, no que a gente faz, precisamos garantir que os jovens fiquem vivos. O movimento não é só a academia, a Coalizão Negra [por Direitos], mas é o baile funk, a igreja e o terreiro. Precisamos olhar para os nossos semelhantes e conseguir trocar, sem deixar de cobrar o papel da branquitude e de quem faz a manutenção do racismo", completou Barbosa.

A pedagoga e professora Helena Rosa da Rede Nacional de Ciberativistas Negras cravou: "O que está acontecendo com nossa juventude preta? Não estamos conseguindo sobreviver! O primeiro direito que nos é negado, é o direito à vida, o genocídio nos atinge no ventre", disse Rosa.

A professora expressou indignação e pediu justiça pela morte da jovem que estava grávida, Kathlen Romeu, de 24 anos, que foi baleada durante operação da Polícia Militar no Complexo do Lins, no Rio de Janeiro.

Também participaram da mesa Marcone Ribeiro, Secretário Executivo de Juventude do Recife e Samuel Emílio, coordenador de projetos da Imaginable Futures na América Latina [fundo internacional de filantropia que atua no setor de educação, nos EUA, na América Latina e na África], que mediou o debate.

Nos intervalos entre as mesas o palco recebeu os artistas: Wera MC, com seu rap em guarani que fala sobre os povos originários, tradições e sua comunidade, os versos da poetisa e escritora Midria Pereira, autora da obra 'A menina que nasceu sem cor' e a banda Tuyo, com batidas que mesclam pop, folk e eletrônico, que fecharam a noite.

Acompanhe o último dia do Festival Atlas das Juventudes

Veja abaixo o que rolou na íntegra do dia 11 e acompanhe a partir das 14h o último dia de festival, que é transmitido aqui em Ecoa, e tem em sua programação mais uma série de debates, saraus, after com games e bate-papo com a colunista de Splash Andreza Delgado e apresentação do funkeiro Mc Marks, que conversou com a gente no início da semana.