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"Quando um jovem deixa de sonhar perdeu tudo", diz estudante

Iago Montalvão Oliveira Campos, presidente da União Nacional dos Estudantes e aluno do curso de economia da USP, foi um dos convidados do festival - Divulgação
Iago Montalvão Oliveira Campos, presidente da União Nacional dos Estudantes e aluno do curso de economia da USP, foi um dos convidados do festival Imagem: Divulgação

Giacomo Vicenzo

Colaboração para Ecoa, de São Paulo

13/06/2021 06h00

"Eu sempre fui sonhador, e é isso que me mantém vivo", disse Mc Marks em sua apresentação ontem (12), último dia do Festival Atlas das Juventudes. A frase célebre dita pelo funkeiro é do rapper Mano Brown do grupo Racionais Mc's, de quando o som do grupo dominava todas as periferias de São Paulo.

Os sonhos são e sempre foram combustíveis eficientes para gerações atuais e passadas de jovens, sobretudo para os das periferias, e foram tema na mesa "Educação e evasão escolar". "A maioria dos jovens não pretende fazer o Enem ou não sabe se vai fazer, isso é falta de perspectiva e de sonhar. A pior coisa que pode acontecer a um jovem é que ele deixe de sonhar, porque quando deixa de sonhar perdeu tudo", cravou Iago Montalvão Oliveira Campos, presidente da União Nacional dos Estudantes e aluno do curso de economia da USP, que integrou o debate.

A mediadora do bate-papo Wel Monteiro, presidente do Movimento Mapa Educação e conselheira nacional da juventude, trouxe dados importantes dessa falta de perspectiva da juventude brasileira em meio ao cenário de crise da pandemia de covid-19. "45% dos jovens em idade de fazer o Enem não pretende fazer; 57% pensou em desistir da prova; e 29% não sabe se irá participar. São números alarmantes, são jovens que há dois anos iriam prestar o exame e agora não irão, não conseguem pensar em um amanhã melhor", analisou Monteiro.

Os dados fazem parte do levantamento Atlas das Juventudes, que traz um compilado de dados e pesquisas sobre a população jovem de 15 a 29 anos de todo o Brasil, e que foi lançado no Festival Atlas das Juventudes, com programação repleta de atrações artísticas e debates durante quatro dias.

O debate também apresentou dados preocupantes sobre a evasão escolar. Marina Damascenolíder, líder de projetos de pesquisa e monitoramento de impacto na Oppen Social, provocou uma reflexão sobre o futuro: "Como fica nosso projeto de país no cenário internacional com 40% dos alunos brasileiros evadindo? É algo muito sério e que as pessoas não estão encarando da forma como precisaria ser encarada", disse.

E compartilhou uma comparação sobre a educação brasileira com outros lugares do mundo: "Vários países já reabriram escolas. Não estou defendendo que a gente abra aqui agora, mas não está ocorrendo um diálogo sério sobre a reabertura. Vemos shoppings e restaurantes abertos, a partir disso entendemos qual a prioridade do nosso país", completou.

Também participaram da mesa o jovem Leléu, que auxilia na preparação de jovens no curso pré-vestibular Responsa e Salvino Oliveira, secretário especial da Juventude Carioca (JUVRio).

Ativismo climático precisa chegar às margens

Na mesa meio ambiente e clima, mediada por Amanda Costa, ecofeminista antirracista e liderança #Under30 da Forbes, o destaque foram os desafios enfrentados para levar a pauta do clima para as margens das cidades e para os jovens excluídos socialmente, que vivem realidades distintas.

A ativista Ana Rosa Cyrus, coordenadora geral do Engajamundo e mestranda em gografia pela PPGG/UEPA (Programa de pós-graduação em geografia da Universidade do Estado do Pará), alertou sobre a necessidade de a luta climática sair dos ambientes centrais e dialogar de forma real com as realidades de jovens periféricos, indígenas ou do campo, se adaptando ao que esses realmente vivem.

"O movimento climático luta por esses ambientes excluídos? Ou luta por um ambiente branco e racista? Essas pautas precisam ser interseccionadas e surgirem realmente a partir do que vivemos, porque esses ambientes estão sendo engolidos neste momento. Nosso movimento climático não pode ser uma forma de compactuar com o poder", pontuou.

"Somos ativistas climáticos, mas nossa luta chega onde? Ela chega à margem? E se chega, como estamos fazendo para trazer essas pessoas com a gente?", completou indagando a ativista.

Gabriel Santos, fundador do Jovens Pelo Futuro Xingu e ativista no Fridays for Future Brasil e Fridays for Future Amazônia, lembrou sobre a urgência dos jovens começarem a pensar no futuro. "Nós somos a primeira geração a sentir os efeitos e as últimas a fazer algo a respeito. A emergência climática é real e está aqui, é algo para agora e não para daqui 10 anos. Daqui a alguns anos não terá mais nada para protegermos, a juventude precisa se mobilizar", disse o também jovem Santos.

A mediadora lembrou que o meio ambiente é o futuro. "Quando pensamos em meio ambiente, pensamos no futuro, não é sobre abraçar árvores como alguma galera acha", provocou.

Sobre ser ativista, Santos simplificou o que é ser um ativista. "Um ativista começa aos poucos, começa de baixo, não precisa estar em organizações. Tudo começa com o questionamento sobre como deixar o mundo melhor para os nossos filhos", disse.

Também participou da mesa a jovem ativista Paloma Costa, pesquisadora na Clínica Jurídica de Direitos Humanos da UnB - Gabinete Jurídico para a Diversidade Étnica e Cultural.

Entre os intervalos dos debates o paulistano Tonyyymon, cria de Itaquera, zona leste de São Paulo, apresentou seus versos sobre vivências e problemas da periferia e os artistas F1delis e Naná Queiroz Brito pintavam um quadro no palco. O dia foi fechado com after da colunista de Splash Andreza Delgado, que conduziu um bate-papo com game em sua Twitch com artista multidisciplinar Mrclo Alexndr.

Assista novamente ou acompanhe o dia que perdeu

Acompanhe o resumo de tudo que rolou aqui em Ecoa e assista à programação do festival abaixo.

Dia 09 (quarta):
Abertura + Entrevista com Mc Marks "Festival Atlas das Juventudes tem Emicida, funk motivacional Quarta"

Dia 10 (quinta):
"Desenvolvimento sustentável é preocupação de jovens", diz pesquisadora.

Dia 11 (sexta)
Maioria dos jovens colocaria vacina como prioridade se fossem governantes